Adyen, fintech de pagamentos europeia, não tem interesse em Bitcoin — por enquanto

A Adyen, fintech de pagamentos sediada em Amsterdã, na Holanda, possui no Brasil um dos principais escritórios de sua operação global. De suas salas na Avenida das Nações Unidas, em São Paulo, já saíram parcerias globais e inovações para as operações da empresa em todo o mundo. No entanto, a maior novidade dos últimos anos nos sistemas de pagamentos, o Bitcoin, não está no radar da empresa — por enquanto.

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Para a companhia, ainda não há uma demanda suficiente pela criptomoeda que justifique a implementação em sua plataforma. Além disso, o Bitcoin tem maior capilaridade no varejo como um ativo financeiro, não entre as grandes empresas para uso comercial, principal foco da Adyen. Caso a demanda passe a existir, a empresa se propõe em oferecer aos clientes.

A fintech, que pode passar por despercebida no Brasil, já possui um sólido histórico no Velho Continente, trabalhando com Uber, iFood, Adidas e Spotity, além de Magazine Luiza (MGLU3) por aqui. A empresa registrou um volume total transacionado de 303,6 bilhões de euros (cerca de R$ 2,03 trilhões) em 2020.

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No mesmo período, a receita líquida somou 684,2 milhões de euros, ao passo que o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) atingiu 402,5 milhões de euros. Todas as linhas cresceram mais de 27% frente a 2019, justificando a valorização de 140% das ações cotadas na Bolsa holandesa nos últimos 12 meses.

Em entrevista ao SUNO Notícias, o presidente da Adyen na América Latina, Jean Christian Mies, contou um pouco sobre a história da empresa, as perspectivas futuras e o momento das criptomoedas para suas operações. Confira os principais trechos da conversa.

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Em que se concentra a operação e quais são os pontos focais da Adyen atualmente?

Sediada em 2006 na Holanda, a Adyen é uma empresa de tecnologia de pagamentos com operação global. Hoje trabalhamos com algumas das maiores empresas do mundo, simplificando o processo de pagamento delas. Trabalhamos com empresas tanto digitais, como do varejo físico, com uma operação B2B (business to business).

Hoje, contamos com 20 escritórios em países diferentes. A operação na América Latina foi instaurada em 2011, focando em Brasil e México, com um escritório em São Paulo, sendo um dos principais mercados da companhia.

Atualmente nos posicionamos como um dos principais players do mercado de pagamentos do mundo. Nós nos diferenciamos das demais empresas do setor por termos nascido já de forma focada no consumo digital, e percebemos que naquela época seria uma tendência de longo prazo. Nossa plataforma, desde então, passou a ser facilitadora e totalmente digital e integrada, agregando aspectos como conciliação, segurança, gestão de risco e adquirência.

Nós desenvolvemos cada uma dessas soluções dentro de casa, sem nos conectarmos ou comprarmos soluções externas. Com isso, atingimos um nível de eficiência muito superior a demais plataformas que foram idealizadas para o varejo físico.

Nos definimos como uma empresa de tecnologia que atua no mercado de pagamentos, não uma companhia financeira ou bancária.

Nesse sentido, na visão da empresa quais são os principais concorrentes da Adyen no mercado e como se divide o market share do segmento?

Essa resposta varia conforme o olhar para o mercado. A gente não fala muito em concorrência, procuramos focar nos nossos negócios. Mas, para entender melhor o nosso posicionamento nesse ecossistema que é muito concorrido, nós miramos empresas do topo da pirâmide, como enterprises e multinacionais – esses são nossos targets principais. Nós não prestamos serviços para pequenas e médias empresas.

Além de cobrirmos toda a cadeira de valor do processo de pagamentos, hoje nós estamos presentes em todos os canais de venda. Temos uma integração única, para empresas que precisam processar em loja, em e-commerce, mobile, e assim por diante.

Com isso, ampliamos nosso escopo de serviços de forma considerável e acabamos concorrendo com diversas empresas em setores diferentes.

A partir de março do ano passado, com a pandemia, quais foram as transformações da Adyen e como a empresa tem passado pelo “novo normal”?

O desempenho da Adyen desde a pandemia está bem refletido em nosso balanço financeiro [citado no início da matéria]. Por um lado, fomos impactados negativamente pela pandemia, pois uma parte de nossos clientes vêm do varejo físico, que desapareceu da economia durante um tempo. Ao mesmo tempo, naturalmente o e-commerce apresentou forte crescimento, com uma alta de 60% em nossa plataforma no mesmo período.

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No entanto, ao passo que obviamente tenha ocorrido um sintoma de carrego do consumo do varejo físico para o digital, também notamos a criação de uma nova categoria de consumidores que começaram a fazer parte do nosso ecossistema. São clientes que nunca tinham feito compras on-line, como pessoas de idade avançada, além de um crescimento da participação de consumidores com poder aquisitivo de menor tamanho.

Dada a nova realidade, nossos clientes aceleraram o processo de transformação digital, que estava prevista para acontecer, mas teve de ser antecipado – isso foi refletido positivamente no nosso próprio crescimento.

Com a ascensão das empresas de tecnologia e, sobretudo, as focadas no processo de pagamento, a temática da segurança nesse ínterim tem sido pauta no mercado. Quais são as iniciativas da Adyen frente a essa demanda?

Um dos elementos mais importantes do processamento de pagamentos de forma on-line, quando não há ninguém na sua frente efetuando a transação, é a segurança deste caminho.

Em nossa plataforma, temos uma solução antifraude totalmente voltada para isso. Mas, como é de conhecimento de todo o mercado, com o crescimento acelerado do e-commerce, naturalmente foi elevada a incidência de tentativa de fraude, pois se tornou um mercado atraente para os meliantes.

Além de já termos uma solução própria e específica para esse tema, estamos aprimorando a tecnologia, sobretudo desde o início da pandemia, incorporando novos padrões de segurança, novos métodos de transação etc. Estamos adotando novos métodos para minimizar o risco de fraude e, ao mesmo tempo, não impactar a conversão da compra.

Hoje não temos mais aquele processo em que, ao efetuar uma compra, o cliente era direcionado à página do banco para a utilização de um token. Atualmente, os processos estão evoluídos, sobretudo por conta da ajuda das bandeiras no desenvolvimento desses protocolos, e continuarão a crescer.

Estamos incorporando o que há de mais novo, não somente no processamento da transação, mas também na gestão de risco, com o objetivo de aumentar a segurança e o conforte dos consumidores.

Recentemente foi divulgado à imprensa uma entrevista do CEO global da Adyen acerca das criptomoedas, e especificamente sobre o Bitcoin. Como vocês enxergam o futuro da moeda digital como forma de pagamento?

O que define o foco que nós damos à área de desenvolvimento de produtos são os nossos clientes. Dessa forma, se uma fatia grande de clientes demanda uma determinada inovação ou funcionalidade, aí sim cogitamos desenvolvê-la.

Nós não sugerimos soluções que estão à frente da demanda, e por ora isso se aplica ao Bitcoin. Não observamos uma procura pela criptomoeda como forma de pagamento por parte dos nossos clientes. Se vier a ser, nós podemos mudar – como aconteceu com o Pix, que já possui um volume imenso de transações. A gente sempre foca no que os clientes querem.

A companhia se define como uma empresa digital, de pagamentos, que não possui um concorrente definido. No entanto, a Adyen cogita criar um braço ou uma plataforma de serviços financeiros, setor de concorrência acirrada?

Nós sempre fomos fiéis à nossa estratégica. E sabemos que nosso core business é o de processamento de pagamentos. Inicialmente, nós fazíamos apenas a troca de mensageria entre adquirentes e bandeiras. Evoluímos para a adquirência propriamente dita e em alguns países europeus passamos a emitir cartões também.

Mesmo com as mudanças estruturais ao longo do tempo, as alterações sempre seguiram uma linha bem definida, e que sempre foram complementares. Essa é a lógica e não temos pressa para adentrarmos em atividades que outras empresas de pagamentos passaram a operar. Somos fiéis à estratégia de longo prazo.

Pegando este recorte temporal, quais são as perspectivas da Adyen para o longo prazo, talvez cinco ou dez anos?

É difícil de pensarmos em um prazo tão longo, como dez anos, em um ambiente de mudanças tão aceleradas como é a tecnologia. No entanto, como demonstra nosso demonstrativo financeiro, nós estamos crescendo rapidamente, mesmo em época de pandemia. Se olharmos em termos de volume transacionado, entre o segundo semestre e o primeiro semestre de 2020, o avanço foi de 29%.

O crescimento dos nossos números demonstra que a tecnologia que criamos é formada para ser adaptável em momentos de crise, além de ser totalmente alinhada com perspectivas de desenvolvimento e evolução do ecossistema de pagamentos como um todo.

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Essencialmente, estamos em meio às mudanças no mundo tecnológico, então não demoramos anos para trazer uma solução inovadora. Somos muito mais rápidos do que empresas tradicionais, e isso irá nos beneficiar ao longo do tempo. Eu diria que é praticamente irrelevante tentarmos adivinhar o que está por vir, pois garantimos que estaremos no pulso, sempre antenados a qual será a demanda real dos clientes.

Se olharmos mais a curto prazo, na identificação de tendências do setor, notamos o crescimento do unified commerce. Esse processo consiste na unificação e integração de processos de comércio em apenas uma plataforma, em vias de colocar a experiência do cliente em primeiro lugar – processo que é um pouco diferente da multicanalidade, por exemplo. Identificamos como um futuro muito claro, onde empresas e marcas vão unificar suas operações dentro de uma plataforma, e procuramos atuar sobre isso.

A Adyen já é cotada na Bolsa de Amsterdã, na Holanda. Passa pela cabeça da empresa a abertura de capital no Brasil, dada a relevância do mercado na América Latina?

A Adyen é, essencialmente, uma empresa global. No momento em que abrimos o capital na Bolsa holandesa, passamos a ter acesso ao amplo universo de investidores internacionais. Portanto, a listagem das ações na B3 não é algo relevante para nós no momento.

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Jader Lazarini

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