Truxt: bolsa americana deve se recuperar mais rápido que brasileira

A crise causada pelo coronavírus (covid-19) atingirá a economia global e a recuperação pode demorar. Mas, quando vier, os EUA deverão liderar a reabilitação e, consequentemente, seus ativos, devem se recuperar de forma mais acelerada que os demais, segundo avaliação da Truxt Investimentos.

“Nos EUA há mais impulso para fazer estímulo fiscal. Compramos Bolsa americana porque acreditamos que a economia de lá irá se recuperar de forma mais rápida”, afirmou o CEO da Truxt, José Tovar. Empresas como a Amazon, por exemplo, agradam o gestor.

A opção pela Bolsa dos EUA, contudo, não inviabiliza bons ativos no Brasil. Boa gestão, caixa para enfrentar a crise e vantagem competitiva são características base para qualquer escolha da gestora.

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Segundo o CEO da Truxt, além dessas características básicas, empresas que possuem mais desenvoltura na internet levam vantagem nesse período. “Empresas como Magalu e Mercado Livre, além de Stone”, afirmou.

A recuperação da China, primeiro país a ser impactado pelo coronavírus,  também auxilia a Vale, por exemplo.

“Gostamos muito de Vale pois, quando a China voltar, vai voltar fazendo infraestrutura e isso terá demanda por minério e isso a beneficia”, afirmou.

Confira a entrevista do SUNO Notícias com o CEO da Truxt, José Tovar:

-Me fale um pouco da história da Truxt.
Esse projeto de gestão já tem 20 anos. Fundei a ARX Investimentos no começo de 2001, e a gente teve uma travessia muito boa ao longo dos anos. Vendemos a empresa, mas continuamos tocando em 2008. E, em 2017, esse grupo saiu da ARX e montou a Truxt mantendo a mesma filosofia de gestão.

É um grupo que está junto há bastante tempo. Temos quatro produtos que é bem focado em preservação de capital. Em não correr riscos excessivos.

Um produto é o long short, com ações vendidas e ações compradas. A demanda era muito grande e venceu rápido. Agora, com a crise, reabrimos esse produto para aproveitar a oportunidade e você tem a oportunidade de comprar ações muito mais baratas do que você imaginava, fazendo long e short. Esse produto está aberto.

O segundo produto, que também está aberto, é o macro, que visa investir em uma estratégia de médio e longo prazo em ativos como juros, moedas, índices e estratégias long short, sempre baseado em cenários macro.

O terceiro produto é o produto mais atuante da casa, o nosso long biased, que conta com uma carteira long e short e além disso tem uma carteira adicional net long e ele oscila bastante de acordo com uma visão de médio e longo prazo do time. Ele defende muito nas crises e ganha bem quando a Bolsa anda.

Já o quarto é um long only tradicional. Comprado em uma carteira de ações. No início da crise estávamos com bastante caixa no fundo, pois achamos muito esticados. Mas, depois da primeira grande queda, compramos um bom pedaço de ações americanas.

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Achamos que a economia americana vai se recuperar mais rápido do que a brasileira. Há mais impulso para fazer um estímulo fiscal, o dólar tem mais reserva de valor, então o país irá conseguir fazer um estímulo muito maior.

Temos um portfólio com um pouco de ações brasileiras e um pouco das ações de tecnologia nos EUA, como Amazon, entre outras, que a tecnologia virtual ganhou muito valor com o confinamento.

Temos 40 pessoas na casa. Um time grande de analistas, um time grande de gestores. Estamos na casa de R$ 12 bilhões e estamos em todas as plataformas.

-Como você vê essa crise atual?
Já vimos uma série de crise. A mais parecida foi 2008, mas essa foi financeira, atingiu os bancos, foi muito dolorosa, mas foi atravessada mais ou menos rápido com a injeção e aportes das autoridades monetárias salvando os bancos.

Hoje temos uma crise global que paralisou a atividade de uma forma nunca antes imaginada e é uma crise que afeta oferta e demanda. É uma crise muito nova, que fez com que os países para não deixarem as empresas quebrarem e a população desamparada, aumentaram os gastos públicos de forma grandiosa. Nesse momento é muito importante essa ajuda.

A coisa que não se sabe é quão rápido será essa travessia. A quarentena não pode demorar tempo demais. É complicado, mas sabemos que a quarentena é importante demais.

-Qual vai ser o principal impacto da crise no País?
O Brasil é um país com muita irresponsabilidade fiscal e o novo governo tentava dar uma melhorada no quadro fiscal. Aí veio esse evento e faz com que o fiscal brasileiro piore. A minha grande preocupação é que esses gastos sejam feitos exclusivamente em 2020 para superar a crise e não se tenha uma festa de gastança.

Tirando a crise, meu grande medo para o Brasil essa concessão se tornar permanente. Aí teríamos problemas piores. Se fizermos gastos focados em ajudar informais, os mais necessitados, as pequenas, e quando isso acabar, parar com os gastos, seria maravilhoso. Mas não é o cenário que me parece.

-Você acredita em recuperação em V, U ou L?
A não ser que venha uma vacina amanhã. Se a ciência não ajudar tão rapidamente, eu espero uma recuperação mais lenta, principalmente em países predominantemente de serviços, como aqui e nos EUA.

Então será demorada e dolorosa. O mundo vai ter características diferentes. O mundo serão mais protecionista. Esse mundo onde a cadeia produtiva estava espalhada globalmente, tornando a produção barata e eficiente, vai diminuir. Os estados ficarão menos globalizados e eu acho isso também muito ruim.

O mundo vai sair diferente nessa crise e não necessariamente melhor. Mas, claramente, algumas tecnologias tornarão o mundo diferente, como se acostumar com videoconferência, que era meio esquisito.

Depois do apagão, por exemplo, os hábitos também mudaram. A gente mesmo vive apagando as luzes. E, agora, não será diferente.

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-Você me citou a Amazon no começo do nosso papo. Quais outras empresas estão comprando e por que?
Temos um time muito forte de 12 analistas olhando empresas aqui no Brasil. Empresas, inclusive, que se beneficiam de mais comércio pela internet, como Magalu e Mercado Livre, além de Stone e agora caso como Amazon, essa empresa já está na frente quando tudo acabar.

Compramos Bolsa americana porque acreditamos que a economia de lá irá se recuperar de forma mais rápida.

Gostamos muito de Vale pois quando a China voltar vai voltar fazendo  infraestrutura e isso terá demanda por minério e isso a beneficia.

Gostamos também de Natura, que é uma empresa estruturada, e tem nomes que gostamos em diversas setores. Mas, a aposta em mercados americanos pois achamos que a recuperação de lá virá antes do que a dos emergentes.

-Varejo online vocês também gostam?
Gostamos de empresa que tenha um management comprovadamente competentes, capitalizadas que vão atravessar essa crise sobreviventes, com menos concorrência, dado que não é todo mundo que vai sobreviver e empresas que também tenham vantagem comparativa, como Magalu em digital, Vale em venda para China, Stone nas maquininhas.

Então gostamos de uma série de setores. Gostamos de B3, pois a movimentação aumentou muito e é um monopólio.

Enfim, olhamos para a capacidade de capitalização, vantagens e gestão.

-Você acha que o investidor tomou riscos demais?
Eu vejo o investidor brasileiro saindo do CDI e entrando na B3, com quase dois milhões de CPF, e em um período curto de tempo tomando uma cacetada dessa. Isso deveria ser educativo, com investidor tendo certeza alocando seus recursos de acordo com seu perfil.

Adequação disso se mostrou muito importante agora e que sirva de lição para os investidores.

Agora também é uma boa hora dos gestores que tomaram cuidado porque em 2019 a maré estava alta e a gente vê quem estava com a água no pescoço. Mas, vamos torcer para essa crise passar rápido e a recuperação da economia também.

Entrevista com a Truxt Investimentos

Vinicius Pereira

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