Recessão: as piores crises econômicas no Brasil nos últimos 100 anos
Com a crise econômica, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil registrou um tombo histórico de 9,7% no segundo trimestre de 2020, em relação aos primeiros três meses do ano, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A queda configura o segundo trimestre consecutivo de retração, o que significa que o País está oficialmente em recessão técnica.
O mergulho da atividade econômica brasileira nos últimos meses resultou na mais intensa contração já registrada pela série histórica do IBGE, que teve início em 1996. O cenário de recessão levou ao aumento do desemprego; diminuição da produtividade; ao crescimento nos índices de falências e de recuperações judiciais; bem como à redução da lucratividade.
No entanto, a crise econômica atual se difere das anteriores, não apenas pela intensidade. A pandemia causada pelo novo coronavírus obrigou os governos a impor medidas de isolamento social e de restrições à circulação, o que atingiu em cheio as economias ao redor do globo.
“Esta crise tem raízes distintas das outras. As outras grandes crises (ao menos as mais recentes) foram geradas por problemas internos, geralmente políticas mal feitas. Esta diferente das outras, explode de um problema exógeno, fora do nosso alcance e fora do nosso controle”, afirmou a professora do Insper, Juliana Inhasz.
“Vale lembrar que a economia brasileira estava numa situação difícil antes da pandemia. A recuperação econômica não estava trivial”, acrescentou Inhasz.
A história brasileira sinaliza que recessões são assunto frequente para a economia. Um declínio contínuo do PIB tem impactos sobre todos os cidadãos e impacta todos os segmentos de um país. Nesse sentido, como nem tudo que reluz é ouro, conheça as piores crises econômicas que afligiram o Brasil em um raio de 100 anos:
1990: Plano Collor
Apesar de somente 30 anos atrás, a situação no início de 1990 era bem diferente do que a qual se vê hoje. Aquele que ocupava o cargo mais alto do Executivo era Fernando Collor de Mello e o País enfrentava um período de inflação elevada.
Entre dezembro de 1989 e março de 1990, a taxa de inflação do Brasil saiu da casa de 50% ao mês para um patamar de cerca de 100% ao mês. Dessa forma, o então presidente decidiu lançar seu plano para combater o cenário árido e estabilizar a hiperinflação no País.
Com isso, o chamado Plano Collor foi composto pelas medidas de:
- Privatização;
- Controle sobre a flutuação do câmbio;
- Fechamento de ministérios e demissões de servidores públicos;
- Retenção da poupança de depósitos superiores a 50 mil cruzeiros;
- Alteração da moeda;
- Abertura econômica e fim de subsídios estatais.
O pacote de medidas, contudo, não somente se tornou amplamente impopular, mas também fracassou em controlar a hiperinflação e recessão no Brasil. Naquele ano, o Produto Interno Bruto brasileiro caiu 4,3%, de acordo com dados do IBGE, a maior contração dos últimos 100 anos.
1981: Dívida externa galopante
Em 1981, houve a segunda maior queda percentual do PIB na base anual. O primeiro ano da conhecida como década perdida foi marcado pela crise da dívida externa brasileira, elevada inflação e maxidesvalorização da moeda.
Nos últimos anos do regime militar no Brasil, o então presidente do País, o general João Figueiredo, esteve diante de um crescimento vertiginoso da dívida do Brasil junto aos Estados Unidos em razão do aumento nas taxas de juros internacionais. A crise nesse ano levou a uma retração de 4,3% da economia brasileira.
2015: Crise fiscal
Quase três décadas depois, o cenário brasileiro já era bem diferente. Em 2015, o País vinha de um ritmo de crescimento contínuo desde a grande queda no início dos anos de 1990.
Apesar disso, sob o governo da então presidente Dilma Rousseff, já no seu segundo mandato, o Brasil já começava a mostrar sinais de desaceleração. As taxas de consumo caíam e o exterior não colaborava.
Dessa forma, foi deflagrada uma recessão induzida pela baixa demanda global, pelo fim do ciclo das commodities e pelo forte crise política que se instaurou no País.
Além disso, os cortes de gastos anunciados pelo governo federal não mostraram eficácia para atingir a meta de superavit primário, o que aprofundou a crise fiscal e levou a uma queda de 3,8% em 2015.
1931: Grande depressão
Com a redução da demanda vinda de países europeus após a Primeira Guerra Mundial, as indústrias dos Estados Unidos que viam no Velho Mundo um importante mercado não tinham mais para quem vender. Dessa forma, com a oferta crescente, os preços caíram, a produção declinou e o desemprego disparou.
A conjuntura levou ao crack da Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) em 29 de outubro de 1929, quando Dow Jones Industrial registrou um tombo de 12%, marcando o dia como a Terça-feira Negra.
A Crise de 1929 acertou em cheio a economia do Brasil, ainda pouco desenvolvida e muito dependente de um único produto: o café. Como os Estados Unidos eram os maiores compradores do café brasileiro, as exportações diminuíram drasticamente, junto com os preços da commodity.
Em 1931, depois da Revolução de 30 e já sob o governo de Getúlio Vargas, o Brasil unificou o câmbio e passou a controlar as importações. O ano marcou o recuo de 3,3% do PIB do País.
2020: Crise do coronavírus
Com a queda do Produto Interno Bruto brasileiro de 9,7% segundo trimestre deste ano, número superior ao consenso de analistas consultados pela “Bloomberg”, de 9,2%, instituições financeiras ajustaram suas previsões para a economia do País.
Apesar de divergirem nos detalhes, todas as companhias concordam em uma coisa: a crise econômica de 2020 será a pior recessão pela qual o Brasil já passou.