Venda de participação da XP tem como objetivo destravar valor, diz Itaú

O Itaú Unibanco (ITUB4) permanece acreditando que a XP Investimentos é um “excelente” ativo, portanto, a operação de venda da fatia de 5% da corretora tem como objetivo “simplesmente destravar o valor desse investimento”. Em teleconferência realizada nesta quarta-feira (4) sobre os resultados operacionais do terceiro trimestre do banco, o CEO Candido Botelho Bracher comentou sobre a operação com a corretora.

Na noite da última terça-feira (3), o Itaú anunciou que estava realizando estudos, já em fase avançada, sobre a possibilidade de vender 5% da XP na Nasdaq ou em outra bolsa que a corretora fosse listada. O objetivo da instituição financeira é monetizar o investimento e melhorar o Índice de Capital Principal de Basileia III.

“Originalmente o nosso plano era adquirir o controle da XP, mas esse plano foi vetado pelo Banco Central. Dessa forma, nossa participação virou um investimento financeiro ao invés de um ativo estratégico. Através de uma análise criteriosa nós concluímos que seria de maior interesse dos nossos acionistas transferir esses ativos diretamente para eles”, disse Bracher.

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Segundo o CEO, essa operação concluiria dois objetivos. O primeiro seria destravar o valor para o banco “uma vez que esse investimento não está precificado 100% em nosso valuation”. Já o segundo é dar a opção aos acionistas para fazerem “o que quiserem com esses ativos”.

Atualmente, o Itaú possui uma fatia de 46% no capital da XP — a participação de 49,9% inicial foi diluída após a oferta inicial de ações (IPO) na Nasdaq — haveria uma fatia remanescente de 5%. Para entregar aos seus acionistas essa fatia, seria necessário a criação de uma nova sociedade de capital aberto, batizada de Newco, e segregar nela as ações da XP, ou 41,05% do capital da empresa de investimentos.

“Não podemos tratar a XP como uma atividade do banco, dentro das atividades do conglomerado, sendo assim não há nenhuma razão para não destravarmos o valor da XP que estava dentro do banco distribuindo para nossos acionistas”, comentou Bracher.

Essa operação, se concretizada, faria com que os acionistas da instituição recebessem participação acionária na Newco, cujo único ativo seriam as ações representativas da corretora.

O Itaú tem o compromisso de comprar mais 11,5% do capital social da corretora em 2022, dependendo apenas da aprovação do Banco Central. Apesar de ser compromisso, a instituição financeira avalia que se fosse uma opção, ainda assim permaneceria com o investimento.

“Não é uma opção de compra, é um compromisso, não cabe a nós cogitar se vamos cumprir ou não, nós sempre cumprimos. Se fosse uma opção nós iríamos exercer, nós continuamos achando a XP um excelente investimento”, concluiu o presidente do Itaú.

Itaúsa deterá participação acionária na XP Investimentos

A Itaúsa (ITSA4), holding controladora do Itaú Unibanco, divulgou um fato relevante nesta quarta sobre a sua participação na Newco. Segundo o documento, respeitando a composição acionária atual da instituição financeira, a IUPAR (Itaú Unibanco Participações) passaria a ser a maior acionista individual da Newco.

A IUPAR possui 51,71% das ações ordinárias do banco, e tem como acionistas a Itaúsa (com 50% das ações ordinárias da IUPAR e 66,53% do capital total) e a Companhia E. Johnston de Participações (com as demais ações ordinárias da IUPAR).

Portanto, a Itaúsa passaria a deter, direta e indiretamente, 37,39% do capital total da Newco, o equivalente a 15,35% do capital total da XP.

“A Itaúsa não pretende alienar participação relevante na Newco no curto prazo e atuará alinhada com a XP. A Itaúsa não considera essa participação como estratégica no longo prazo, estando este ativo sujeito às avaliações no âmbito do processo de acompanhamento de seu portfólio”, concluiu a holding.

Caso o Itaú Unibanco decida implementar a cisão em estudo, não será concretizada antes de 31 de dezembro deste ano.

Polêmica entre XP e Itaú

No meio do ano, a polêmica entre o Itaú e XP Investimentos tomou a atenção do mercado financeiro.

Tal polêmica teve início com a campanha de marketing do Itaú, que foi ao ar na Rede Globo no horário nobre do dia 23  de junho.

Na propaganda, protagonizada pelo ator Marcos Veras, o banco criticava o modelo de negócios das corretoras, fazendo alusões e sarcasmo sobre o papel dos agentes autônomos de investimento. O banco dizia que investimentos no Itaú Personnalité seriam mais seguros.

Segundo o banco, o modelo de remuneração dos agentes autônomos de investimento, baseado apenas em comissões e sem salário fixo, seria uma das causas que levariam esses profissionais a venderem produtos desnecessários ou até ruins para os clientes, com elevadas taxas cobradas na transação.

Isso, segundo a propaganda, poderia levar o agente a oferecer os produtos que gerem maior comissão para ele, mas que não necessariamente são bons para o cliente final.

A reação da XP Investimentos não demorou para aparecer. Menos de 24 horas depois, o fundador e CEO da corretora, Guilherme Benchimol, publicou uma carta em “resposta aos ataques do Itaú”.

“Estamos há 20 anos lutando contra um sistema financeiro concentrado que nunca inovou e nunca se preocupou com o que realmente importa: o cliente! Tenho certeza que os bancos preferem o Brasil do passado, com juros altos e baixa concorrência, explorando ainda mais os empresários e os investidores individuais”, escreveu o executivo no documento.

“A nova campanha do Itaú ataca o comissionamento dos assessores na distribuição de produtos financeiros, como se ganhar dinheiro com o trabalho fosse errado. Sempre fomos transparentes nisso. O assessor é um empresário, um empreendedor que tem a sua própria empresa e somente sobrevive se a visão for de longo prazo, com um cliente realmente satisfeito e muita ética em todas as suas atitudes. Se ele falhar, não poderá mudar de emprego, mas, sim, fechará o seu negócio”, escreveu CEO da XP em resposta ao Itaú.

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Poliana Santos

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