João Victor Oliveira

Entenda o carry trade, estratégia que impactou a Bolsa japonesa

Entenda o que é, como funciona e quais são os riscos do carry trade, bem como a forma que a estratégia impactou o desempenho da bolsa japonesa recentemente

O carry trade é uma estratégia que envolve a tomada de um empréstimo em uma moeda com taxa de juros baixa e o investimento desses recursos em uma moeda com taxa de juros mais alta. O objetivo é lucrar com a diferença entre essas taxas de juros.

Como Funciona?

  1. Empréstimo na Moeda com Juros Baixos: O investidor toma emprestado uma moeda com uma taxa de juros baixa (por exemplo, ienes japoneses).
  2. Investimento na Moeda com Juros Altos: O valor emprestado é convertido em uma moeda com uma taxa de juros mais alta (por exemplo, dólares australianos) e investido.
  3. Lucro com a Diferença de Juros: O lucro vem da diferença entre a taxa de juros recebida sobre o investimento e a taxa paga sobre o empréstimo.

Riscos

  • Flutuação das Taxas de Câmbio: Se a moeda investida se desvalorizar em relação à moeda emprestada, o investidor pode enfrentar prejuízos ao converter os fundos de volta.
  • Mudanças nas Taxas de Juros: Alterações nas taxas de juros das moedas envolvidas podem impactar a rentabilidade do carry trade.
  • Volatilidade do Mercado: Em momentos de alta volatilidade, os investidores podem rapidamente desfazer suas posições, o que pode levar a movimentos bruscos nas taxas de câmbio.

Agora que entendemos o carry trade, vamos aos acontecimentos no Japão. A bolsa japonesa enfrentou a sua maior desvalorização desde 1987, com uma queda de 12,4%. Inicialmente, muitos atribuíam a responsabilidade pela queda ao novo dado do payroll americano.

No entanto, o que realmente precipitou essa turbulência foram o anúncio de aumento das taxas de juros na sexta-feira (31) e os efeitos do desmonte de carry trades.

A situação já era delicada devido à desaceleração econômica nos Estados Unidos, o que fez com que o iene se valorizasse em 2,1% em relação ao dólar na segunda-feira (5). Esse fortalecimento do iene teve um impacto direto sobre a bolsa de Tóquio, especialmente no índice Nikkei, que é composto em grande parte por exportadoras com receitas denominadas em dólares.

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Com a valorização do iene, essas empresas enfrentaram uma redução significativa em suas receitas quando convertidas de volta para a moeda nacional, resultando em uma queda acentuada de 12,4% no principal índice japonês.

No dia seguinte (6), a bolsa japonesa registrou uma recuperação impressionante, subindo 10,23%. Além disso, o vice-presidente do Banco Central japonês anunciou que não pretende aumentar as taxas de juros enquanto o mercado continuar instável.

De forma análoga, imagine que você está em um barco que enfrenta uma tempestade inesperada. Inicialmente, a tempestade é atribuída a um relâmpago (o dado do payroll americano). No entanto, a verdadeira causa do naufrágio é um forte vento que altera a direção das velas (o aumento das taxas de juros e o desmonte de carry trades).

O barco, já abalado pela tempestade, enfrenta ondas ainda mais altas (a valorização do iene), que fazem com que ele se incline e quase vire (a queda do índice Nikkei). No dia seguinte, o vento se acalma um pouco e a tempestade diminui (a recuperação da bolsa e o anúncio do Banco Central), permitindo que o barco recupere alguma estabilidade.

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Nota

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João Victor Oliveira

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