Dólar nas alturas: moeda tem alta semanal e chega a R$ 5,12. Veja o que aconteceu

A percepção de fragilidade das contas públicas brasileiras e a perspectiva de que os juros nos EUA vão demorar mais tempo para começar a cair deram o tom dos negócios nos últimos dias. Nesta sexta-feira, 12, uma nova preocupação ganhou a atenção do mercado financeiro: o risco de um agravamento nos conflitos no Oriente Médio, com o aumento de tensão entre Irã e Israel. O resultado disso foi uma forte alta do dólar e a queda da Bolsa de Valores para seu menor patamar desde 7 de dezembro.

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A cotação do dólar fechou a sexta (12) valendo R$ 5,12, depois de passar a maior parte do dia na casa dos R$ 5,14. Esse é o maior patamar em seis meses, lembra relatório da XP. A alta do dólar foi de 0,6%, levando o acumulado de valorização só nesta semana para 1,1%. No mês, a moeda americana avança 2,11%.

Já fortalecido globalmente pela perspectiva de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) postergue o corte de juros nos país para o segundo semestre, o dólar subiu mais alguns degraus com os sinais de um eventual ataque do Irã a Israel – que, se confirmado, poderia levar ao envolvimento direto dos EUA no conflito no Oriente Médio. No jargão do mercado, isso provocou um movimento de “fuga para a qualidade”. Investidores reduziram posições em ativos de risco para se abrigar nos Treasuries e na própria moeda americana.

O chefe da mesa de operações do C6 Bank, Felipe Garcia, observa que dados recentes de atividade e inflação nos EUA já levavam ao fortalecimento global do dólar. A leitura acima do esperado da inflação ao consumidor em março, divulgada na última quarta-feira (10), alavancou ainda mais a moeda americana, ao desencadear mudanças de expectativas para a magnitude total de redução de juros pelo Fed neste ano.

“O mercado passou a ver mais chances de apenas duas quedas dos juros. Há quem veja espaço para um corte ou até manutenção. Vimos uma grande reprecificação da curva de juros americana”, afirma Garcia, ressaltando que hoje houve um movimento de risk off com em razão do quadro geopolítico. “Vemos as taxas dos Treasuries fechando e dólar em alta, com redução de posições em moedas emergentes na véspera do fim de semana”.

Termômetro do comportamento do dólar em relação a seis divisas fortes, o índice DXY, que já operava nos maiores níveis desde novembro, chegou a superar os 106,000 pontos, com máxima em 106,109 pontos.

Real sofre mais que outras moedas latino-americanas com o peso do dólar

Garcia afirma que o real, embora sofra menos que divisas pares, teve desempenho inferior ao de outras moedas latino-americanas na semana – o que, segundo ele, pode ser atribuído, em parte, ao aumento dos ruídos políticos locais e à crescente desconfiança em torno do compromisso do governo com o arcabouço fiscal.

“A manobra para mudar o arcabouço e liberar mais recursos neste ano pegou mal. E as questões envolvendo a Petrobras (PETR4), como a crise política que envolveu o presidente da empresa, Jean Paul Prates, e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveiram não ajudam”, diz Garcia.

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Bolsa também perdeu na semana

Taxas altas em economias avançadas estimulam a fuga de capitais de países emergentes, como o Brasil, pressionando o dólar e a bolsa. Os investidores migram para os títulos do Tesouro norte-americano, considerados os investimentos mais seguros do planeta. Por enquanto, esse movimento está atrelado ao dólar. O euro comercial recuou 0,23%, vendido a R$ 5,448, após o Banco Central Europeu anunciar que pretende baixar os juros em junho.

O Ibovespa, o principal indicador da Bolsa de Valores, registrou queda de 1,14%, aos 125,9 mil pontos. Na semana, o índice da B3 acumulou perda de 0,67%, após retração de 1,02% no período anterior. Já no mês, o Ibovespa recua 1,69%. Em Nova York, as perdas ficaram entre 1,24% (Dow Jones) e 1,62% (Nasdaq).

Na B3, poucas entre as principais ações escaparam ao dia de correção. Vale (VALE3, -0,37%) e Petrobras (PETR3, -0,81%, PETR4m -0,92%) não ficaram imunes, apesar do avanço ontem nos preços do minério e do petróleo. “O retrato da semana é de muita cautela, principalmente na Bolsa, com falta de atratividade para trazer recursos ao Brasil no momento, o que se reflete na cotação alta do dólar“, resumiu Dierson Richetti, sócio da GT Capital.

A preocupação com o cenário global e a maior cautela em relação ao futuro da política fiscal dominaram as discussões que executivos do mercado tiveram ontem com diretores do Banco Central. As reuniões ocorreram na sede da autarquia em São Paulo. Pelo BC, participaram os diretores Diogo Guillen (Política Econômica) e Paulo Picchetti (Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos), segundo os relatos.

Os encontros são uma forma de os diretores do BC colherem as avaliações do mercado sobre o cenário econômico, para embasar a formulação dos relatórios trimestrais de inflação. O próximo documento será divulgado em 27 de junho.

Fortalecimento global do dólar

Além do fortalecimento global do dólar e dos ruídos domésticos, a formação da taxa de câmbio tem sido influenciada por questões técnicas. Na segunda-feira, 15, vencem NTN-As no valor de US$ 3,8 bilhões, cuja liquidação se dará de acordo com a taxa ptax desta sexta-feira.

Na prática, quem carrega NTN-As está “comprado em dólar”. Quando os títulos vencem, os detentores podem ir ao mercado para recompor sua posição, o que aumenta a demanda por compra no mercado futuro e turbina a cotação da moeda. Como o Banco Central vendeu, no último dia 2, US$ 1 bilhão em swaps cambiais extras, mencionando justamente o vencimento de NTN-As, haveria ainda uma demanda de US$ 2,8 bilhões por dólar futuro.

Com Estadão Conteúdo e Agência Brasil

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Marco Antônio Lopes

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