Camille Faria, ex-diretora de empresas como Oi (OIBR3) e TIM (TIMS3), topou o desafio de ser CFO da Americanas (AMER3) no momento em que a varejista passa por uma crise sem precedentes. A recuperação judicial da empresa de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira ultrapassa a cifra dos R$ 50 bilhões e a executiva admite que esse processo “é um cabo de guerra”.
O plano de recuperação judicial da Americanas foi apresentado à Justiça na última segunda (20) e, em entrevista à coluna Pipeline, do jornal Valor Econômico, a executiva detalha que o aporte de R$ 10 bilhões dos acionistas de referência será utilizado da seguinte forma:
- R$ 5 bilhões em duas modalidades de recompra de dívida financeira;
- R$ 3,5 bilhões no pagamento de fornecedores;
- R$ 1,5 bilhão na operação diária da varejista (empréstimo DIP de R$ 1 bilhão incluído).
“A companhia está tentando agir como um facilitador para fazer com que as duas visões se aproximem e eventualmente convirjam, num resultado que torne a companhia viável. É óbvio que existe um gap“, reforça.
Ao longo da sua trajetória profissional, Camille também participou da execução do plano de recuperação judicial da Oi e aponta as principais diferenças entre as duas empresas: “Como uma empresa de infraestrutura, a Oi tinha rede de cobre, fibra, telefonia móvel, um volume grande de ativos imobilizados com valor de liquidação importante. A diferença principal é que a Americanas é uma companhia asset light, com business menos resiliente, que sofre mais se a discussão se arrasta muito”.
“Todos os stakeholders entendem a urgência de uma solução porque o valor que pode ser extraído vem da geração de caixa. Se chegar numa liquidação, não há o que liquidar”,
Outra diferença é que, na Oi, não tinha um acionista dando apoio financeiro como no caso da Americanas, onde já colocaram R$ 1 bilhão com a empresa em recuperação judicial.
Americanas e o plano de recuperação judicial
Pelos dados disponíveis no plano de recuperação judicial da Americanas, a dívida atualizada ultrapassa os R$ 50 bilhões.
Dentro do plano, encontram-se propostas como a venda de bens que vão desde uma aeronave avaliada em mais de R$ 40 milhões até as unidades de negócios Natural da Terra e a participação no Grupo Uni.Co, negócio que abarca marcas como a Imaginarium.
“O plano será submetido pelo juiz aos credores, os quais têm um prazo de 30 dias para se reunirem em uma assembleia e votarem a proposta. Se aprovada pela maioria dos credores, as dívidas da empresa serão substituídas pelas novas condições acordadas. Depois disso, a Justiça acompanha o plano de recuperação pelos próximos dois anos. Ainda não há data marcada para a assembleia geral de credores”, explicam os analistas da Genial Investimentos Iago Souza, Vinicius Esteves e Nina Mirazon.
Por volta das 11h do Ibovespa hoje (22), as ações da Americanas eram negociadas em queda de 1,80%, ao preço de R$ 1,09. Nos últimos sete dias, o papel cresceu 5,83% — como as ações possuem valores baixos, qualquer oscilação positiva ou negativa torna-se acentuada em termos percentuais.
Contudo, a Americanas tem até 150 dias para convocar a assembleia de credores para a aprovação do plano de recuperação judicial.