Fundos cortam aporte mínimo para até R$ 500 para atrair novos investidores
Em meio à contínua entrada de novos investidores na Bolsa de Valores de São Paulo (B3), o mercado de capitais se molda para receber esses novos CPFs. Fundos, até então limitados quem possuía algumas dezenas de milhares de reais, agora abaixam valores mínimos para aplicação e limites de movimentação para quem já é cotista.
Segundo gestores ouvidos pelo SUNO Notícias, corretoras que oferecem os fundos para seus clientes vinham pedindo para que os gestores adaptassem os produtos ao novo perfil de clientes da Bolsa: pessoas físicas com uma carteira não tão grande e que, para diversificar, precisariam de uma barreira de entrada menor.
Por isso, fundos como Brasil Capital, Giant Setps e Gap reduziram consideravelmente o montante inicial para investimento. De acordo com os gestores, a mudança, apesar de recente, já vinha sendo discutida há meses.
“Isso já era um pleito que carregamos a bastante tempo e era uma conversa que as plataformas, que pegam um público de menor renda, poderiam muito para a gente, porque acabávamos limitados. Com uma entrada de R$ 10 mil, o investidor precisava ter investimentos de cerca de R$ 100 mil e isso limita muita gente”, disse Juliana Klarnet, sócia responsável por relações com investidores da Brasil Capital. A gestora diminuiu o valor de entrada do Brasil Capital 30 FIC FIA R$ 10 mil para R$ 1 mil.
Outra gestora que tomou a mesma decisão foi a Giant Steps. Depois de ouvir, por meses, os mesmos pedidos das plataformas, a gestora optou por diminuir a entrada de R$ 5 mil para R$ 500 do Giant Darius FIC FIM, além da movimentação mínima, que passou de R$ 5 mil para R$ 100.
“Foi uma conversa que veio das corretoras, que estão passando por um processo atingindo clientes de varejo, e esse público começou a entender mais de mercado e entrou em ativos mais de risco”, afirmou Pedro Simonetti, sócio da Giant Steps Capital.
Essa mudança de perfil também motivou a Gap a baixar a movimentação mínima e montante de permanência nos fundos. Segundo Lia Liserra, diretoria de relacionamento com plataformas da Gap Asset Management
“Com a evolução da informação, o mínimo de entrada de fundo eu olho muito mais para a evolução do nosso mercado, dos meios digitais, então saímos em 15 aos de R$ 100 mil para R$ 5 mil no GAP Absoluto FIC FIM. E se tivermos demanda para reduzir, reduziremos mais”, disse.
Fundos devem mudar postura?
Com a chegada de mais investidores pessoa física aos fundos, algumas características de administração dos fundos podem mudar. Para a Brasil Capital, a chegada desse cliente do varejo não vai, necessariamente, aumentar a volatilidade do fundo em relação a cotização.
“Na crise de março, [esse investidor] se comportou como um grande vitorioso. Até porque o grande empresário foi quem tirou dinheiro para colocar no negócio e ficar líquido”, disse Juliana Klarnet.
Para Klarnet, como os pequenos investidores ainda são recentes, a Brasil Capital ainda não sabe como será seu comportamento, mas acredita que eles não devem alterar a dinâmica dos fundos da casa.
“Como esse investidor ainda é desconhecido, eu preciso ter uma cautela para se comportar. Mas, ainda assim, eu prefiro tomar resgate de boleta de R$ 1 mil ou uma de R$ 50 milhões. Ou seja, o volume de resgates pode ser boçal, mas o volume financeiro acabar sendo pequeno”, afirmou.
Para a sócia do Brasil Capital, a diversificação de clientes também pode dar resiliência ao fundo.
“Na pessoa física, o poder da caneta toma decisão rápida. No institucional, não. É melhor uma asset super concentrada ou uma pulverizada? Então nessa hora todos os tipos de ativos vão te dar resiliência”, disse.
Na Giant Steps, hoje a pizza está em 60% institucional e 40% varejo, mas mesmo com a redução na barreira de entrada, a gestora não vê uma mudança de perfil que faça qualquer diferença no fundo.
“A verdade é que a capacidade desses fundos não é muito maior do que eles estão hoje. Então, não será algo que vai mudar muito o perfil dos investidores. Eu estou abrindo para um pessoal ter acesso, mas ainda assim o perfil não muda, Cerca de metade do nosso patrimônio líquido é institucional e mais ou menos metade está distribuído para pessoas físicas”, disse Pedro Simonetti.
Apesar das dúvidas em relação a mudanças na administração do fundo com as características dos novos investidores, os gestores afirmam que a mudança é positiva pois deve democratizar ainda mais o acesso.
“Conversamos muito e acho que temos que democratizar mesmo. O investidor tem que entrar nos fundos com um volume que se sente confortável e poder ir aumentando”, disse Klarnet.