Dólar nas alturas: exportadoras como JBS (JBSS3) devem se beneficiar no 3T21
O dólar está no centro das atenções nos últimos tempos. Com os investidores preocupados com o cenário fiscal do País, nem mesmo quando a moeda desvaloriza lá fora e a Selic sobe aqui dentro, o real consegue sustentar os ganhos. No final, as maiores beneficiadas dessa elevação do dólar são elas: as exportadoras.
Nesta temporada de balanços, especialistas afirmam que as exportadoras de alimentos serão as principais beneficiadas com o avanço do câmbio. Isso porque elas desfrutaram o melhor dos dois mundos no período do terceiro trimestre: exportação em dólar e diminuição dos custos.
A Marfrig (MRFG3) já mostrou seus ganhos favorecidos pela receita em dólar nas vendas internacionais. De julho a setembro, as operações do frigorífico na América do Norte e na América do Sul foram as mais rentáveis.
A receita líquida da Marfrig foi de R$ 23,6 bilhões no terceiro trimestre, 40,4% superior à do mesmo período de 2020. Desse total, a América do Sul respondeu por R$ 6,909 bilhões (+44,1%) e a América do Norte com R$ 12,729 bilhões (+38,9%).
“A performance é recorde para a operação e é explicada pelo aumento de 36,8% no preço médio total de vendas. O destaque foi o preço médio de exportações, quando mensurado em dólar, que foi 38,7% superior ao 3T20 – US$ 5.530/t no 3T21 versus US$ 3.978/t no 3T20”, informou o balanço da Marfrig.
Para o Bank of America, a JBS (JBSS3) deve surfar a mesma onda, com fortes ganhos nas vendas internacionais, sobretudo nos Estados Unidos. E o dólar fortalecido ajuda a aumentar a receita total.
“O dólar está historicamente em patamares muito elevados. Exportadores no geral podem se favorecer desse movimento, mas existem outros fatores para analisar a depender do setor”, diz Vanei Nagem, responsável pela área de câmbio da Terra Investimentos.
“Já com os frigoríficos não, é certo que eles ganham, principalmente porque a maior parte dos seus custos são em reais.”
Commodities dolarizadas
No geral, a Vale (VALE3) sempre desponta como uma beneficiada do avanço do dólar frente ao real. Por ser grande exportadora de minério de ferro e ter a maior parte dos custos dessa mineração, em específico, no Brasil, a venda da commodity em moeda estrangeira é uma vantagem.
Entretanto, há dois pontos que devem ser observados nesse sentido. O primeiro é a exposição ao valor do próprio minério de ferro.
“Por mais que a empresa efetue sua venda em dólar, o preço do minério é muito mais relevante que o câmbio”, destaca Nagem.
No segundo trimestre de 2021, a mineradora registrou Ebitda proforma recorde, de R$ 59,17 bilhões. Em sua justificativa escreveu: [o resultado é] “devido a maiores preços realizados e volumes de venda de minério de ferro e pelotas, parcialmente compensados por custos e despesas que são vinculados ao preço do minério de ferro como, por exemplo, compras de terceiros e royalties, elevados custos de frete e maiores custos de manutenção e serviços.
O mesmo é observado com a Petrobras (PETR4). O principal motor das ações da petroleira é a variação do preço do petróleo Brent, cotado em dólar.
“No 2T21, a receita com exportações foi de R$ 33,6 bilhões, 47,2% superior ao 1T21, refletindo o aumento nos preços do Brent e o maior volume exportado”, registrou a estatal em balanço do trimestre passado.
Entretanto, quanto a valorização do dólar, em outros pontos pode ser prejudicial à estatal. Os custos de extração da Petrobras também estão cotados na moeda internacional e pressionam suas margens, além da dívida.
Receita x custos em dólar
Bruno Madruga, head de renda variável da Monte Bravo, alerta sobre os pontos que os investidores devem olhar. Nem sempre a companhia tem apenas as receitas em dólar, muitas vezes os custos em dólar deixam a balança mais equilibrada.
“Se parte da receita chega em dólar, mas parte dos custos também, essa empresa vai ficar no zero a zero, e pode não ser tão beneficiada, mesmo sendo exportadora”, diz Madruga.
Outro ponto é a dívida em dólar. No ano passado, a exportadora Suzano (SUZB3) protagonizou um forte aumento do endividamento, para R$ 12,4 bilhões no primeiro trimestre de 2020, devido à valorização da moeda norte-americana, que chegou a R$ 5,20 no período.
A companhia explicou que o aumento do déficit era sem efeitos de caixa até o vencimento da dívida. Ainda assim, a variação cambial foi responsável por fazer o endividamento da empresa de papel e celulose saltar de R$ 455 milhões para R$ 12,4 bilhões.
Para conter esse valor, algumas companhias têm política de hedge para proteger sua dívida e não contam com o “hedge natural” — ideia de que o aumento da dívida em dólar é compensado pelo ganho de receita operacional também em dólar.
Nesse caso, Madruga alerta o investidor para verificar todos os detalhes que envolvem o câmbio nos balanços das empresas e entender até onde a alta do dólar pode beneficiar a companhia.