Bolsa de Valores: Entenda porque a B3 continuou ganhando investidores na quarentena

Mesmo com uma grande crise, não só nacional, mas no âmbito global, desencadeada pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19), o número de investidores na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) continuou subindo. Entre março e julho deste ano, 900 mil pessoas entraram no mercado acionário, o que fez com que o número total de investidores na bolsa brasileira aumentasse para quase 3 milhões.

De acordo com o mestre em finanças e controladoria e consultor da Méthode, Adriano Gomes, alguns fatores podem explicar essa continuação do crescimento no número de CPFs na bolsa. “O principal deles, sem dúvida alguma, é a queda da taxa básica de juros. Pode-se até mesmo imaginar que devido à pandemia as pessoas tiveram mais tempo e puderam estudar com mais detalhes o mercado de ações. Mas, se ele não se mostrasse rentável, quem colocaria sua poupança neste segmento?”, indaga Gomes.

Para a assessora de investimentos e especialista em finanças, Luciana Ikedo, além dos cortes sequenciais da Selic, que diminuiu consideravelmente a rentabilidade da renda fixa conservadora, outros fatores também influenciaram a tomada de decisão do brasileiro em entrar para o mercado de renda variável.

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“O aumento da educação financeira e o aquecimento deste tema nas redes sociais, a forte queda nos preços das ações em março e a expectativa de um retorno dos preços no curto e no médio prazo”, citou Ikedo. A especialista, porém, alertou que é preciso ficar atento a economia, já que o País ainda passa por momento crítico e os investimentos ainda podem sofrer os impactos econômicos nos próximos meses.

Ainda de acordo com Ikedo, o investidor percebeu que para que a rentabilidade seja mais atrativa, terá que abrir mão da liquidez, correr mais riscos ou ainda combinar estes dois fatores. “Também acredito que houve uma desmistificação dos investimentos em renda variável e tornou-se mais fácil investir. Com o aumento do número de corretoras, que investiram fortemente em marketing e em tecnologia nos últimos anos, a diversificação tornou-se mais acessível. Não podemos esquecer dos influenciadores digitais que trouxeram a educação financeira para as redes sociais e que também motivaram essa forte entrada das pessoas físicas na B3″, salientou a especialista.

Mais informações e maior tempo para pesquisar sobre investimentos

Segundo dados da B3 (B3SA3), a cada dez investidores que aplicam na bolsa de valores, seis possuem de 16 a 45 anos. O público jovem na bolsa aumentou nos últimos quatro anos. A faixa de idade citada anteriormente já configura aproximadamente R$ 100 bilhões dos R$ 382 bilhões sob custódia da B3, de acordo com informações do “Estadão”.

Gomes e Ikedo, os dois especialistas consultados pelo “Suno Notícias”, também citaram a influência de um maior número de informações sobre mercado em redes sociais. Na opinião de Gomes, é preciso ficar atento, pois nem sempre os conteúdos são confiáveis. “Sou cético em relação a isso, até porque a qualidade é bem discutível. Há uma contribuição sim, e deve ser considerada. Mas, supondo que tais canais de fato têm a missão de bem informar e formar investidores, caso a renda fixa fosse o norte, é para lá que migraria o mercado”, diz o especialista.

Ikedo também fala sobre a importância de estar atento a veracidade das informações e para isso diz que é imprescindível que um órgão regulador aumente a fiscalização nas redes sociais e que fiscalize os conteúdos que estão sendo entregues por influenciadores que, por vezes, nem possuem formação ou uma experiência sólida no mundo de investimentos.

O movimento de entrada de investidores na bolsa de valores deve continuar?

De acordo com os dois especialistas, o crescimento do número de pessoas físicas na bolsa de valores brasileira deve continuar seguindo este ritmo. “Mantido tudo constante, parece sim um movimento, uma tendência. É bom saber que que se um indivíduo tivesse aplicado US$ 100 em 1928 na bolsa e outro os mesmos US$ 100 em títulos de renda fixa, o primeiro estaria hoje 63 vezes com mais dinheiro que o segundo”, diz Gomes.

Ikedo também confirma que o movimento de entrada de investidores na bolsa de valores deve seguir o fluxo visto nos últimos dados divulgados pela B3. “Acredito que ainda teremos uma forte entrada de novos investidores, à exemplo do que já acontece em mercados maduros, tendo como grande referência os Estados Unidos. O cenário de juros baixos deve permanecer no curto e no médio baixo e a diversificação de ativos deverá estar cada vez mais presente na vida do investidor”, conclui a especialista em investimentos e finanças.

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Juliano Passaro

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