Bancos credores da Americanas (AMER3) vão à Justiça contra liminar obtida pela varejista que suspendeu por 30 dias a execução do pagamento de dívidas. As informações foram publicadas em reportagem do site do jornal Valor Econômico.
O BTG Pactual (BPAC11) foi a primeira instituição a pedir a suspensão da execução de dívidas da Americanas. Á varejista tem créditos de R$ 1,9 bi com a companhia de varejo, segundo o Pipeline, site de negócios do Valor.
O pedido, porém, foi negado pelo desembargador de plantão Luiz Roldão Filho. A reportagem do Valor informa que outros bancos devem estrar na Justiça esta semana para pedir o fim do bloqueio da cobrança de dívidas.
A empresa declarou nas sexta ter dívidas de R$ 40 bi, dois dias após revelar ao mercado inconsistências contábeis de R$ 20 bi no balanço. A divulgação do rombo bilionário da Americanas levou à demissão do CEO da Americanas Sergio Rial.
Segundo o Pipeline, os bancos estão em conversas neste final de semana para tentar reverter a suspensão do pagamento de dívidas da Americanas. Querem ainda uma investigação sobre o rombo das Americanas.
A reportagem do Valor apurou que a Americanas tem uma total de R$ 18,5 bi em dívidas com os bancos. Podem concordar em adiar o pagamento desses valores, desde que os acionistas da empresa façam aportes na varejista.
Na visão do mercado financeiro, a exposição das instituições à companhia no futuro pode cair, com os bancos endurecendo condições para financiar a varejista à frente, diante da crise de confiança gerada pela descoberta de inconsistências contábeis de pelo menos de R$ 20 bilhões.
Fontes a par da negociação ouvidas pelo Estadão/Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, afirmaram que as instituições financeiras concordaram em rolar a dívida da Americanas. Os bancos foram consultados ao longo dos últimos dias sobre possibilidade.
Segundo o Broadcast, um diretor de um banco teria dito que a instituição “deu um respiro” à Americanas. Outro banqueiro teria comentado que a “sinalização positiva” está atrelada à “capitalização rápida de alguns bilhões”.
Para esse banqueiro, a 3G Capital, gestora que reúne o trio de sócios da Americanas, vai ter de participar para a oferta de ações sair. Os acionistas de referência da Americanas detêm 31,13% da companhia. São eles: Jorge Paulo Lemann – o homem mais rico do Brasil –, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Herrmann Telles.
Proteção judicial contra pagamento de dívidas
Na sexta (13), a companhia do varejo pediu e conseguiu na Justiça proteção contra credores que queiram antecipar o pagamento de dívidas. O juiz Paulo Assed, da 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, concedeu uma tutela cautelar para suspender vencimentos antecipados e efeitos de inadimplência da Americanas.
Após essa decisão, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) deu 30 dias corridos para a Americanas entrar com pedido de recuperação judicial. O processo corre em segredo de justiça e foi obtido pelo Estadão/Broadcast.
O pedido da Americanas se deu porque as inconsistências contábeis da ordem de R$ 20 bilhões comunicadas pela empresa podem levar ao vencimento antecipado de R$ 40 bilhões em dívidas, segundo alegação da varejistas ao TJRJ.
“Essas inconsistências, na avaliação das Requerentes, exigirão reajustes nos lançamentos da companhia, o que poderá impactar nos resultados finais divulgados nos respectivos exercícios anteriores, com alteração do grau de endividamento da empresa e/ou volume de capital de giro, implicando, por via reflexa, no descumprimento de “covenants financeiros” previstos em contratos, inclusive estrangeiros, acarretando o vencimento antecipado e imediato de dívidas em montante aproximado de R$ 40 bilhões”, consta na decisão do juiz sobre o pedido da Americanas pelo bloqueio de ativos para evitar pagamento de dívidas.
Para BTG, rombo bilionário da Americanas pode piorar, e ação entra em “quarentena”
O rombo na Americanas (AMER3) pode ser ainda pior do que os R$ 20 bilhões informados inicialmente pela varejista, na visão do BTG Pactual (BPAC11). Os analistas do banco retiraram as suas recomendações e colocaram o papel “em revisão”.
“Estamos alterando nossa classificação e preço-alvo da Americanas para ‘Em Revisão’ agora, enquanto aguardamos novos desenvolvimentos que possam melhorar nossa capacidade de avaliar o negócio”, destacaram os analistas do BTG Luiz Guanais, Gabriel Disselli e Victor Rogatis em relatório publicado na quinta (12).
Antes, o BTG Pactual tinha como preço-alvo das ações da Americanas o valor de R$ 29. Na quarta (11), as ações fecharam o pregão em R$ 12 e, na quinta (12), desabaram para R$ 2,72 devido ao escândalo contábil.
“Nosso entendimento é de que mesmo os R$ 20 bilhões em inconsistências estimadas são preliminares e, como as práticas contábeis aparentemente são comuns há muitos anos, pode levar algum tempo até que o comitê independente e os auditores externos cheguem a um número final que reflita com precisão o balanço e posição de alavancagem da Americanas”, destacaram.
O time do BTG também não descarta um cenário em que seja necessário injetar capital ou realizar outra fonte de financiamento adicional nos próximos trimestres.
A falta de visibilidade de quão rápido esses problemas serão resolvidos e a retomada das operações normais tornam difícil o investimento hoje.
Americanas: próximos passos
Sérgio Rial, gestor que assumiu a empresa no início do ano e deixou o cargo em menos de dez dias, atuará como assessor dos acionistas de referência (3G Capital) durante a apuração do caso. Na apresentação ao mercado, Rial evidenciou que a Americanas precisará do aporte de “alguns bilhões”.
A “inconsistência contábil” caiu como uma bomba no mercado e, na quinta (12), a empresa viu R$ 8,37 bilhões do seu valor de mercado virarem pó e encolheu 77,33% na bolsa de valores. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu três processos para apurar o rombo da Americanas.
Segundo o jornal Valor Econômico, a varejista estuda uma solução rápida para conseguir cobrir esse rombo e uma das possibilidades é uma oferta subsequente de ações (follow-on) com a garantia de compra de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, do 3G Capital. A decisão deve ser tomada nesta sexta (13).
Para os analistas ouvidos pelo Suno Notícias, o aporte do 3G Capital é visto como uma possível garantia de que a Americanas não declare falência.