Redução da Selic considerou credibilidade do compromisso no combate à inflação, diz ata do Copom
Na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta terça-feira (14), o Banco Central (BC) afirmou que, em relação à decisão de redução da Selic de 10,75% para 10,50%, os diretores se dividiram entre um eventual custo reputacional de não seguir um “guidance”, mesmo que condicional, e o risco de perda de credibilidade sobre o compromisso com o combate à inflação e com a ancoragem das expectativas.
“Consideraram, para tanto, que o cenário esperado não se confirmou em função da desancoragem adicional das expectativas, da elevação das projeções de inflação, do cenário internacional mais adverso e da atividade econômica mais dinâmica do que esperado”, pontuaram os membros do Copom no documento.
Assim, para tais membros, o forward guidance indicado na reunião anterior sempre foi condicional e houve alteração no cenário em relação ao que se esperava, ressaltando que muito mais importante do que o eventual custo reputacional de não seguir um guidance – mesmo que condicional – é o risco de perda de credibilidade sobre o compromisso com o combate à inflação e com a ancoragem das expectativas.
“À luz do que foi analisado, tais membros consideraram que uma redução de 0,25 ponto percentual era mais apropriada para o atingimento da inflação na meta no horizonte relevante”, escreveu a equipe.
A decisão tomada na semana passada – que não foi unânime – surpreendeu o mercado. Votaram por uma redução de 0,25 ponto percentual: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Otávio Ribeiro Damaso e Renato Dias de Brito Gomes. Votaram por uma redução de 0,50 ponto percentual: Ailton de Aquino dos Santos, Gabriel Muricca Galípolo, Paulo Pichetti e Rodrigo Alves Teixeira.
O Boletim Focus desta semana trouxe estimativas que apontavam para uma Selic a 9,75% no final do ano, ante 9,63% divulgado antes da decisão do Copom.
Selic: o que disse o grupo que votou pela redução de 0,50 ponto percentual?
Por sua vez, os membros do comitê que votaram pela redução de 0,50 ponto percentual na taxa Selic também compartilharam da percepção de aumento das incertezas internas e externas entre as reuniões de março e maio, além do firme compromisso com o objetivo fundamental de atingimento da meta e de reancoragem das expectativas.
“O debate proposto por tais membros foi sobre o custo de oportunidade de não seguir o guidance vis-à-vis a mudança de cenário no período. Como em debates ocorridos em outras reuniões, tais membros discutiram se o cenário prospectivo divergiu significativamente do que era esperado a ponto de valer o custo reputacional de não seguir o guidance, o que poderia levar a uma redução do poder das comunicações formais do Comitê”, explicou a ata.
De acordo com o Copom, para tais membros, julgou-se apropriado, tal como em reuniões anteriores, seguir o guidance, mas reafirmando o firme compromisso com a meta e com a requerida taxa de juros terminal para que o objetivo principal do Comitê de convergência da inflação para a meta seja alcançado.
Os membros ressaltaram ainda que a extração da tendência subjacente da dinâmica inflacionária em um ambiente incerto é difícil, mas não deveria, de forma alguma, ser confundida com leniência com relação aos indicadores divulgados no período, em particular as expectativas de inflação.
“Robustecendo a análise, notaram que as projeções de inflação eram mais afetadas pela determinação da taxa de juros terminal e que a redução de 0,50 ponto percentual ainda manteria a política monetária suficientemente contracionista. Por fim, tal grupo enfatizou a necessidade de flexibilidade das decisões nas reuniões a partir de junho, o que permitiria, à luz de novo conjunto de informação, calibrar a trajetória do instrumento de política monetária da forma apropriada”, acrescentaram.
O que o Copom avaliou?
Sobre a redução da Selic, o Copom avaliou que o ambiente externo mostra-se mais adverso, em função da incerteza elevada e persistente referente ao início da flexibilização da política monetária nos Estados Unidos e à velocidade com que se observará a queda da inflação de forma sustentada em diversos países.
Para a equipe, os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho, enquanto o Comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes.
Já no ambiente doméstico, o conjunto de indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado maior dinamismo do que o esperado.
Copom: redução da taxa é estratégica para convergência da inflação
Sobre a decisão em reduzir a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, para 10,25% a.a, o Copom entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2025.
O comitê reforçou, ainda, que essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
O grupo considerou que a conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação desancoradas e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária.
O grupo avalia, unanimemente, que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade e expectativas desancoradas demandam maior cautela, e reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.
“O Comitê também reforça, com especial ênfase, que a extensão e a adequação de ajustes futuros na taxa de juros serão ditadas pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”.
Reancoragem das expectativas de inflação é essencial, diz Copom
Sobre as expectativas de inflação, a equipe avalia que a reancoragem delas é vista como elemento essencial para assegurar a convergência da inflação para a meta.
Além disso, o Comitê avalia que a redução das expectativas requer uma atuação firme da autoridade monetária, bem como o contínuo fortalecimento da credibilidade e da reputação tanto das instituições como dos arcabouços fiscal e monetário que compõem a política econômica brasileira.
Assim, em seus cenários para a inflação, o Comitê listou os que fatores de risco permanecem em ambas as direções. No caso dos riscos de alta, destacam-se uma maior persistência das pressões inflacionárias globais, além de uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado.
Já entre os riscos de baixa, o Copom ressaltou uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, além dos impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.
“O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional devem se manter mais incertas, exigindo maior cautela na condução da política monetária”, completou.
Decisão sobre redução da taxa não foi consensual
O Comitê avaliou que em primeiro lugar, apesar de uma elevação da trajetória de juros advinda da pesquisa Focus, utilizada no cenário de referência, observou-se elevação na projeção de inflação para o horizonte relevante de política monetária.
Assim, de forma análoga, as expectativas de inflação para o mesmo horizonte, que se mostravam desancoradas em patamar estável nos últimos trimestres, se elevaram desde a reunião anterior.
“Além disso, o cenário de mercado de trabalho e de atividade tem apresentado maior dinamismo do que o esperado pelo Comitê. Por fim, julgou-se que o cenário externo está mais adverso e requerendo maior cautela na condução da política monetária”, diz a ata.
Assim, após a análise do cenário, a maioria do Comitê avaliou que era apropriado reduzir a taxa Selic em 0,25 ponto percentual.