A Ambev (ABEV3) deverá trazer boas notícias em seu balanço de resultados do quarto trimestre de 2023 (4T23) e dados anuais. Apesar disso, o mercado permanece cauteloso e acredita que não haverá números surpreendentes vindo da maior empresa de cerveja do mundo.
A opinião é consenso entre os analistas de sete companhias financeiras: Banco Safra, Bank of America (BofA), BTG Pactual (BPAC11), Genial Investimentos, Itaú BBA, Suno Research e XP.
No terceiro trimestre de 2023, a Ambev reportou um lucro líquido de R$ 4,015 bilhões, valor 24,9% superior ao registrado no mesmo intervalo de 2022 e 217% acima do lucro obtido no segundo trimestre de 2023. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado, por sua vez, foi de R$ 6,854 bilhões.
Os resultados do 4T23 da Ambev (ABEV3) estão previstos para divulgação na próxima quinta-feira, 29 de fevereiro.
O que impacta o resultado da Ambev para o 4T23?
Em suas análises, as casas levam quatro fatores principais em conta:
- Perda de benefícios fiscais;
- Mudanças no ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) com a reforma tributária;
- Alterações nas regras dos juros sobre o capital próprio (JCP);
- Economia na Argentina pressionada.
Com MP dos JCP, BTG estima queda nos lucros da ABEV3
A esse respeito, os analistas do BTG Pactual (BPAC11) estimam que a Ambev perderia cerca de R$ 1,8 bilhão em benefícios fiscais, aumentando sua taxa efetiva de 8,5% para 20,5%. Dessa forma, o banco reduziu para 2024 o Ebitda da Ambev (Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) em 2% e o lucro por ação de ABEV3 (EPS) em 14%.
“Mesmo no Brasil, onde a Ambev vem nos surpreendendo positivamente, a sensação é de que os volumes estão ameaçados com base em uma indústria menos vibrante e com maior concorrência”, afirmam Thiago Duarte e Henrique Brustolin do BTG.
Apesar disso, os analistas ressaltam que há espaço para uma surpresa positiva, que não está sendo contabilizada. “Ainda é incerto sobre o que a Ambev vai fazer se sua taxa efetiva subir tanto quanto estamos projetando. É possível que ela decida aumentar a alavancagem, e isso pode significar dividendos extraordinários e ainda mais crescimento. Nossas estimativas não assumem nada disso”, dizem.
BofA precifica abaixo do consenso, com crise na Argentina
Nessa mesma linha, o Bank of America posiciona o Ebitda da produtora com uma recuperação trimestral de 4,80% em relação ao ano anterior (4T22), com a estimativa de que a margem Ebitda deste ano chegue a 36,9% (+5%).
Para 2024 e levando em conta a depreciação do peso argentino de 330% em 2023, o BofA precifica o Ebitda da Ambev em 3% abaixo do consenso, com um total de 13% de crescimento em 2024. Caso se concretize, este desenvolvimento poderia superar a negatividade que a crise econômica dos “hermanos” trouxe para a companhia.
“Estamos otimistas para a recuperação de margem para a cerveja no Brasil em 2024, guiado pela deflação dos preços e desaceleração do SG&A [custos de vendas, gerais e administrativos, da sigla em inglês]”, confirmam os especialistas do BofA.
Genial destaca produção no Caribe e crescimento tímido na receita
A research estima que a fabricante de bebidas deve apresentar resultado sólido, com destaque para o pequeno crescimento da receita líquida e uma ligeira expansão de margens.
“Os principais destaques positivos devem vir, novamente, do Brasil e do segmento CAC (América Central e Caribe), enquanto os negativos do LAS (América Latina do Sul), em virtude do difícil cenário macroeconômico na Argentina, e do Canadá”, dizem os analistas em relatório
As projeções para o 4T23 revelam uma receita total da Ambev ancorada em R$ 23 bilhões, um crescimento anual de 1,3%, um Ebitda estimado em R$ 7,6 bilhões (crescimento de 6,8% a/a), e um lucro líquido projetado de R$ 4,5 bilhões, indicando um recuo de 12,8% a/a.
Para os analistas, as projeções se situam acima do consenso em termos de receita, mas com uma margem Ebitda ligeiramente menor.
Dados operacionais são otimistas, defende XP
A XP (XPBR31) afirmou diz estar otimista com os dados operacionais da companhia para o quatro trimestre de 2023.
Para o período, a XP Investimentos enxerga os volumes de vendas da Ambev mantendo altos níveis históricos, juntamente com preços mais baixos de commodities e um histórico positivo de aumento de preços acima da inflação nos últimos trimestres.
“No entanto, no aspecto fiscal, até mesmo uma abordagem conservadora nos parece equivocada”, reforçam os analistas Leonardo Alencar, Pedro Fonseca e Samuel Isaak.
Para a XP, a recuperação na produção de bebidas alcoólicas e não alcoólicas da Ambev que começou no 3T23 manteve a força no final do ano, e os dados de dezembro reforçaram a visão do banco de um quarto trimestre sólido.
Abaixo das estimativas, Itaú BBA foco em questões fiscais e Argentina
Os analistas do Itaú BBA revisaram para baixo as estimativas para o desempenho da companhia em 2024.
Mencionando as subvenções fiscais, mudanças no JCP, no ICMS e a dinâmica econômica na Argentina, o banco adotou uma abordagem mais conservadora em sua projeção.
Para o quarto trimestre de 2023, o Itaú BBA espera que o lucro líquido da Ambev seja positivo em R$ 13,7 bilhões, queda de 11% frente à estimativa anterior de R$ 15,4 bilhões. Para 2024, a projeção de margem Ebitda ajustada da Ambev é de 31,9% para 34%, enquanto a margem bruta subiu 1,1 ponto percentual, para 53,1%.
“Esperamos que a Ambev repasse preços próximos da inflação, buscando capturar o spread da deflação de custos e convertê-lo em lucratividade”, reforça.
Por fim, o banco enxerga a Ambev sendo negociada a um P/L de 15 vezes e 14 vezes para 2024 e 2025, respectivamente.
Na espera de um novo cenário de redução da dedutibilidade fiscal do JCP em análise, o banco projeta “um impacto negativo de 15% em nossa previsão de lucro por ação em 2024.”
Sem Copa do Mundo, Safra ressalta desfalque na receita da Ambev (ABEV3)
Em um ano sem Copa do Mundo, os volumes de cerveja da Ambev (ABEV3) devem ser -1% menores em relação ao ano anterior, segundo as projeções do Banco Safra. Com esses fatores em consideração, as receitas líquidas da Ambev projetadas são de R$ 11,381 milhões, representando um aumento de 5% em relação ao ano anterior.
Além disso, a empresa enxerga com bons olhos o volume de vendas em COGS/hl, que deve beneficiar a margem bruta do 4T23 e entregar um EBITDA ajustado previsto de R$ 4,382 milhões (+41% ante 4T22).
Somando as regiões, o Banco Safra estima que o EBITDA ajustado consolidado da Ambev atingirá R$8.347 milhões (+21%) com uma margem de EBITDA ajustada de 35,5%.
Apesar da comparação com um período de Copa ser difícil, o banco acredita que as vendas trimestrais no Brasil e na América Central e Caribe (CAC) podem trazer bons números.
Analista da Suno não espera grandes novidades para saldo de 2023
Com a divulgação dos resultados trimestrais da companhia se aproximando, não se espera que a Ambev tenha surpresas ao longo do ano, principalmente estando em um mercado bastante consolidado. A opinião é do analista CNPI da Suno Research, João Daronco.
Garantindo a sua exclusividade em mais de 150 blocos e nos carnavais de rua de São Paulo, por R$ 26,6 milhões, Rio de Janeiro e Salvador, a marca foca na festa nacional de forma estratégica, não focando apenas no lucro, mas na garantia de conhecimento da marca.
“A empresa não tem muito para onde crescer, então a ideia de obter exclusividade é bastante importante. Como o carnaval acontece no verão, há um consumo maior de bebidas geladas”, identifica Daronco.
Ambev (ABEV3): Comprar, manter ou vender? Veja 4 recomendações
Entre os relatórios e prévias sobre os resultados da companhia, algumas financeiras divulgaram suas recomendação.
O Bank of America (BOAC34) sinalizou “compra” para os papeis, com elevação do preço-alvo de de R$ 15,50 (US$ 3,00) para R$ 16,00 e US$ 3,20. O cálculo leva em conta a redução nos juros sobre capital próprio (JCP) da Ambev por questões regulatórias.
O BTG, por sua vez, tem recomendação “neutra” para as ações da Ambev, com preço-alvo a R$ 15,00.
Na mesma linha, a Genial recomenda manter ABEV3 na carteira de investimentos, com um preço-alvo de 12 meses de R$ 15,00.
O Itaú BBA também manteve recomendação “neutra” para as ações, reduzindo seu preço-alvo de R$ 17,00 para R$ 15,00.