Com deterioração das expectativas, Selic de um dígito ficou para 2025?

A última reunião do Copom, no início de maio, cortou a Selic em 25 pontos-base, para 10,50% ao ano, interrompendo um ciclo de seis cortes consecutivos de 50 pontos-base. De lá para cá, as expectativas vêm se deteriorando e um cenário de taxa de juros terminal de um dígito ainda em 2024 parece cada vez mais distante.

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De acordo com as projeções do Boletim Focus desta semana, a Taxa Selic deve encerrar este ano em 10%, mesma projeção da semana anterior. Na pesquisa retrasada, a expectativa era por uma taxa de juros de 9,75% ao final de 2024.

“Houve uma mudança de perspectiva muito grande. A gente estava seguindo uma trajetória de queda ali até 9,50%, 9%, e agora devemos encerrar o ano acima de 10%. Acredito que isso vai acontecer, para retomar o ciclo de quedas somente no ano que vem”, projeta Beto Saadia, economista e diretor de investimentos da Nomos.

“Realmente, a Selic de um dígito é mais difícil agora. Os juros lá fora seguem inalterados, e com isso o dólar se fortalece no mundo. Consequentemente, isso é ruim para o Brasil pela questão de produtos importados, o que faz com que a nossa cadeia produtiva fique mais cara e a inflação suba. Então os juros não podem cair tão rápido”, complementa o analista de investimentos Rodrigo Cohen.

A expectativa inicial do mercado era a de que os juros dos Estados Unidos começassem a cair em março, o que não aconteceu. Agora, essa possibilidade ficou para julho, mas boa parte dos investidores espera que o ciclo de relaxamento monetário por lá comece apenas no ano que vem. E como explicado anteriormente, isso trava a queda da Selic por aqui.

No entanto, outro fator que vem impactando os juros no Brasil é a questão fiscal. Na semana passada, o governo piorou a estimativa de déficit fiscal em 2024, e isso traz um sinal muito negativo para os DIs, ou juros futuros. É a manifestação do chamado “risco Brasil“.

“O impacto fiscal é muito grande, talvez maior do que muita gente está precificando. Tem uma deterioração da relação do Planalto com o Congresso, pautas bombas e até uma suposta divisão política sendo atribuída à diretoria do Banco Central. Tiveram algumas declarações do Haddad em relação à mudança de meta também. Então vem tudo daí, tudo é o discal que está pegando mesmo”, diz Saadia.

“O Banco Central não pode derrubar os juros da forma que gostaria, porque a questão fiscal impacta negativamente nisso, principalmente na inflação. A gente vê que o possível pesadelo está se tornando realidade”, complementa Cohen.

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Selic pode voltar a subir em 2024?

Parece um consenso a opinião de que os juros do Brasil ficarão na casa dos dois dígitos ao final de 2024. Dada a falta de gatilhos para cortes mais bruscos na Selic e uma deterioração das expectativas tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, os investidores mais pessimistas podem ficar com uma pulga atrás da orelha sobre uma possível retomada da trajetória altista dos juros.

“Uma alta de juros ainda é um cenário improvável. Isso porque a inflação corrente já mostra desaceleração. O que se deteriorou foram as expectativas, refletidas no Focus, na curva de juros, e na sinalização fiscal. Essas expectativas têm importância, pois geralmente influenciam na inflação futura. Mas a inflação corrente atual por enquanto não sofreu nenhum impacto”, pondera Saadia.

“Acho pequeno o risco do Copom voltar a subir juros. Mas ainda estamos em maio, então tudo pode acontecer. Existe o risco de os Estados Unidos apresentarem dados ruins e os juros terem que subir lá. Aí o dólar se fortaleceria e a inflação aqui também, obrigando uma alta de juros. Ou um boom de petróleo ou minério, por exemplo. Então é possível. Eu não acho que vá acontecer, mas é sempre possível”, completa Cohen sobre a Selic.

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Guilherme Serrano

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