Em um novo capítulo da guerra jurídica contra a Americanas (AMER3), o Bradesco (BBDC4) afirmou que a varejista foi palco de uma das “maiores fraudes contábeis da iniciativa privada”. Na Justiça, os advogados do banco também questionam a versão apresentada por Sergio Rial sobre a descoberta do rombo de R$ 20 bilhões na empresa.
“Hoje ninguém mais economiza palavras para dizer o que já era intuído, mas ficou óbvio: a Americanas foi palco para uma das maiores fraudes contábeis da iniciativa privada“, escrevem os advogados do Bradesco no documento obtido pelo jornal O Estado de São Paulo.
Na quinta (26), o Tribunal de Justiça de São Paulo havia aceito um pedido do banco e determinado a busca e a apreensão de e-mails de executivos e funcionários da varejista. Na sexta (27), a Americanas recorreu da decisão, e o time jurídico do Bradesco rebateu esse pedido da varejista.
No texto, os advogados dizem que é difícil acreditar na “historinha mal-ajambrada” de que Rial descobriu as inconsistências contábeis bilionárias em apenas nove dias na empresa, “num lampejo de genialidade numérica que nem o mercado financeiro está acostumado a ver”.
“É preciso muita credulidade para crer nessa insensatez”, diz a equipe do escritório Warde, responsável pelo jurídico do Bradesco no caso.
“Segundo tudo leva a crer, quem criou essas inconsistências – que se transmutaram em dividendos e bonificações -, foram os próprios executivos da Americanas, com a complacência ou até a determinação dos acionistas controladores [Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira]”, prossegue.
Nos autos do processo, a Americanas argumentou que o Bradesco não tem poder para solicitar as provas que pediu e questionou o fato do caso ser protocolado em São Paulo, sendo que o processo de recuperação judicial da Americanas corre no Rio de Janeiro.
“O Grupo Americanas não discorda, em momento algum, que os fatos que ocasionaram as inconsistência contábeis recentemente detectadas devem ser objeto de efetiva apuração. Mas a pressa, como diz o ditado popular, é inimiga da perfeição”, comenta a empresa.
Americanas na mira da CVM
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) anunciou na sexta (27) que abriu mais dois processos para investigar a Americanas. São desdobramentos de duas apurações iniciadas pela autarquia sobre a varejista. Um dos inquéritos trata de insider trading e outro sobre as inconsistências contábeis da companhia, que revelou em 11 de janeiro ter descoberto um rombo de R$ 20 bilhões.
Oito dias após divulgar o rombo bilionário, a Americanas entrou com pedido de recuperação judicial – aceito na Justiça -, declarando dívidas de mais de R$ 43 bilhões. A varejista estendeu a solicitação, também aceita, à Justiça do EUA.