Aarin, hub tech-fin especializada em Pix, quer brilhar no open banking

Logo após seu lançamento, o Pix caiu nas graças dos usuários brasileiros. A ferramenta de transferência de recursos já é mais utilizada que o TED e o DOC no Brasil. A novidade trouxe novos players para o mercado. Um deles se chama Aarin.

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A empresa é o primeiro hub tech-fin — que presta serviços financeiros sem ajuda de bancos — especializado em Pix e open banking no Brasil. A Aarin, com menos de 10 meses de vida, já chegou ao varejo físico e digital, surfando o crescimento da ferramenta.

Segundo dados da empresa, o volume de transação, entre janeiro e julho, cresceu 17 vezes. De julho para agosto, subiu mais 17 vezes.

Recentemente, a companhia recebeu um investimento de R$ 2 milhões. A captação foi a chamada “ponte”, ou seja, a preparando para uma rodada mais robusta.

A empresa, fundada em Salvador por Ticiana Amorim, representará o Brasil na Entrepreneurship World Cup, uma das principais competições internacionais para startupts do mundo. O evento acontecerá em novembro deste ano, na Arábia Saudita.

A avenida de de crescimento é grande para a companhia que transacionou R$ 70 milhões neste ano, com a previsão de faturar R$ 750 mil até o fim de 2021. Confira a entrevista do Suno Notícias com a CEO da Aarin.

O que é a Aarin?

A Aarin é uma empresa que, puramente, especializada em Pix e open banking. Começamos a atuar em janeiro deste ano, com a nossa tecnologia criando um sistema de gestão integrado (ERP, na sigla em inglês).

Isso favorece estabelecimentos comerciais a prestarem serviços financeiros para a base de clientes, sobretudo empresas que não são, necessariamente, do ramo financeiro, como as varejistas.

Conseguimos otimizar esses recursos — que seriam aportados por essas empresas — em tempo, time e dinheiro, para trazer uma solução eficiente e escalável.

A nossa tecnologia, aliás, gera menos custo do que as que estão no mercado para esse tipo de público. Isso ocorre porque as soluções do mercado foram pensadas para bancos, o que é bem diferente de uma fintech, que precisa de algo mais ágil, com comunicação diferente.

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Com base nisso, criamos o hub, proporcionando acesso apenas ao que faz sentido para as empresas, seja uma parte de tecnologia de compliance, contas virtuais ou qualquer coisa. Isso tudo com o Pix e open banking por trás.

Essas ferramentas não passam de protocolos tecnológicos – apenas criamos a inovação sobre isso. Conseguimos fazer com que pessoas recebam e repassem, via Pix, comprometendo-se entre instituições financeiras diferentes.

Isso é possível pois nossa tecnologia é integrada a diferentes liquidantes. 

Efetivamente, de que forma a empresa ganha dinheiro?

Nosso modelo de negócio é transacional, não cobramos nenhuma mensalidade nem custo de instalação — como é comum no mercado. Ganhamos dinheiro com uma taxa fixa a cada transação.

Isso traz uma maior previsibilidade de custos aos nossos parceiros, que em sua maioria são marketplaces.

Operamos tanto com cash in ou cash out. Ou seja, atuamos sobre todas as formas de recebimento. A Aarin é a primeira empresa do mercado a atuar desta forma por meio do Pix, com percentual do valor transacionado. 

Neste contexto, o quanto a AWS ajuda na operação?

A relação da Aarin com a Amazon Web Services (AWS) tem sido muito boa. Nós migramos toda a nossa demanda de servidor para a AWS recentemente, pois conversa exatamente com o que precisamos.

Em um modelo de negócio em larga escala com perspectivas nacionais, como o nosso, o contato com eles é essencial. Ter uma área de focada em startups, aproximando os empreendedores e criando conexões nos abre portas para negócios, parcerias e etc.

Não somente do ponto de vista operacional, do servidor em si, mas existem muitos benefícios correlacionados. Tem sido muito legal.

O open banking já é discutido há bastante tempo no Brasil. Por que está demorando para sair do papel?

O grande ponto dessa discussão é que as grandes instituições financeiras foram criadas para não terem os dados compartilhados.

Uma correlação simples é a seguinte: imagine que grandes prédios foram construídos muito distantes um dos outros, com muros altíssimos separando-os, para que não existisse comunicação entre as unidades. Agora, estamos tendo de construir pontes unificadas entre esses prédios. Não é simples.

Na tecnologia, tendemos a pensar que tudo é muito rápido, mas ocorre o contrário. As coisas demoram a ser construídas para, um dia, serem rápidas.

É natural que haja essa “demora”. O Banco Central (BC) tem feito um bom trabalho na implementação da ferramenta, sobretudo em relação à capacitação de todos os envolvidos. 

Claramente, também há uma pressão das grandes instituições para que os processos sejam mais morosos. Isso acontece porque elas precisam agora alocar times e recursos próprios que antes não precisavam.

Além disso, não adianta colocar no ar de forma acelerada, sem saber se há estabilidade ou mínimas condições de funcionamento.

Mas, enquanto isso, o que fazer?

O que precisamos fazer é muito maior do que a tecnologia em si. Quando estivermos com a ferramenta on-line,  teremos ainda de educar o mercado. A sociedade vai precisar aprender como usar e quais são os benefícios disto.

Esse é o grande problema no Reino Unido, por mais que seja a referência mais falada atualmente. Uma parcela pequena da população aderiu ao open banking. Países como a Coreia do Sul, por exemplo, tiveram mais sucesso — cerca de 40 milhões de pessoas no país usam, de 52 milhões totais.

O uso só vai “pegar” na sociedade quando entenderem os benefícios de compartilhamento de dados e acesso a serviços financeiros de diferentes instituições com o ajuste pelo perfil de cada um.

O que deu certo e errado lá fora e que o Brasil deve levar em consideração?

Existem diversos tipos de open banking no mundo, podendo partir tanto do governo como do setor privado. 

As formas de implementação também são distintas: no Reino Unido, por exemplo, o foco ficou centrado na tecnologia e não na informatização do usuário. Há críticas sobre a ausência da capacitação da população, porque foi algo implementado “ao contrário”.

Como contraponto, em alguns países a iniciativa privada tomou a frente e realizou uma comunicação efetiva com a sociedade. As principais diferenças entre os modelos de open banking são essas.

Aqui no Brasil, o desafio é ainda maior. Como temos dimensões continentais, muito maiores que o Reino Unido e Coreia do Sul, precisamos entender quais são as metas de implementação que realmente queremos. Não dá pra imaginar que, no primeiro dia, o País inteiro estará usando.

Então, se minimamente as instituições privadas que trabalham especificamente com a concessão de crédito tivessem o senso de dados compartilhados, com uso de vertente tecnológica forte, seria fácil chegar ao early adopters [primeiros a adotar a novidade]. A partir daí, as atenções seriam voltadas às demais pessoas, que estão pré-dispostas a testar a ferramenta. 

É esse protocolo que estou sentindo falta no Brasil. Falar menos sob a perspectiva do “tecniquês”, e mais do uso. “Porque aquilo será bom?”

A ferramenta, por ter a nomenclatura em inglês, já causa um distanciamento. Deveria partir do governo federal aproximar a medida à sociedade civil como um todo.

O Pix ganhou tração rapidamente logo após seu lançamento, no ano passado. Com o open banking não seria da mesma forma, então?

Isso mesmo. De certo ponto de vista, o Pix é mais simples, pois uma vez implementado você simplesmente usa. No aplicativo bancário, passou a existir a funcionalidade de transferência de recursos com o benefício direto de não pagar por essa remessa. As pessoas tinham essa necessidade. 

Hoje, embora exista muita reclamação sobre os produtos dos grandes bancos, as pessoas não param para entender que seus dados e, portanto, as ofertas estão ligados a apenas uma instituição financeira. Isso não é percebido com tanta escala como pagar R$ 10 por TED.

Muitas dores foram solucionadas com o Pix, digitalizando ainda mais a economia. Já as dores que serão atacadas pelo open banking, por mais que sejam abrangentes, ainda não estão claras à população. 

A segurança do Pix é algo bastante questionado hoje em dia. Isso preocupa?

A segurança do Pix é algo de extremo interesse em todos os participantes do mercado atualmente. 

Antes, em casos de sequestro relâmpago, por exemplo, as pessoas eram levadas para as agências e de lá eram obrigadas a fazerem transferências. Desde que os aplicativos bancários apareceram em larga escala, isso passou a acontecer com mais frequência. 

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A ferramenta em si tem poucas diferenças para o que era vigente. Hoje, a principal diferenciação é que o Pix não possui taxas. Porém, como ele facilitou o processo, existe a impressão de menor segurança, mas as autenticações e procedimentos são os mesmos. O mesmo de todas as outras formas de pagamento. 

As fraudes de Pix que estão acontecendo referem-se muito  a agendamentos – que já aconteciam bastante – ou então com a adulteração do comprovante de agendamento. Mesmo assim, vale ressaltar que qualquer sistema não é totalmente à prova de falhas. 

O BC tem feito um trabalho muito bom em reação a essas demandas, com melhorias no sistema.

Eu tenho visto de maneira muito positiva a ferramenta como um todo. Como ainda é algo recente, é natural que haja uma resistência e lobby contrário, com o financiamento das notícias negativas, uma vez que as indústrias de boleto e adquirência estão sofrendo bastante.

Conte um pouco do histórico operacional da Aarin e se novas captações estão no radar

Desde o início dos nossos trabalhos, de janeiro a junho, nós crescemos 17 vezes. De julho a agosto, mais 17 vezes. Em termos percentuais, nossas transações cresceram cerca de 2.200%. Em oito meses de operação, já movimentamos mais de R$ 70 milhões. 

É um efeito em cascata: quanto mais o Pix cresce, maior a procura por open banking, e a Aarin cresce junto. Estamos lidando com tecnologias do futuro. Não estamos criando um produto para hoje, mas sim para os próximos três ou quatro anos. 

Esse histórico explica nossos recentes movimentos no mercado. Em meados deste ano, recebemos R$ 2 milhões em uma captação “ponte”, e estamos nos preparando para a próxima rodada, que deve ser mais robusta.

Temos algumas propostas de aquisição na mesa, enquanto paralelamente negociamos com alguns fundos que querem entrar na empresa. Estamos no momento de entender qual será a estratégia para a Aarin

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Jader Lazarini

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