O futuro da Amazon (AMZO34) começa nesta segunda-feira (5), e estará nas mãos de Andy Jassy.
A magnitude do desafio da nova era que se abre no topo da Amazon pode ser medida pelo patrimônio do fundador da gigante do varejo digital, Jeff Bezos, e de seu protegido e sucessor na cadeira de diretor-presidente (CEO).
A saída do empresário do comando do colosso de Seattle deixa Mark Zuckerberg, fundador do Facebook (FBOK34), como o único fundador-CEO sobrevivente entre as Big Techs.
A fortuna acumulada por Bezos, 57 anos, com apenas 10% de participação acionária no capital total do grupo do e-commerce, é de quase US$ 200 bilhões (cerca de R$ 1 trilhão).
Jassy, 53 anos, tem apenas meio bilhão de dólares em ações.
Esse abismo patrimonial retrata plasticamente quão pesado é o legado que está passando de mão.
Outro símbolo da distância ente Bezos e o seu sucessor será o espaço sideral.
Duas semanas após a nomeação de Jassy, o fundador da Amazon planejou sua viagem como astronauta na espaçonave de sua Blue Origin.
Novo CEO da Amazon não foi escolhido por acaso
Entretanto, Jassy não se tornou CEO por acaso.
O executivo começou a trabalhar criando e liderando o mecanismo de negócios de ponta, que logo se tornou o verdadeiro motor da receita da Amazon: os serviços em nuvem da AWS.
Experiência adequada para tomar as rédeas de um gigante que colocou o turbo, ainda e mais do que antes, durante a crise gerada pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19).
Nos últimos 18 meses a Amazon multiplicou seus negócios digital e físico, se tornando menor apenas do Walmart em termos de tamanho.
Em 2020 o grupo faturou US$ 386 bilhões, tem 1,3 milhões de funcionários, e atua em muitos setores, do varejo à mídia e cinema, da logística à saúde e aos dados em nuvem.
Mas a ascensão do herdeiro de Bezos ocorre enquanto a empresa, junto com o crescimento dos negócios e um valor de mercado superior aos US$ 1,7 bilhões, acabou na mira como nunca antes.
Investigações, recursos e projetos de lei antitruste ganharam a atenção da opinião pública nos Estados Unidos e em escala internacional.
Muitos políticos e reguladores começaram a exigir uma regulamentação rígida até uma divisão do império Amazon.
Já se fala em separar suas plataformas online dos produtos vendidos para combater os monopólios, abusos anticompetitivos, manipulação de preços e conflitos de interesse.
Não é suficiente. A controvérsia também abrangeu a cultura corporativa, o tratamento dos funcionários e a oposição de ferro aos sindicatos em suas plantas.
Um dilema, portanto, aguarda o herdeiro de Bezos: como defender a Amazon e, ao mesmo tempo, responder às demandas dos críticos.
Bezos vai, porém fica
Bezos ainda estenderá sua sombra sobre a gigante mantendo o cargo de presidente executivo.
No entanto, ele vai se limitar a um papel de “visionário”, dedicando suas energias à novas oportunidades e fronteiras, e delegando a gestão do dia a dia para Jessy.
O que, por outro lado, é uma das qualidades do novo CEO. Ele é considerado um fanático por detalhes, além de ambicioso e determinado como Bezos, ainda que mais aberto.
A confiança de Bezos em Jassy vem de longe.
Nascido em uma família rica no interior do estado de Nova York, formado em Harvard, o futuro CEO tinha as ambições de ser um jornalista esportivo (o esporte é sua paixão junto com a música), abandonadas por causa do tempo necessário para chegar no topo da carreira. Considerado por ele excessivamente longo.
Logo depois de terminar a faculdade de administração entrou na Amazon, poucos dias após a oferta pública inicial (IPO) da empresa em 1997.
Foi ele que, em seu minúsculo escritório de marketing, desenvolveu o plano de expansão da Amazon, que passou de livraria online para centro de vendas de música.
Jassi se tornou próximo de Bezos, que logo o promove à sua “sombra”: um chefe de gabinete informal que o segue por toda parte durante um ano e meio.
Seu sucesso está então vinculado ao desenvolvimento da Amazon Web Services.
A AWS revolucionou os serviços em nuvem de forma pioneira.
E hoje a divisão da Amazon tem dezenas de milhares de funcionários, um faturamento de cerca de US$ 50 bilhões e representa 60% dos lucros do grupo.
Mudanças à vista
Jassy agora terá que transformar a experiência de sucesso nos negócios digitais em uma liderança geral.
O objetivo será a busca de um maior equilíbrio entre o crescimento da empresa e as preocupações éticas e sociais.
Em sua última carta para os sócios, Bezos evocou uma “nova responsabilidade da empresa em relação aos seus funcionários” e uma “melhor visão para seu sucesso”.
Uma missão que já apareceu claramente nos corredores da sede de Seattle: o próprio Jassy em uma reunião em dezembro passado rompeu com a tradição de apresentações áridas para mostrar empatia pelo impacto da pandemia e denunciar o racismo e a violência sofridos durante séculos pelos comunidade afro-americana dos Estados Unidos.
A Amazon já atualizou seus 14 princípios de liderança, com foco no consumidor, inovação, frugalidade, produtividade.
Agora surgiram outros dois: ser o melhor e mais seguro empregador e responder às necessidades das comunidades locais, do planeta e das gerações futuras.
Um cartão de visita para a era Jassy, que em breve será testado.
Todavia, mesmo com essas premissas “progressistas”, a implacável defesa do império não terminará.
A Amazon pediu que o novo presidente da autoridade antitruste dos EUA Lina Khan, uma conhecida crítica a atuação da gigante, não participe dos casos abertos contra o grupo. O mundo aguardará o desfecho dessa mudança.
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