Por que a Apple poderia criar um buscador próprio
No começo de setembro o Financial Times publicou uma matéria indicando que a Apple (Nasdaq: AAPL) estaria desenvolvendo um buscador próprio para substituir o Google (Nasdaq: GOOG) em seus dispositivos.
Além das notícias jornalísticas, não confirmadas pela gigante de Cupertino, há dois anos e meio atrás, a Apple havia contratado o chefe de pesquisa do Google, John Giannandrea.
Formalmente, essa contratação seria para aprimorar a inteligência artificial do Siri. Entretanto, considerando que Giannandrea passou oito anos trabalhando nos segredos do buscador mais popular do mundo, há dúvidas sobre o que estaria por vir.
Além disso, estão aparecendo ofertas de emprego na Vale do Silício para engenheiros especializados em buscadores.
Então das duas uma: ou estão sendo realizados testes no iOs14, a última versão do sistema operacional da Apple, que gera menos tráfego pelas sugestões do Siri para os servidores do Google.
Ou o aprimoramento do Applebot, que a partir de junho passa a ter funções muito semelhantes às utilizadas pelo Google para indexar a web, está a todo vapor para se tornar um novo buscador.
A questão é: por que a Apple estaria trabalhando em um buscador muito mais poderoso do que o Spotlight ou o Siri?
Apple vai perder dinheiro?
Do ponto de vista financeiro, uma decisão dessas significaria que a Apple deveria queimar uma montanha de dinheiro.
Seja por causa do custo enorme que seria necessário para desenvolver, e aprimorar constantemente, algo minimamente comparável com o Google, que hoje é utilizado em 88% de todas as buscas feitas no mundo inteiro.
Isso pois o Google paga bilhões de dólares à Apple para permanecer o mecanismo de busca padrão no Safari para iOS, iPadOS e macOS.
O acordo garante que os usuários de produtos Apple pesquisem com o Google ao usar o Safari, ao menos que eles alterem manualmente o buscador padrão.
Mas essa escolha poderia ser um risco calculado, perfeitamente compatível com a lógica que a Apple de Tim Cook está adotando.
A uma forte atenção à privacidade está tornando a Apple diferente, por exemplo, do Facebook e da Amazon.
A produtora de iPhones, ao contrário do Google, não vive de publicidade, mas vende produtos.
Por exemplo, no final de agosto os engenheiros de Cupertino introduziram uma novidade na versão 14 do iOs, oferecendo a possibilidade de cada usuário gerenciar sua própria exposição online.
Isso significa que os proprietários de iPhone poderão impedir que vários aplicativos rastreiem suas atividades online. Sem o perfil, fica muito mais difícil propor anúncios centrados nos interesses dos usuários.
Um modelo de negócios totalmente diferente do Google e do Facebook, que são baseados na publicidade online.
Grande favor para o Google
Mas se a Apple decidir entrar no mercado dos buscadores, isso poderia ser um enorme favor para o Google.
A gigante de Mountain View está se preparando para a “mãe de todas as batalhas”, a luta contra o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que o acusou de abuso de posição dominante.
O surgimento de um buscador concorrente poderia ser interpretado como uma forma de evitar possíveis repercussões negativas seja regulatórias que financeiras.
Além de um argumento a favor do Google, que poderia assim afirmar não ser um monopólio e não ter sufocado a concorrência.
Veremos o que a Apple nos apresentará nos próximos anos.