À medida que o cenário econômico se torna mais desafiador, gestores de fundos multimercado estão adotando novas estratégias para 2025, conforme revela uma pesquisa da XP realizada entre os dias 20 e 23 de janeiro.
O levantamento destaca que os gestores estão aumentando as posições tomadas em juros reais em 13 pontos percentuais, com a principal redução vindo do posicionamento neutro. Além disso, houve um crescimento (+12pp) nas apostas em juros de países do G10, refletindo uma expectativa de inflação mais alta e juros elevados.
Por outro lado, o estudo também sugere um otimismo crescente em relação ao dólar, com 83% das gestoras optando por posições compradas.
Esta tendência é acompanhada por uma visão mais pessimista em relação a outras moedas, principalmente em relação ao real, onde 67% das gestoras estão posicionadas vendidas, indicando uma expectativa de desvalorização da moeda brasileira no curto e médio prazo.
Mesmo assim, ainda existe uma parcela de 33% que aposta na valorização do real.
Na renda variável, a pesquisa identificou uma redução do consenso em relação à direção das bolsas no Brasil e no mundo. Houve um aumento de 25% para 33% no posicionamento comprado, enquanto 20% das gestoras de fundos multimercado estão vendidas e 47% neutras.
“Isso demonstra uma confiança moderada, mas também uma cautela significativa devido à volatilidade e aos riscos associados ao mercado brasileiro”, dizem os analistas da XP, acrescentando que, em relação ao tamanho da posição, a maioria dos gestores mencionam posições pequenas em ações brasileiras.
Nos Estados Unidos, 60% dos gestores estão com posição comprada, o que reflete um otimismo com as ações americanas. No resto do mundo, há um equilíbrio entre posições compradas (10%) e vendidas (7%), e 83% dos gestores indicam posicionamento neutro, com uma abordagem mais cautelosa, segundo a XP.
Gestores de fundos também apostam na alta da Selic, da inflação e do PIB
Em relação às expectativas sobre a taxa Selic, 29 dos 30 gestores consultados antecipam uma alta de 1 ponto percentual na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), prevista para esta quarta-feira, passando de 12,25% para 13,25%.
Esta projeção está em linha com o consenso do mercado e o último comunicado do Copom. Quanto à inflação (IPCA) para o final de 2025, a média esperada pelos gestores é de 5,71%, acima das últimas estimativas do Focus, que eram de 5,08% e 5,50% em 20 e 27 de janeiro, respectivamente.
Os analistas da XP, Clara Sodré, Luiz Felippo e José Pini, sugerem que isso reflete uma precificação de riscos inflacionários em um cenário macroeconômico desafiador.
Sobre o Produto Interno Bruto (PIB), a média das projeções dos gestores é de 2,06%, levemente otimista em comparação ao Focus, que trouxe um número semelhante em seu boletim mais recente. Essas novas estratégias e ajustes nas expectativas evidenciam a necessidade de adaptação e atenção constante por parte dos gestores em um ambiente econômico em constante evolução.
Fundos multimercado tiveram dificuldades em 2024, com algumas exceções
Em 2024, a maioria dos fundos multimercado não conseguiu acompanhar o CDI, com uma mediana de retorno de apenas 6,68%, enquanto o CDI foi de 10,88%, sregundo dados do Guia de Fundos do Valor.
No entanto, alguns fundos se destacaram: o Adam Macro II FIC FIM obteve um retorno de quase 29%, e o Kadima High VOL FIM alcançou 24,7%.
Entre os fundos long and short, que são multimercados que operam comprados e vendidos na bolsa de valores, o desempenho também foi desafiador, com a mediana de retorno em 6,63%.
Contudo, o AZ Quest Total Return se destacou com quase 20%, enquanto o Kadima Long Short Plus FIC FIA registrou 17,2%. Apesar do cenário geral ruim, esses fundos conseguiram gerar retornos positivos em um ano difícil para o setor.
Jornalista com doutorado pela UFMG e produtor de conteúdo da unidade de mídias da Suno. Também trabalha no FIIs.com.br e Funds Explorer, fazendo a cobertura sobre FIIs, Fiagro e FI-Infra.