Casas Bahia (BHIA3): renegociação de dívidas é passo importante para reestruturação, dizem analistas
Em relatórios repercutindo o anúncio da renegociação, por parte da Casas Bahia (BHIA3), de R$ 4,1 bilhões em dívidas através de uma recuperação extrajudicial, analistas enxergam o movimento como um passo importante para a reestruturação da companhia.
O pedido de recuperação extrajudicial da Casas Bahia já é pré-acordado com os principais credores, que detêm 54,5% dos débitos e, portanto, deve ser aplicado também aos demais credores pulverizados, dentre eles, pessoas físicas.
“Vemos o anúncio como um passo importante e positivo em direção à reestruturação da BHIA3, uma vez que reduz fortemente o peso da dívida nos próximos 3 anos, deixando a empresa em uma posição mais confortável para executar outros ajustes operacionais e ajustar sua estrutura de capital. Além disso, observamos que o plano não compromete as obrigações existentes com fornecedores e funcionários”, escrevem os analistas Danniela Eiger, Gustavo Senday e Laryssa Sumer, da XP.
Em relação aos possíveis riscos, a casa observa uma diluição potencial de até aproximadamente 83% atrelada à opção dos credores de converter sua dívida em ações, assumindo os preços atuais e nenhum comprometimento dos atuais acionistas.
Além disso, o banco enxerga um potencial impacto na demanda, principalmente online, a depender da percepção dos consumidores a partir de notícias sobre o plano, sendo Magazine Luiza (MGLU3) a mais beneficiada na frente de lojas físicas, embora com o macro ainda sendo um obstáculo, e Mercado Livre (MELI34) no canal online.
Também em relatório, analistas da Genial Investimentos acreditam que o pregão desta segunda-feira (29) pode trazer uma pressão negativa nos papéis da Casas Bahia, com o mercado acompanhando o risco de diluição dos acionistas no cenário onde os credores optem pela conversão da dívida em equity.
“Contudo, entendemos que este plano é, sem dúvidas, um evento positivo para a companhia, uma vez que endereça os problemas relacionados ao alto custo de dívida da companhia. Com uma redução de despesas financeiras no valor de R$ 60 milhões por ano, o grupo deve continuar seus esforços no plano de transformação 2025 anunciado no ano passado”, destacam os analistas Iago Souza e Nina Mirazon.
“Mantemos a nossa recomendação neutra para o papel. Incorporaremos as novas perspectivas financeiras para a companhia ao nosso modelo. Enquanto isso, movemos o preço-alvo para ‘em revisão'”, completa a casa.
Pedro Coutinho, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital, lembra que a Casas Bahia vem tentando fazer um turnaround relevante dentro da operação, mas a sua liquidez e capacidade de pagamento da dívida de curto e médio prazos ainda eram questões que acendiam a luz amarela para os investidores, principalmente no que dizia respeito ao pagamento de juros anuais.
No entanto, para ele, o plano apresentado reduz os custos financeiros e alonga a dívida, aliviando o fluxo de caixa da empresa de forma relevante no curto prazo.
“Na verdade, acredito que todo o esforço que vem sendo feito pelo CEO da empresa tem sido reconhecido pelo mercado. É verdade que ainda existe bastante dever de casa a ser feito, principalmente na recuperação do tráfego nas lojas e na operação de e-commerce, mas a empresa tem trabalhado para melhorar as condições financeiras da operação, principalmente com um corte de custos severo”, escreve o especialista.
“Acho que a notícia é muito boa para a empresa e para o setor, mas o endividamento excessivo do consumidor brasileiro ainda é um grande ponto de atenção para o varejo. A queda de juros tem tudo para ajudar”, completa.
Casas Bahia: dívidas com Bradesco (BBDC4) e Banco do Brasil (BBAS3)
A operação tem perímetro restrito, ou seja, inclui apenas dívidas financeiras da Casas Bahia sem garantias, como debêntures e CCBs emitidas junto aos bancos. O Bradesco (BBDC4) possui R$ 953 milhões em debêntures e o Banco do Brasil (BBAS3), R$ 1,272 bilhão, o que representa 54,5% do total das emissões contempladas no plano.
O acordo da Casas Bahia determina que as quatro séries de debêntures, mais as cédulas de crédito bancário, sejam transformadas em uma única debênture de três séries. A primeira representará 37% dos débitos de todos os credores e será paga com carência de juros de 24 meses e carência de principal de 30 meses. A taxa será de CDI + 1,5%, com pagamentos semestrais após a carência. Sendo que a maior parcela (60%) será paga em novembro de 2029.
Depois, para receber o restante (63%), será possível escolher entre a segunda e a terceira série. Quem optar pela categoria de “credor parceiro” (série 2), como o Banco do Brasil e o Bradesco, deve manter as atuais condições de outras linhas de crédito que não fazem parte da Reestruturação Extrajudicial da Casas Bahia. No caso desses dois bancos, as linhas são as que financiam o crediário da varejista e as operações de risco sacado.
Nessa opção, será possível converter a dívida em ações da Casas Bahia entre 18 e 36 meses por 80% do valor médio dos papéis nos 90 dias anteriores, ou aguardar o pagamento até novembro de 2030, com juros de CDI + 1%. Se essa opção fosse feita integralmente, com o valor de mercado atual da companhia, e sem que os atuais sócios exercessem seu direito de investir mais para não serem diluídos, os dois bancos assumiriam o controle da varejista. Franklin diz, porém, que não acredita que os bancos tenham essa intenção.
Caso mais detentores dos títulos de dívida da Casas Bahia queiram aderir a essa categoria, terão de fazer novos empréstimos à empresa. Do contrário, eles serão enquadrados na série 3 e terão de aguardar o pagamento até novembro de 2030, com juros de CDI + 1%.
Desempenho das ações da Casas Bahia
No mês, as ações da Casas Bahia caem 19,76% no mês, enquanto no ano, a queda é de 52,19%.
Cotação BHIA3
*Com informações de Estadão Conteúdo