O que esperar das ações da Petrobras (PETR4) após a “semana-bomba” da demissão de Prates?
Na última segunda-feira (13), a Petrobras (PETR4) reportou aos seus investidores os resultados corporativos do 1T24. Até aquele dia, a empresa vivia um bom momento na Bolsa e a aposta entre casas de análise era de que os resultados do trimestre não atrapalhariam o caminho para alta das ações, que caíram com a crise dos dividendos em março.
Os números trazidos pela petroleira no balanço da Petrobras mostraram um lucro líquido 37,9% menor do que o registrado no mesmo período de 2023, em razão de menores volumes de venda, redução do preço do petróleo e das margens na venda de diesel — uma tendência já prenunciada no relatório de produção da companhia.
Embora a queda no ritmo fosse esperada pelo mercado, preparando terreno para um menor volume de dividendos no trimestre, não se esperava que o impacto fosse da escala divulgada. No comunicado, a companhia reportou dividendos da Petrobras na ordem de US$ 2,61 bilhões, com o consenso do mercado apontando para pagamentos no trimestre superiores a US$ 3 bilhões.
A frustração com os números resultou em uma queda de 2% das ações da Petrobras no pregão da terça-feira. De todo modo, o tropeço operacional da companhia seria apenas um tremor diante do terremoto que viria poucas horas depois.
Em um movimento repentino, o governo anunciou a demissão de Jean Paul Prates da presidência da Petrobras. A trégua com uma ala do Planalto – que defendia a retenção dos dividendos extraordinários e mais investimentos da estatal – terminou com o seguinte desfecho: a “presença regozijada” como qualificado pela carta-despedida de Prates, dos ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Casa Civil, Rui Costa, na reunião com o presidente Lula que definiu a demissão do CEO da Petrobras.
Prates saiu da Petrobras deixando clara a divergência com ministros do governo Lula e o descontentamento com o Executivo.
De lá para cá, os papéis da companhia voltaram a tombar, como ocorre no mercado quando aumenta o temor de interferência política: queda de mais de 6% nas ações preferenciais PETR4 na quarta-feira (15), um escorregão de 2,84% na quinta-feira (16) e outro de 1,66% nesta sexta-feira (17), apagando mais de R$ 50 bilhões em valor de mercado da companhia após a demissão de Prates.
Cotação PETR4
A indicação de Magda Chambriard
O nome defendido pelo governo para a posição de maior destaque na Petrobras é o de Magda Chambriard.
Engenheira de formação, Chambriard atuou na área de produção de petróleo por 20 anos, dentro da própria Petrobras.
Em 2002, ela ingressou na Agência Nacional de Petróleo (ANP) e depois assumiu a assessoria interministerial do governo Lula para avaliar as regras de exploração e produção das reservas de petróleo e gás na área do pré-sal. Entre 2012 e 2016, Chambriard ocupou o cargo de diretora-geral da Agência Nacional de Petróleo (ANP).
Apesar do vasto currículo técnico, a indicação de Magda Chambriard tem deixado o mercado com os dois pés atrás.
Um dos motivos para isso é a defesa feita pela indicada por maior investimento no segmento de refino, além de críticas à política de distribuição de dividendos por parte da Petrobras – como tem feito o governo, com Costa e Silveira à frente defendendo a opinião do próprio Lula.
Outro ponto mal visto pelo mercado está vinculado ao momento escolhido para a troca do comando. Segundo a Genial Investimentos, a substituição de Prates ocorre em um contexto de queda nos índices de aprovação do Governo Federal, alimentando “o risco do uso político da empresa, com o uso de preços dos combustíveis, por exemplo”, expressa o comentário.
A indicação de Magda ainda precisa passar pelo crivo do Conselho de Administração. O cenário é favorável à aprovação, dada a posição majoritária do governo.
Um otimismo com ressalvas para a Petrobras (PETR4)
Após o impasse envolvendo o pagamento de dividendos extraordinários, a mudança repentina no comando da Petrobras gera novas dúvidas sobre qual tipo de gestão será realizada por Magda Chambriard.
Apesar da alta volatilidade enfrentada pelas ações da Petrobras nos últimos dias, analistas do mercado veem espaço para a empresa se recuperar mais adiante. Por isso, o início da nova administração merecerá um atenção mais de perto dos agentes.
Conforme explica o BB Investimentos, que mantém uma tese neutra para a companhia, o sucesso de Magda dependerá do Plano Estratégico (PNE) aprovado pela companhia, seja preservado.
“A companhia não alterou seus fundamentos e deve seguir entregando crescimento na produção com baixos custos, promovendo boa geração de caixa e potenciais dividendos”, dizem os analistas em relatório do BB-BI.
Essas condições poderiam ser alteradas se a nova administração procurar ampliar o patamar de investimentos, além daquele que o PNE atual indica – afetando o nível de retorno dos projetos. Esse é um temor que pode se justificar pela visão mais “nacionalista” da nova indicada e a sua inclinação por aumentar despesas de capacidade produtiva em segmentos alheios ao core business da empresa, essencialmente centrado em Exploração e Produção de petróleo.
Já o BTG Pactual, que mantém recomendação de compra para as ações PETR4 com preço-alvo em R$ 47 (ante os R$ 36,6 atuais) , vê a companhia perseguindo mais fusões e aquisições e procurando formas para controlar a volatilidade do preço dos combustíveis.
Ainda segundo o banco, trocas repentinas no comando não são um fato extraordinário na rotina da companhia. Na argumentação dos analistas, a sucessão de diferentes CEOs desde a implantação da Lei de Estatais teve pouco impacto relevante para uma revisão significativa de projeções de geração de caixa.
“Acreditamos que esse pragmatismo permanecerá, impulsionado pela necessidade contínua do governo federal de administrar as contas fiscais e pelas rigorosas regras de governança e métricas de lucratividade exigidas para a aprovação de investimentos inorgânicos”, diz o relatório sobre a Petrobras.