Analistas do mercado vêm revisando o tamanho da dívida da Americanas (AMER3) a cada semana. A estimativa sobre o passivo da varejista só aumenta e pode ser ainda mais alta do que o divulgado na semana passada pela própria companhia. O número dessa dívida, que estaria em astronômicos R$ 42,6 bi, foi revisado para um valor superior a R$ 48 bi, segundo informaram fontes à reportagem da agência Reuters.
A conclusão sobre a cifra a perder de vista do endividamento da Americanas deve sair no final março, disseram pessoas ouvidas pela Reuters.
A Americanas também atualizou o número de credores da empresa. O número, que era de 7720, subiu para 9460.
A companhia do varejo, que anunciou entrar em recuperação judicial em 19 de janeiro, uma semana após divulgar a descoberta de um rombo contábil de R$ 20 bi, tinha falado que o passivo, naquela época, estava acima de R$ 40 bi – embora especialistas já estimassem um número ainda maior.
A companhia tem de apresentar o relatório sobre as dívidas – calculada por especialistas em recuperação judicial e falência – até o dia 23 de março, 60 dias após o estabelecido pela Justiça. Fontes da Reuters disseram que o documento estaria adiantado.
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Proposta de pagamento irritou bancos
Enquanto apura essa cifra, a Americanas apresentou esta semana aos bancos – principais credores – uma proposta de pagamento. A varejista sugeriu uma capitalização de R$ 7 bilhões, vista como algo “péssimo e frustrante” pelas instituições financeiras.
Segundo a apuração do jornal Valor Econômico, a nova proposta da Americanas para os bancos consiste na capitalização bilionária feita pelos acionistas de referência Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.
Além disso, débitos de cerca de R$ 18 bilhões teriam de ser convertidos em ações e dívidas subordinadas — quando os pagamentos vão para o final da fila de um eventual processo de insolvência.
O processo de recuperação judicial da Americanas é um dos maiores da história nacional. A conversão da dívida de R$ 18 bilhões englobaria grande parte do que a varejista precisa pagar aos bancos.
Segundo o Valor, as instituições financeiras esperam um aporte de R$ 15 bilhões dos acionistas de referência. Como a proposta está bem longe desse referencial, os representantes dos bancos saíram frustrados do encontro e consideraram a ideia como algo “muito ruim”.
Uma das fontes do Valor disse que a sensação dos agentes econômicos é a de que não há um esforço da Americanas para se chegar a uma proposta aceitável. Outro interlocutor argumentou que a empresa caminha a passos largos para a falência.
Após a publicação da reportagem do Valor, a Americanas divulgou um fato relevante no qual confirmou a proposta apresentada aos bancos e detalhou a iniciativa:
- aumento de capital em dinheiro em R$ 7 bilhões (considerando o financiamento DIP);
- recompra de dívida em R$ 12 bilhões;
- conversão de débitos de cerca de R$ 18 bilhões, parte em capital e parte em dívida subordinaria;
Em 13 de janeiro, a empresa havia apresentado uma proposta de R$ 6 bilhões mais a conversão das dívidas. Na semana passada, a Justiça autorizou um empréstimo DIP de até R$ 2 bilhões, sendo que R$ 1 bilhão foi aportado emergencialmente pelos acionistas de referência.
Bancos querem quase 10% da fortuna de Lemann, Telles e Sicupira para negociarem crise na Americanas
A guerra entre os bancos e a Americanas (AMER3) seguiu a pleno vapor. Nesta quinta (16), os acionistas de referência Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira fizeram a proposta de uma capitalização de R$ 7 bilhões. Contudo, os bancos esperam um mínimo de R$ 15 bilhões, o que representa quase 10% da fortuna dos empresários.
De acordo com os dados coletados pelo Suno Notícias no ranking de bilionários da Forbes, atualmente, o patrimônio dos bilionários está avaliado nas seguintes cifras:
- Jorge Paulo Lemann e família: US$ 15,5 bilhões;
- Marcel Telles e família: US$ 10,5 bilhões;
- Carlos Alberto Sicupira e família: US$ 8,5 bilhões;
Dessa forma, a fortuna dos acionistas de referência da Americanas seria de US$ 34,5 bilhões, cerca de R$ 172,5 bilhões – 8,7% da fortuna dos empresários.
Americanas (AMER3) deixa bancos de lado e pede à Justiça para priorizar dívidas trabalhistas e PMEs
A Americanas (AMER3) pediu à Justiça para priorizar o pagamento das suas dívidas trabalhistas e dos débitos com pequenas e médias empresas (PMEs). Na quinta (16), a varejista disse que esses compromissos estão avaliados em R$ 192,4 milhões e os passou na frente dos compromissos com os bancos.
Em comunicado enviado à imprensa, a empresa explicou que as dívidas serão totalmente quitadas com os recursos do financiamento DIP realizado pelos acionistas de referência Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.
“A Americanas buscou essa solução por entender que sua recuperação judicial tem provocado efeitos socioeconômicos relevantes no funcionamento desses pequenos negócios e no ecossistema onde estão inseridos, muitos deles dependendo exclusivamente dos pagamentos da companhia e suas recuperandas, assim como no caso dos credores trabalhistas”, ressaltou a empresa.
A empresa lembra ainda que o valor total para a quitação dessas dívidas é bastante reduzido frente ao total de créditos da recuperação judicial.
No comunicado, a varejista argumentou que a aprovação dessa ideia pela Justiça “fortalecerá ainda mais os esforços para a construção de consenso para o pagamento dos credores inseridos na classe 3, em que estão listados os créditos mais expressivos, e que será apresentado na forma do Plano de Recuperação Judicial oportunamente”.