Em condições normais (desconsiderando a pandemia), a saúde no Brasil segue um roteiro previsível. Enquanto o paciente aguarda até o último instante para procurar um médico, os profissionais, por sua vez, tratam apenas parte do problema. Foi com a ideia de quebrar esse ciclo que três sócios da cena de startups brasileira fundaram a Alice, uma healthtech que oferece planos de saúde individual, mas com foco no acompanhamento e prevenção do usuário.
Por meio de um aplicativo, a Alice acompanha e coordena todo o ciclo de saúde que os usuários registram no app. Assim, um time composto por médicos, enfermeiros, nutricionistas e preparadores físicos acompanham, de tempos em tempos, a saúde do paciente e seus planos.
“A partir do momento em que as pessoas compram nosso plano, elas têm um relacionamento, com um alto engajamento, com o time de saúde a fim de traçar um plano de ação para cada pessoa”, conta André Florence, diretor-presidente (CEO) da Alice.
Para colocar a Alice de pé, foram 15 meses de incubação e uma captação inicial de US$ 17,5 milhões. No mês passado, com cerca de sete meses de existência, foram captados outros US$ 33,3 milhões captados em uma rodada de “series B”, que prometem impulsionar a healthtech.
A empresa é comandada por Florence e outros dois sócios, Guilherme Azevedo e Matheus Moraes, ex-99 e Dr. Consulta.
O dinheiro financia tecnologia
Como não poderia ser diferente, tudo é feito pelo aplicativo. Desde a contratação até o atendimento inicial de qualquer problema ou planejamento, tudo é feito em poucos minutos por uma equipe que busca fazer o meio de campo entre cliente e empresa.
Dados divulgados pela própria Alice mostram o seguinte:
- 81% dos membros melhoraram sua saúde mental.
- 71% apresentaram uma melhora em sua qualidade de vida como um todo.
- 47% dos membros obesos deixaram de ser.
Mas, apesar dos dados positivos, planos de saúde individual costumam ser custosos às operadoras. De acordo com Florence, a Alice consegue gerar caixa com um modelo que alia a prevenção a problemas, a promoção da saúde e uma rede credenciada que é paga baseada em métricas de satisfação e resultados.
“Em um convênio de saúde tradicional é realmente mais difícil oferecer um plano de saúde individual, mas como a gestora de saúde, nossa abordagem, os KPIs são diferentes, nossa linguagem também, pra gente o natural é sermos uma gestora de saúde para as pessoas”, disse Florence.
Prevenção reduz os custos
“Quando a gente consegue fazer com que nossos clientes fiquem mais saudáveis, conseguimos gastar menos com o custo de saúde. A gente tem que atuar muito, muito, muito no preventivo”, completou.
Questionado sobre como aliar a contenção de despesas sem descuidar da saúde dos clientes, como dificultar a ida a um médico especialista, por exemplo, o CEO afirma que as metas não são relacionadas apenas ao financeiro.
“As metas relacionadas a saúde não são sobre reduzir o encaminhamento. Mas, sim, quão mais saudáveis as pessoas estão ficando. Então, para ficar mais saudável, precisamos encaminhar de maneira correta e isso é muito importante”, disse o CEO. Segundo o executivo, 80% dos problemas são resolvidos na primeira esfera, composta por médicos do esporte, da família, preparador físico, nutricionista e enfermagem.
Atualmente, um plano de saúde médio para uma pessoa de 31 anos na plataforma sai por cerca de R$ 884,82 mensais. No plano, porém, há a expectativa da Alice anunciar um plano premium em breve. Além disso, a companhia quer quintuplicar a base de 1.100 membros até o fim deste ano.
A companhia, que ainda consome caixa, não busca um breakeven próximo, já que captaram US$ 33 milhões há pouco tempo e o dinheiro deve ser usado à aceleração da Alice.
“Breakeven é delicado no que a gente faz. Então, desde hoje, a gente entende qual é a margem bruta que temos como meta e reinvestimos e também o valor que captamos. Temos prejuízo e devemos continuar fazendo isso ao longo dos próximos anos, mas em mente que o negócio é sustentável, para, quando tivermos em mente, reduzir o investimento”, disse o CEO da Alice.