Magazine Luiza (MGLU3): quem está bem no digital, vai surfar a onda, diz Trajano
Apesar do trimestre mais desafiador da história para o Magazine Luiza (MGLU3), o clima de otimismo tomou conta da gestão da empresa. Não à toa. Mesmo com prejuízo de R$ R$ 62,2 milhões no período, as vendas foram recordes, de R$ 8,6 bilhões, alta 49% sobre o mesmo período de 2019 -alta comemorada pela companhia, principalmente em relação ao desempenho online.
Em entrevista ao SUNO Notícias, o CEO do Magazine Luiza, Frederico Trajano, afirma que o pior da pandemia causada pelo coronavírus (covid-19) já passou e que os hábitos de consumo adquiridos durante a pandemia, como o de comprar online, devem perdurar.
“Acho que o e-commerce é secular, irreversível e inexorável. Vai crescer. Todo país saiu mais digital do que entrou na pandemia. E quem está bem como nós para aproveitar o digital, vai surfar a onda”, afirmou o CEO.
Com o recorde nas vendas, Trajano afirma que o auxilio emergencial do governo federal ajudou os brasileiros a manterem o poder de compra durante a pandemia.
“Nosso share é maior no online do que no offline, então nós vamos melhorar. Mas, o offline está indo muito bem também por conta do coronavoucher. Acho que essa foi a medida econômica mais efetiva, não só do Brasil, mas do mundo”, disse.
Trajano, que chegou a criticar o fim do isolamento social em meio a alta do número de novos casos no País, afirma que a abertura gradual é o correto para o momento e que a companhia se preparou para isso.
“Eu estou confortável hoje que em nossas unidades, nossa equipe está segura. Mas eu demorei para ter essa segurança, investimos para isso”, disse o CEO do Magazine Luiza.
Confira a entrevista do SUNO Notícias com Frederico Trajano, CEO do Magazine Luiza:
♦
-O que o senhor achou do resultado do Magazine Luiza?
Diante do contexto, talvez o trimestre mais desafiador de qualquer CEO tenha participado. A gente tinha uma crise econômica, social e de saúde. A gente iniciou o trimestre com muitas inseguranças, com minha decisão de fechar 100% das lojas no final de março, então um contexto muito desafiador. Eu considera um trimestre épico.
Tem três destaques que corroboram isso. Tivemos cerca de 100% das lojas fechadas em abril e fomos reabrindo ao longo de maio e junho. Ou seja, ao longo dos três meses, tivemos 35% apenas das lojas abertas, porque fomos muito conservadores fechando antes de todo mundo e abrindo depois. Tínhamos um score interno que, mesmo se a prefeitura liberasse e nós achássemos que ainda era arriscado, nós não abríamos a loja.
Cheguei a falar que se precisasse ficar dois anos com as lojas fechadas, tínhamos caixa para isso. Então mesmo tendo 65% menos lojas que o ano passado, crescemos 49% trimestre no GMV [Gross Merchandise Volume], com loja fisica e e-commerce.
Então, acho que esse número por si só é épico e ele somado a geração de caixa, que foi de R$ 2 bilhões no trimestre, o que torna tudo muito saudável. Eu que sou um cara comedido na hora de falar de resultados, eu acho que eu devo a minha equipe adjetivos superlativos, porque de fato foi um desempenho super bacana.
-O que impactou esse resultado positivo na visão de vocês?
Tivemos, sim, crescimento impulsionado principalmente pelo e-commerce. Ele cresceu 138% em abril e 200% em maio e junho, mais as lojas que foram reabertas estão indo muito bem. Acho que muito impactado pelo coronavoucher, mas é muito positivo, então ainda sem ter quase todas as lojas abertas em junho, o faturamento da empresa na loja física quase empatamos com o ano passado. Então, ainda sem ter quase todas as lojas abertas em junho, o GMV da empresa cresceu 85%.
O resultado é crescente e um livro de três capítulos. Primeiro capítulo é abril: temos terra arrasada, lojas fechadas, preocupação com saúde dos funcionários, aí obviamente, acabamos pivotando ainda mais uma operação que já era digitalizada para o e commerce. Ainda sim conseguimos crescer 7% em relação ao ano passado em abril, maio crescemos 46%, depois cerca de 80% em junho.
Isso se refletiu no boottom line. Então, o trimestre como um todo gerou resultado, mas o bottom line foi negativo em R$ 60 milhões, tudo recorrente, mas se você olhar os três meses, você vê que a gente abriu para o mercado entender, a medida que fomos progressivamente abrindo as lojas, o faturamento também foi crescendo.
Então você vê que o resultado foi melhorando e essa margem de EBTIDA não deve ficar nesse patamar pois temos três fatores que vamos investir. Primeiro é que estávamos com as contratações congeladas.
Então, com esse crescimento acelerado, começamos a pecar um em atendimento e nosso padrão é muito alto em atendimento. Você aumenta em 200% o e-commerce e não contrata ninguém, você tem um problema. Então vamos contratar 2.500 pessoas neste trimestre, a maioria para canais de atendimento, operações para CDs e lojas para despacho de mercadorias, e no LAB que a gente sempre contrata, com desenvolvedores.
Também lançamos o cashback. Lançamos a conta digital no ano passado, mas o lançamento oficial foi agora em julho e a ideia é investir bastante para que os clientes ativem a conta. Então, em poucas semanas, tivemos 1 milhão de contas criadas. É uma estratégia para aumentar a frequência de uso do aplicativo, já que tudo isso está em um aplicativo só.
Acho também que o custo de captação de cliente deve voltar pois estava muito baixo. Então deve voltar, mas continuaremos a operar com rentabilidade. Eu estou positivo para o trimestre. Soltamos o número de julho agora que está no mesmo patamar do mês de junho, com 80% de crescimento no GMV total.
Para finalizar, teve um fato a ser comemorado. Eu brinco que é a tríplice coroa. Viramos líderes do setor em bens duráveis, coisa que nunca havíamos conseguido, é uma fotografia, não um filme. O objetivo do trabalho não foi virar líder, mas a liderança é relevante. Para nós é uma conquista que a equipe está bem feliz. É um marco.
-O Magalu teve um prejuízo de R$ 62 milhões, mas, abril foi terra arrasada e com o passar dos meses, a evolução do resultado apareceu. Dá para falar que o pior já passou para o Magazine Luiza?
Sem dúvidas. Agora eu estou com 91% das lojas abertas, a gente está inaugurando novas lojas. Se você ver julho, o crescimento foi muito parecido com junho.
O e-commerce teve a Netshoes entrando na base. Em junho tinha só dez dia dela na base, já em julho estava o full. Então, eu estou otimista. Acho que o e-commerce é secular, irreversivel e inexorável. Vai crescer. Todo país saiu mais digital do que entrou na pandemia. E quem está bem como nós para aproveitar o digital, vai surfar a onda.
Nosso share é maior no online do que no offline, então nós vamos melhorar. Mas, o offline está indo muito bem também por conta do coronavoucher. Acho que essa foi a medida econômica mais efetiva, não só do Brasil, mas do mundo.
Essa plataforma para se fazer distribuição de renda é muito positiva. Nos EUA chega um cheque na sua casa. Aqui, temos uma base de dados e plataforma, que vêm lá do Bolsa Família, que é muito efetiva. Ela ajudou muito a economia, o varejo como um todo, vejo como positivo e não acredito que o governo vai reduzir significativamente isso até o final do ano. Será um soft landing e lembrando que, em dezembro, terá o 13º do Bolsa Família.
-O foco parecia ser vestuário com Netshoes, mas os bens duráveis e de consumo parecem ter ganho espaço nessa pandemia. Isso chegou para ficar? O vestuário ficará um pouco de lado?
Não. Tivemos muito destaque nas categorias. A Netshoes teve um resultado histórico, líder do setor, e com o primeiro lucro líquido da sua história em quase 20 anos. A Zattini foi muito bem também. Nosso site de beleza, a Época, também foi muito bem.
O eletro foi particularmente bem pois as pessoas estão em casa e passaram a investir mais em equipar as casas. Passaram a gastar menos em cinemas, restaurantes, e consumir mais coisas para casa. Acho que foi isso que gerou esse fenômeno e ainda acho que o futuro do e-commerce está em categorias novas e não em bens duráveis, que já está altissimamente bem penetrado. Esse é uma fenômenos que, enquanto tiver algum tipo de isolamento vai prevalecer, mas pensando em longo prazo, isso vai se acomodar e as novas categorias devem se destacar.
O senhor chegou a dizer que o Brasil era o único a flexibilizar o isolamento com os contágios subindo. Não tivemos uma queda que justificasse a reabertura, mas parece ter sido esse o caminho. Como o senhor vê isso? Continua acompanhando?
Sim, estamos. Tenho três checkpoints semanais com as equipes para acompanhar os índices por cidade. O que está acontecendo no Brasil é que o número de mortes está em um platô alto e a pandemia está longe de estar controlada. Aqui, todos os lugares que já tiveram uma crise na pandemia, eles não estão tendo uma segunda onda.
Aqueles locais que não tiveram no começo, estão tendo agora. Então, é uma situação não controlada, mas não há segunda onda. Estamos vendo lugares que não tinham tido problema, terem problemas agora.
Acho que hoje, depois de estudar melhor a doença, implicações e seus mecanismos de contágio, a gente investiu muito em infraestrutura de segurança, testagem e protocolos de segurança ao longo da pandemia. Inclusive aumentamos muito a nossa base de despesas para garantir a segurança de lojas que estão abertas.
Eu estou confortável em reabrir pois não tenho nenhum funcionário internado. Estamos em uma situação muito controlada para nossos funcionários e clientes. Eu estou confortável hoje que em nossas unidades, nossa equipe está segura. Mas eu demorei para ter essa segurança, investimos para isso.
Eu não acho que é todo o varejo que está tendo. Agora, também não há situações críticas, como Manaus (AM) no começo da pandemia, então, agora, não faz mais sentido você não ter uma reabertura da economia mais racional. Nenhum país aguenta 12 meses de isolamento. Se precisasse, nós conseguiríamos, mas, hoje, é correto o processo gradual de reabertura.
-Vocês tiveram algum ajuste não recorrente em relação a revisão tributária no Magazine Luiza?
Não. A gente teve no ano passado, mas nem consideramos agora, já que estava totalmente apartado, nem consideramos ele.