Gestora abre notícia-crime contra Tanure pela compra da Alliar (AALR3), diz jornal
O empresário Nelson Tanure pode ser investigado por uma notícia-crime no Ministério Público de São Paulo no processo de compra da Alliar (AALR3), empresa de medicina diagnóstica controlada hoje por ele. As informações são do colunista Lauro Jardim, de O Globo. A gestora Esh Capital abriu a queixa contra Tanure acusando-o de insider trading, prática que utiliza irregularmente dados privilegiados do mercado para conseguir lucro.
De acordo com Jardim, a Esh, do gestor Vladimir Timerman, quer que o MP apure se Tanure recebeu essas informações, lesando sócios e minoritários da Alliar, e que ele seja ouvido em depoimento. O colunista de O Globo diz que Timerman considera que os promotores deveriam suspender o empresário de transações financeiras.
Na última segunda-feira, a Alliar se pronunciou dizendo que a operação com Tanure não tem ilegalidades e será efetivada. “Foram cumpridas e satisfeitas todas as condições suspensivas estabelecidas no contrato de compra e venda da Alliar e o fechamento da operação deve ocorrer em até 5 dias úteis contados desde 8 de abril de 2022”, comunicou a companhia.
Em 30 de março, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) divulgou que iria investigar denúncia feita também pela Esh Capital, que apontava o uso de informações privilegiadas pelos fundos ligados a Tanure na aquisição do controle da Alliar.
Segundo o portal Pipeline, a CVM considerou que a reclamação da Esh “parece se configurar legítima” e merecia uma apuração mais detalhada por parte da autarquia.
O insider trading teria acontecido no fim do ano passado, de acordo com o Pipeline, quando Nelson Tanure negociava a compra de ações do bloco de controle da Alliar. Na época, saiu na mídia que os papéis seriam adquiridos pelo preço de R$ 20,50.
Porém, a cotação estava muito abaixo desse valor, em torno de R$ 13,00, e as ações dispararam na Bolsa, visto que os acionistas minoritários esperavam uma oferta pública de aquisição (OPA), por se tratar do controle da Alliar, e correram para “corrigir” o valor da ação.
“Enquanto os minoritários compravam, esperando a OPA, os fundos de Tanure vendiam, realizando lucro daquela alta”, diz a matéria do Pipeline.
Fundos de Nelson Tanure cometeram irregularidades?
Entre os dias 18 e 30 de novembro, os fundos teriam se aproveitado da alta das ações para vender 1,48 milhão de papéis, volume equivalente a R$ 25,5 milhões. O preço médio por ação da Alliar ficou em R$ 17,19, cerca de 38,85% acima do fechamento anterior à notícia da possível OPA.
A CVM confirmou ser um volume de negociação acima da média para a Alliar, ainda que, considerando o investimento total de Tanure (cerca de R$ 1,28 bi), seja um valor pouco relevante.
“A incerteza, não presente nas decisões dos fundos ligados a Nelson Tanure, colocaria o papel com potencial de chegar a R$ 20,50 mais juros até a liquidação ou voltar ao patamar de R$ 13, em que estava o papel antes da divulgação do conteúdo na coluna do jornalista Lauro Jardim, de O Globo”, diz a CVM.
Com isso, a CVM decidiu seguir com a análise para identificar a “profundidade e extensão dos delitos”.
Como ficou a Alliar
Posteriormente, confirmou-se que o contrato fechado entre Tanure e o grupo de controle da Alliar tinha de fato o valor de R$ 20,50, mas previa uma opção de venda futura de ações. Logo, a transação não exigia a troca de controle imediato, dispensando a OPA.
Diante disso, para a gestora Esh e para a CVM, os quatro fundos — MAM Eagle, Fonte de Saúde, Borgonha e Kyoto — cometeram irregularidade, diz o Pipeline.
Isso porque eles venderam um volume relevante de ações “provavelmente sabendo que no contrato de venda constaria a put [cláusula] possibilitando ou tentando a possibilidade de evitar uma OPA por alienação de controle.”
No pregão desta quarta-feira (13), as ações da Alliar fecharam com alta de 6,20%, negociadas a R$ 18,92.