Guilherme Cavalcanti

Como podemos aprender com bolhas no mercado?

Os verdadeiros investidores de valor entendem a importância de evitar envolvimento em bolhas no mercado de ações. Saiba o caminho para isso.

Os verdadeiros investidores de valor entendem a importância de evitar envolvimento em bolhas no mercado de ações, muitas vezes provocadas pela ganância de curto prazo e pelo comportamento de manada que muitos “investidores” (ou especuladores) tendem a seguir.

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Isso acontece porque os mercados acionários em várias partes do mundo enfrentam, ocasionalmente, grandes bolhas irracionais. Mesmo assim, alguns teóricos ainda defendem a teoria do mercado eficiente, segundo a qual os ativos seriam precificados da maneira mais eficiente possível, com base nas informações disponíveis ao público.

Uma das bolhas mais notáveis na história mundial foi a japonesa, ocorrida no final dos anos 80 e início dos anos 90. Durante esse período, tanto ações quanto ativos reais, como imóveis, ficaram extremamente sobrevalorizados no país. Por exemplo, no auge da bolha, o preço por metro quadrado em Tóquio, a capital do Japão, chegou a US$ 139 mil, quase 350 vezes mais caro do que em Manhattan, Nova York (EUA).

Para ilustrar, o valor do Palácio Imperial de Tóquio equivalia a todo o mercado imobiliário do estado da Califórnia, nos Estados Unidos. Além disso, o principal índice da bolsa de valores japonesa, o Nikkei 225, alcançou um índice P/L (preço/lucro) de 60x em seu pico em dezembro de 1989. Atualmente, o índice está cotado em apenas 31.458 pontos, bem abaixo dos 38.916 pontos de seu pico há 35 anos.

Portanto, se você tivesse investido no índice da bolsa japonesa no seu pico, mesmo após 35 anos, ainda teria um prejuízo de -19%. No entanto, é importante notar que o Produto Interno Bruto (PIB) real do Japão cresceu 62% nesse período.

Causas da Bolha

Diversos fatores contribuíram para o surgimento de uma das maiores bolhas da história, mas vamos focar nas causas comportamentais que podem levar um investidor a entrar nessa loucura.

Nosso cérebro desenvolveu vários vieses e atalhos cognitivos para sobreviver durante a evolução da nossa espécie, Homo Sapiens, em circunstâncias muito diferentes da nossa sociedade atual. Por isso, tomamos muitas decisões irracionais em nosso cotidiano, influenciadas por esses vieses comportamentais.

Portanto, podemos considerar que o ser humano não é totalmente racional, ou pior, é irracional e só tem momentos de racionalidade. Um dos principais motivadores das grandes bolhas, como a japonesa, é o medo de perder uma oportunidade, conhecido pelo acrônimo em inglês FOMO (Fear of Missing Out). Esse viés cognitivo faz com que você tenha medo de não participar de uma oportunidade em que todos estão ganhando dinheiro.

Esse comportamento não faz muito sentido na nossa sociedade atual, pois leva à compra de “oportunidades” que já estão supervalorizadas, porque todos já entraram nelas. Com base nisso, Warren Buffett, o maior investidor de valor de todos os tempos e presidente da Berkshire Hathaway, afirma o seguinte:

“Você pode dar um bônus de US$ 2 milhões a alguém e ele ainda se sentirá miserável, caso a próxima pessoa ganhe um bônus de US$ 2,1 milhões. Charlie já apontou que, dentre os 7 pecados capitais, a inveja é o mais inútil, pois você não tem nada a ganhar com ela. Enquanto na gula claramente você tem um ganho.”

Esse FOMO resulta em efeitos de manada significativos no mercado de ações, levando a grandes bolhas como a observada no Japão, onde quase todas as empresas do país estavam supervalorizadas em relação ao que realmente entregavam aos acionistas.

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O Que Devemos Fazer para Evitar?

Buffett foi muito criticado por não comprar empresas de tecnologia durante a “bolha da internet”, que estourou em 2001. Mas foi justamente por ter essa mentalidade independente e não sucumbir ao FOMO que ele teve um prejuízo de apenas 0,1% nos anos 2000 e 2002, enquanto o índice da bolsa de tecnologia NASDAQ caiu cerca de 50% nesse período.

O Oráculo de Omaha afirma que, para um verdadeiro investidor de valor – aquele que compra empresas com base em seu valor intrínseco (resultado da capacidade de gerar fluxos de caixa para os acionistas) –, é simples ter essa mentalidade independente.

Conclusão

Com tudo isso, fica claro a necessidade de os investidores de longo prazo controlarem seus vieses comportamentais para não serem atraídos por mercados supervalorizados, como a bolha japonesa do final dos anos 1980.

Uma maneira de controlar o FOMO é seguir o exemplo de Buffett e analisar a relação entre o valor intrínseco de um negócio e seu preço, em vez de tentar prever o comportamento do mercado nos próximos anos.

Lembre-se: se Buffett fosse um investidor japonês durante essa bolha, ele simplesmente teria concluído que não havia nenhuma grande oportunidade disponível no momento e esperaria por uma nova oportunidade surgir. Muitas das melhores decisões que podemos tomar no mercado é simplesmente o fato de não fazermos nada!

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Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

Guilherme Cavalcanti

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