A Allpark, dona da rede de estacionamentos Estapar, decidiu dar prosseguimento ao pedido da Oferta Pública Inicial (IPO) – o primeiro pedido desde que a crise do coronavírus chegou por aqui, de acordo com informações publicadas pela empresa na quarta-feira (22).
A oferta da Allpark, protocolada em fevereiro, havia sido suspensa após o mercado acionário despencar com os agentes preocupados com as implicações que o coronavírus (covid-19) deve trazer à economia.
Em meio ao caos, o IPO da Allpark renasce a partir de uma necessidade latente de bancar um novo e grande negócio em que a empresa coloca boa parte das fichas: a administração da concessão do serviço de Zona Azul da cidade de São Paulo.
Ao todo, a companhia pretende levantar cerca de R$ 336 milhões – com uma faixa de preço entre R$ 10,50 e R$ 13 por ação, segundo o prospecto divulgado ao mercado. Já o preço final será definido no dia 13 de maio.
Os bancos que devem coordenar a oferta, que será primária e secundária, ou seja, além da companhia, seus acionistas também devem vender participação e levantar recursos, são:
- BTG Pactual
- Bradesco
- Santander Brasil
- Banco do Brasil
O ticker da companhia na bolsa de valores de São Paulo (B3), será ALPK3.
Allpark tentar se capitalizar para bancar projeto zona azul
O lançamento do IPO vai ao encontro do maior projeto da Allpark com a Estapar, que é a administração da Zona Azul da cidade de São Paulo. A companhia deve assumir o projeto até o início de 2021.
A Estapar, por meio da Hora Park, venceu em dezembro do ano passado a licitação com uma proposta de R$ 1,3 bilhão por um período de 15 anos. O contrato prevê que a companhia pague R$ 636 milhões em parcelas até dezembro deste ano à Prefeitura. O restante será pago até 2035.
Dessa forma, a companhia precisa de capital para tocar o novo negócio.
“O IPO sai agora para ser um funding da Zona Azul de São Paulo, que é um projeto transformacional para a companhia”, diz uma fonte com conhecimento sobre o IPO.
Além do montante captado no IPO, o restante deve ser obtido pela Allpark por meio de uma associação de bancos, que deve garantir o crédito à empresa, mesmo em um momento de maior risco às instituições.
Transformação digital é oportunidade
O contrato assinado entre a empresa e a Prefeitura de São Paulo, prevê, entre outras coisas, a manutenção e conservação da sinalização de vagas, diversificação nos meios de pagamento e até a construção de um centro operacional para o sistema.
Além disso, a Estapar precisa colocar em funcionamento um aplicativo, até o início do ano que vem, no qual os motoristas conseguirão ver as vagas disponíveis na região em que estão.
Veja também: IPO: crise do coronavírus faz com que ofertas sejam adiadas
É exatamente por esse detalhe que, segundo outra fonte ouvida pelo SUNO Notícias, o projeto é visto com bons olhos pela administração. A Zona Azul seria, portanto, a possibilidade de transformar a companhia em uma empresa digital – ou pelo menos é isso que os bancos coordenadores do IPO tentam falar aos fundos interessados.
Com a necessidade de milhares de motoristas paulistanos baixarem o aplicativo, a Allpark pode transformar o projeto em uma ponta de lança para ampliar o próprio core business, oferecendo, quem sabe, até produtos bancários, por exemplo. Afinal, o pagamento da Zona Azul por meio do app já implicaria em captar dados financeiros dos clientes.
Assim, na balança entre risco e retorno, o risco de um IPO em um momento de estresse no mercado ficou menor do que a necessidade de dinheiro e da possibilidade de transformação da empresa agora. Até porque a licitação da Zona Azul já saiu e precisa ser paga.
De qualquer forma, o IPO em meio ao caos, não permaneceu o mesmo entre o divulgado fevereiro e o de agora, em abril. A companhia reduziu a oferta ao mínimo necessário.
Segundo a Estapar, a companhia, fundada em 19981, em Curitiba, está presente em 15 estados, além do Distrito Federal, e em 23 cidades com o sistema Zona Azul Digital. São cerca de 6,5 mil funcionários da Allpark.
Segundo o último balanço disponível, editado pela Enerst Young sobre o ano de 2018, a empresa teve uma receita líquida de cerca de R$ 979,233 milhões no ano ante R$ 952,194 milhões em 2017. O prejuízo em 2018 ficou em cerca de R$ 848 mil, menor que os R$ 2,9 milhões do ano imediatamente anterior.
BTG e sócios diluem capital
Controlada pelo BTG desde 2009 por meio do Fundo de Investimento em Participações Maranello Multiestratégia, a Allpark terá o comando pouco mais diluído após o IPO.
Apesar de não vender ações, o FIP Maranello passará a deter 40,5% ao invés de 47,7%; o fundo americano Riverside FIP terá 27,8% ante 32,8% e o FIP Brasil de Governança Corporativa controlará 9,4% ante 11,1% antes do IPO.
Além disso, o IPO da Allpark também tem uma oferta secundária, que oferece até 1.234.430 papéis. Os vendedores são Armando Carmo Couri, Emilio Odebrecht Peltier de Queiroz, Guilherme Nunes Ribeiro, André Roberto Gomes Rossetto, Jorge Marcos Soares De Novaes e Francisco Peltier de Queiroz.