Com o final do ano se aproximando, alguns setores da bolsa passam a concentrar as atenções dos investidores, a exemplo do varejo, tendo em vista a perspectiva de maior consumo durante o quarto trimestre. Mas outro segmento que pode se beneficiar desse período é o de turismo e aéreas, uma vez que há uma sazonalidade mais positiva pensando nas férias escolares e sobretudo no verão do hemisfério sul.
Mas, se você pensa em tirar férias da bolsa e deixar o seu dinheiro alocado nos papéis de turismo, é bom ficar atento. Isso porque Gol (GOLL4) e CVC (CVCB3) reportaram prejuízo em seus balanços do terceiro trimestre. Já Azul (AZUL4), outra grande companhia aérea no Ibovespa, reporta seus resultados na próxima semana.
Como as principais casas de análise estão olhando para os balanços? Quais questões podem impactar o desempenho das empresas de turismo nessa reta final de ano? Qual delas tende a largar à frente nessa disputa? Confira essas e outras respostas a seguir.
Aéreas: Gol reportou prejuízo bilionário
A Gol (GOLL4) reportou um prejuízo de R$ 1,3 bilhão no terceiro trimestre, ante R$ 286,7 milhões no trimestre anterior. Na comparação anual, contudo, houve redução de 16% no prejuízo. Já o EBITDA foi de R$ 1,250 bilhão no terceiro trimestre deste ano, alta de 79,8% na base anual.
Outra questão importante que chamou a atenção dos analistas foi o fato de a companhia aérea ter atualizado seu guidance para o ano, estimando receitas ligeiramente mais baixas e custos mais elevados nessa reta final de 2023.
De acordo com o Santander Investment, os números do terceiro trimestre da Gol vieram em linha com o consenso, mostrando uma melhora na rentabilidade. Já na visão do Itaú BBA, a sazonalidade mais positiva não refletiu nos rendimentos. Os analistas têm uma visão cautelosa quanto ao quarto trimestre, afirmando que há pouco espaço para uma revisão altista dos números, após a atualização do guidance.
O Citi, por sua vez, entende que a Gol apresentou resultados sólidos, com fortes melhorias na receita unitária e um fluxo de caixa livre positivo. Apesar disso, o banco tem recomendação neutra para os papéis, em linha com as demais casas citadas até aqui.
Um dos pontos que deixam os analistas reticentes quanto à companhia é a dúvida em relação à expansão de sua malha aérea. Recentemente, a Gol anunciou uma ampliação de suas operações para a alta temporada no Brasil, disponibilizando aproximadamente quatro milhões de assentos e criando 32 novos mercados. Acontece que, até agora, a empresa recebeu apenas uma das 15 aeronaves que estavam previstas para serem entregues este ano.
O CEO Celso Ferrer afirmou que a companhia aérea está em tratativas com a fornecedora, Boeing (BOEI34), para que quatro aeronaves sejam entregues ainda em 2023. É possível que outras 10 cheguem à primeira metade de 2024. De qualquer forma, os atrasos já impactaram negativamente os planos da Gol, que espera encerrar o ano com uma frota operacional entre 110 e 114 aeronaves, ante estimativa anterior entre 114 e 118.
Turismo: CVC segue queimando caixa
A CVC (CVCB3) reportou prejuízo líquido de R$ 87,5 milhões no terceiro trimestre deste ano, ante R$ 75 milhões no mesmo período do ano passado. A companhia concentrou despesas com iniciativas de marketing a fim de recuperar a preferência dos consumidores, mas queimou R$ 400 milhões de caixa, em linha com a deterioração da dinâmica do capital de giro.
Na visão do Bradesco BBI, os resultados da CVC foram mistos, com a rentabilidade voltando a patamares históricos e despesas sendo reduzidas. No entanto, os analistas citam justamente essa queima de caixa como ponto negativo. A recomendação da casa é neutra para os papéis, com preço-alvo de R$ 3.
O Citi é um pouco mais otimista, afirmando que os resultados superaram suas expectativas. Os analistas destacam as maiores vendas líquidas e as menores despesas operacionais recorrentes, mantendo também recomendação neutra, com o mesmo preço-alvo de R$ 3.
Já para o Bank of America, a CVC apresentou múltiplas melhorias qualitativas, com aumento da taxa de aceitação e redução da estrutura de custos. De acordo com os analistas, a empresa pode se beneficiar dos problemas que rivais como 123 Milhas e Hurb vêm enfrentando e, com isso, recomendam compra para a ação, com preço-alvo de R$ 3,70.
O diretor executivo da CVC, Fábio Godinho, falou sobre sobre esse espaço no ambiente competitivo do turismo após 123 Milhas e Hurb deixarem o mercado. Segundo Godinho, a empresa pode sim se aproveitar desse momento. No entanto, ele chamou a atenção para o fato de que esses clientes estavam comprando produtos que não existem por preços que não existem. Ou seja: é uma clientela muito sensível ao preço, e não é garantido que a CVC consiga absorvê-la por completo.
Azul: aérea pode ter horizonte desafiador, mas é top pick
A Azul (AZUL4) divulga seu balanço do terceiro trimestre no próximo dia 14, terça-feira, e de acordo com o Citi, a companhia pode ter trimestres desafiadores à frente. O banco chama a atenção para um possível aumento das despesas com combustível, afetando a lucratividade de curto prazo.
De acordo com a casa, as companhias aéreas no geral devem continuar a reportar uma boa receita unitária. No entanto, isso não seria suficiente para compensar a pressão dos preços do combustível e da taxa de câmbio. Assim, os analistas esperam um EBITDA abaixo dos R$ 5,5 bilhões previstos pela Azul no seu guidance para 2023.
Mesmo assim, a Azul permanece como a top pick do Citi no setor. A casa entende que a companhia tem uma malha de rotas única, menor exposição à concorrência nas rotas principais e melhor eficiência da frota. Com isso, a recomendação é de compra, com preço-alvo de US$ 16 para os ADRs negociados em Nova York, potencial de alta de cerca de 118%.
A XP espera resultados positivos para a Azul, ainda que a receita por passageiro por quilômetro caia em relação ao ano anterior. Já o BTG Pactual espera alta de 33% no EBITDA na base anual. Para além do turismo e das aéreas, os analistas destacam o chamado negócio de cargas da companhia, mas também chamam a atenção para a volatilidade cambial e para o preço do combustível como principais riscos a curto prazo.