Juros: ritmo de corte deve ser gradual para controlar inflação, diz dirigente do Fed
A presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de São Francisco, Mary Daly, afirmou que há espaço para reduzir os juros dos Estados Unidos neste ano, mas que o processo precisa acontecer em ritmo gradual para equilibrar o controle da inflação e o alcance do “nível neutro certo”. Para Daly, este nível está em algum lugar entre 1% a 2%, provavelmente mais perto do menor nível desta faixa de intervalo.

A dirigente afirmou que as vendas no varejo americano ainda mostram que a economia dos EUA está sólida e “em um bom momento”. “Incertezas sobre as novas políticas não interromperam ainda o consumo e operações de empresas, apenas desaceleraram alguns setores da economia”, comentou.
Daly acredita que o BC norte-americano não precisa ter pressa em ajustar a política monetária e pode ter paciência para analisar os impactos do ambiente incerto sobre a economia, para descobrir se de fato será um grande peso para o crescimento econômico e nas expectativas de inflação no longo prazo. Segundo ela, as taxas de juros, hoje no intervalo entre 4,25% e 4,5% do ano, continuam em uma “boa posição” restritiva para controlar e baixar a inflação americana.
A dirigente esclareceu ainda que quando pensa na postura chamada de dependente de dados pelo BC norte-americano, considera todas as informações disponíveis, incluindo a opinião de empresas sobre o status da economia.
Daly reconheceu que houve um aumento nas expectativas de inflação de curto prazo, como demonstrado recentemente por pesquisas do Fed de Nova York e da Universidade de Michigan, mas atribuiu as mudanças à sensibilidade de consumidores aos preços de energia e alimentos. “Expectativas seguem ancoradas no médio e no longo prazo”, pontuou.
Os comentários aconteceram durante painel de discussão na Universidade de Berkeley, realizado na última sexta-feira (18). Daly não vota nas decisões do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, em inglês) neste ano, cuja próxima reunião será em 6 e 7 de maio.
Juros: é preciso achar “momento certo” para os cortes
A presidente do Federal Reserve de São Francisco admitiu que podem ser realizados mais cortes nos juros norte-americanos que o previsto atualmente, se houver deterioração do mercado de trabalho ou queda acentuada da inflação nos EUA. Em seu último gráfico de pontos, divulgado em março, o Fed previa uma média de duas reduções de 25 pontos-base (pb) neste ano, o que levaria as taxas ao intervalo entre 3,75% e 4% ao ano.
Contudo, este não é o cenário base de Daly. “Economia dos EUA está caminhando para onde gostaríamos, mas o riscos de alta para a inflação estão crescendo”, alertou. “Minha reação dependerá do progresso que vamos ter na inflação.”
A dirigente reiterou que o apropriado será um processo gradual de redução dos juros a partir do final deste ano, para evitar apertar demais a economia, caso a inflação continue próxima de 2% e a economia em bom desempenho. “Só temos uma promessa, que é garantir a estabilidade de preços”, lembrou. “Ter uma política monetária restritiva agora para controlar a inflação não significa que será assim para sempre.”
Daly reforçou que o escopo, a magnitude e o timing do reequilíbrio do comércio global provocado pelas tarifas do governo Trump e seus eventuais impactos terão papel importante nesta decisão. A presidente do Federal Reserve de São Francisco apontou que a volatilidade dos mercados financeiros globais era esperada e acontece de maneira “ordenada”, refletindo apenas uma tentativa dos investidores de “se adaptarem e digerirem todas as mudanças recentes” nas políticas dos EUA.
“Estamos vendo uma ampla renegociação do comércio ao redor do mundo, que poderá mudar fluxos e a forma como as pessoas investem”, disse ela, no painel de discussão na Universidade de Berkeley. “Quando soubermos onde as novas políticas vão parar, será mais fácil calcular o impacto. Não é possível fazer isso com incerteza.”
Além das políticas comerciais, Daly comentou sobre as outras medidas que estão sendo colocadas em execução pelo governo Trump. No caso da imigração, a dirigente apontou que não houve impacto imediato no mercado de trabalho. “Taxas de desemprego, salários e taxas de contratação não mudaram. Já as taxas de participação e de produtividade aumentaram, o que é positivo”, destacou.
Com Estadão Conteúdo