Com o início da venda de roupas e itens esportivos na Amazon Brasil, semana passada, a Amazon inicia uma nova fase de expansão no mercado nacional. Segundo especialistas, é o primeiro passo em transformar a Amazon em algo semelhante ao que ela já é nos EUA, uma “loja de tudo”.
Para se aproximar desse ideal, a Amazon precisa começar a vender no modelo 1P (ou seja, comercializar seus próprios produtos, ao invés de hospedar lojas de terceiros) eletrônicos, brinquedos, e itens de saúde e higiene pessoal. Essa é a opinião dos analistas Luiz Guanais e Fabio Monteiro, em relatório da BTG Pactual. Se os investimentos no país continuarem, é possível até mesmo que o programa de fidelidade Amazon Prime chegue por aqui, visto que ele já conta com mais de 100 milhões de assinantes lá fora.
Os números, no entanto, ainda não condizem com as ambições do colosso de Jeff Bezos. Apesar de estar próxima de chegar a ser uma das primeiras empresas a valer US$1 trilhão, depois da Apple, operar no Brasil vai ser um processo lento e tortuoso.
O cuidado com o Brasil é fruto das experiências da Amazon em outros países em desenvolvimento, que a ensinaram que a pressa não leva a bons resultados. Na Índia, por exemplo, a empresa teve de investir US$5 bilhões para implementar sua logística em um país com infraestrutura insuficiente, desde estradas até internet. Além disso, medidas protecionistas impedem a empresa de competir no mesmo nível com a indústria e varejo locais. Na China, a Amazon só possui 0,9% do market share na indústria de marketplaces, muito atrás da gigante local Alibaba.
É improvável que a Amazon vá adquirir elementos do mercado brasileiro com a mera intenção de se expandir. A política de aquisições da empresa é muito mais voltada a negócios que a permitam evoluir tecnologicamente ou em operacionalização – o crescimento, propriamente dito, é feito de forma orgânica.
A frente 1P da Amazon tem, hoje, 74 marcas e 6.825 produtos no mundo, distribuídos por países como EUA, China, México e Índia, bem como dentro da Europa. Por aqui, a empresa ainda está no processo de desenvolver a infraestrutura necessária para aplicar seu modelo no país, mas esbarra na falta de suporte para logística e a complexidade fiscal.
Desde fevereiro, a empresa negocia transferir suas operações para Cajamar (SP), com o intuito de utilizar o complexo de galpões da Prologis. Por lá, já operam empresas como Walmart e Samsung, por exemplo.
Sem dúvida a Amazon tem potencial para crescer no Brasil, visto que as previsões indicam que o e-commerce no país atinja R$ 200 bilhões em 2025, contra R$ 65 bilhões em 2017. No entanto, a análise da BTG Pactual não é favorável ao titã americano, preferindo a possibilidade de dominância dos agentes locais. Por aqui, isso significa o Mercado Livre, da Argentina, e a B2W (Americanas, Submarino) e Magazine Luiza, brasileiros.