Ambev (ABEV3): resultados mistos levantam dúvidas sobre 2025
A Ambev (ABEV3) divulgou resultados mistos no quarto trimestre de 2024, com um EBITDA ajustado de R$ 9,6 bilhões, superando em 12% a projeção do Itaú BBA, impulsionado principalmente pelo desempenho da América Latina Sul (LAS).
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Apesar do desempenho positivo dos negócios internacionais e de não alcoólicos (NAB), a divisão de cervejas no Brasil enfrentou dinâmicas desafiadoras, gerando preocupações sobre a competitividade da empresa no mercado doméstico, dizem os analistas.
Confira os principais pontos positivos do balanço da Ambev, segundo o BBA:
- O guidance de custo da cerveja no Brasil veio melhor do que o esperado, podendo favorecer projeções de EBITDA;
- Anúncio de dividendos no primeiro trimestre de 2025, que pode sinalizar uma reestruturação de capital no longo prazo;
- Resultados melhores do que o esperado na América Central e Caribe (CAC) e no segmento de não alcoólicos;
- Redução da exposição a hedge na Argentina teve efeito positivo nos resultados financeiros;
- EBITDA 14% acima do consenso do mercado.
Já os pontos negativos do resultado da Ambev, segundo o BBA, são os seguintes:
- Queda nos volumes de cerveja no Brasil (-3,9% ano contra ano), indicando um ambiente competitivo mais acirrado;
- O guidance de custos para 2025 não esclarece o impacto do valor presente líquido (NPV) de fornecedores, que pode ser compensado por maiores despesas financeiras;
- Sustentabilidade dos ganhos na América Latina Sul (LAS) ainda é incerta;
- Taxa de imposto no topo das expectativas, o que pode afetar a rentabilidade futura;
- Dividendos abaixo do potencial da empresa, sem gatilhos claros para grandes distribuições no curto prazo.
Desafios para a divisão de cervejas no Brasil
O EBITDA da divisão de cervejas no Brasil foi de R$ 4,3 bilhões, em linha com o consenso, mas com um recuo da receita líquida não visto desde o início de 2020, durante a pandemia. O volume de vendas caiu 3,9% no trimestre, abaixo das estimativas mais conservadoras.
Um dos fatores apontados para essa queda foi a estratégia da Heineken de adiar reajustes de preços para preservar sua posição no mercado, dificultando o repasse da inflação por parte da ABEV3.
Dados do IBGE indicam que a produção de bebidas alcoólicas no Brasil caiu 4,6% no ano, o que pode ter sido influenciado por mudanças estratégicas de concorrentes.
Por outro lado, o custo por hectolitro (cash COGS/hl) teve uma alta menor do que o esperado, com projeção de aumento entre 5,5% e 8,5% em 2025. Isso poderia beneficiar a margem, mas a influência da taxa de juros elevada e do impacto do NPV de fornecedores ainda precisa ser melhor detalhada pela empresa.
Resultados internacionais e não alcoólicos surpreendem
Enquanto a operação brasileira enfrentou desafios, os negócios internacionais e de não alcoólicos registraram desempenhos robustos, destaca o BBA.
O segmento de não alcoólicos apresentou crescimento de receita acima do aumento dos custos e despesas gerais e administrativas, surpreendendo positivamente. No exterior, a América Latina Sul foi o grande destaque, com EBITDA 36% acima das estimativas do Itaú BBA. No entanto, os volumes na região ainda caíram 7% no ano, o que levanta dúvidas sobre a sustentabilidade desse crescimento.
A operação no Canadá também apresentou crescimento de 24% na receita, impulsionada pela valorização cambial e pelo bom desempenho das marcas premium.
Dividendos e estrutura de capital
A Ambev anunciou um pagamento de dividendos de R$ 0,1276 por ação, equivalente a um dividend yield de 1,15% e 13% do lucro esperado para 2025. O pagamento será realizado em 4 de abril.
Embora positivo, o dividendo ainda está aquém do potencial da companhia e não representa um gatilho significativo para reavaliação do papel, diz o Itaú BBA.
Perspectivas e avaliação do Itaú BBA
O Itaú BBA mantém recomendação market perform (neutra) para as ações da Ambev, avaliando a ação ABEV3 a um múltiplo P/E de 12x para 2025.
Os analistas afirmam que, apesar da estratégia de portfólio da empresa parecer acertada no longo prazo, as discussões nos próximos trimestres devem se concentrar na dinâmica de receita e margem no Brasil. O ambiente competitivo contra a Heineken e a influência da inflação de alimentos no consumo também serão fatores-chave a serem monitorados, segundo o relatório.
Por outro lado, na visão do BBA, uma reestruturação de capital poderia ser um gatilho para a valorização das ações ABEV3.
Contudo, com a ausência de sinais concretos nesse sentido, a casa mantém uma posição neutra para a Ambev no curto prazo.