Hapvida (HAPV3) pressiona por utilização de cloroquina, diz jornal

A Hapvida (HAPV3) demitiu um médico e estaria pressionando seus profissionais de saúde para a utilização da hidroxicloroquina no combate da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). As informações foram divulgadas pelo jornal “Folha de S.Paulo” nesta sexta-feira (29).

Segundo o jornal, a Hapvida estaria auditando os prontuários médicos de clientes confirmados com a doença e elencando um “ranking de médicos ofensores”, ou seja, aqueles que não utilizam a hidroxicloroquina no processo de recuperação dos pacientes.

Além disso, o jornal revela que um chefe responsável por uma das unidades de saúde da companhia afirmou, em um grupo do WhatsApp com médicos, que “não cabe discussão sobre a hidroxicloroquina”. Ele teria comunicado aos profissionais de saúde que deveriam parar de informar pacientes sobre o risco da medicação.

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Ademais, o chefe responsável avalia que “é necessário impedir o retorno de pacientes graves” às suas unidades, alegando que uma companhia do tamanho da Hapvida não faria algo sem ter algum tipo de respaldo. O executivo, no entanto, não apresentou comprovações científicas da eficácia da utilização do medicamento.

Médicos de Pernambuco e Ceará, em forma de anonimato, relataram ao jornal que as pressões sobre a prescrição e uso do medicamento, além dos aplicativos de mensagens, foram feitas em reuniões presenciais.

Um deles, o qual trabalhava em uma unidade no Ceará, disse que foi procurado pessoalmente por um coordenador médico em seu consultório. O objetivo da conversa foi para questioná-lo o motivo de não estar prescrevendo o medicamento para pacientes considerados suspeitos de coronavírus.

O médico se justificou dizendo que os estudos sobre a eficácia da cloroquina e seus derivados ainda são inconclusivos no combate da Covid-19, e manteve sua posição de não recomendar o medicamente quando não era expressamente necessário. Acabou sendo demitido nove dias depois.

Hapvida já previa o uso de hidroxicloroquina

No início dos impactos da pandemia no Brasil, a companhia determinou a prescrição da cloroquina para todos os clientes com mais de 30 anos e sem comorbidades, e que já possuam sintomas da doença há quatro dias. O protocolo de uso do medicamento a pacientes com mais de 60 anos, inclusive, recomenda a aplicação da cloroquina mesmo sem a apresentação das comorbidades.

A utilização da hidroxicloroquina não é consenso na comunidade médica em todo o mundo. Na última segunda-feira (25), a Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que suspendeu os estudos com o medicamento, com o objetivo de reavaliar a sua segurança.

No Brasil, três entidades aconselham o não uso da hidroxicloroquina, cloroquina e seus derivados com azitromicina. São elas:

  • Associação de Medicina Intensiva Brasileira
  • Sociedade Brasileira de Infectologia
  • Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia

Mesmo com as contradições e incertezas acerca da eficácia do medicamento no combate da doença, a Hapvida, no mês passado, passou a vender o tratamento completo da hidroxicloroquina a R$ 18, além de permanecer com o procedimento de uso.

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No início deste mês, a empresa adquiriu o remédio e passou a distribuí-lo de forma gratuita em unidades de pronto atendimento. Em nota à imprensa, o CEO da companhia, Jorge Pinheiro, defendeu a distribuição do medicamento e afirmou que já possuía medicamento para o tratamento de 20 mil pessoas. “Mas estamos trabalhando para ampliar essa quantidade”, disse.

Segundo a “Folha”, o Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) já recebeu as denúncias dos médicos pressionados pela companhia. O órgão abrirá uma sindicância para investigar o caso.

Contatada pelo SUNO Notícias, a empresa informou que “o profissional médico é sempre a autoridade máxima quando o principal compromisso é salvar vidas. Prova disso, no que se refere à prescrição da hidroxicloroquina dentro das nossas unidades, é que pouco mais que a metade dos pacientes recebeu a medicação por prescrição médica e consentimento do cliente. Cerca de metade dos médicos adotou a droga como tratamento, em comum acordo com os pacientes”.

“A outra metade dos pacientes não recebeu, porque não houve prescrição médica. Prova da soberania do médico. O profissional teve total liberdade de tomar outra condução terapêutica”, segundo a companhia.

“Nosso corpo médico das emergências e urgências é formado por 2 mil médicos. Se houve alguma demissão, seguramente, a prescrição da medicação não foi e nem será o fator decisório. A medicação é doada aos pacientes, que contam com a prescrição como forma de afiançar o acesso ao tratamento, visto que a medicação não é mais encontrada à venda nas farmácias das cidades”, informou a Hapvida.

Jader Lazarini

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