Petrobras (PETR4): retenção de dividendos não é para pagar dívida nem investir, diz Prates: “Voltará para o acionista”
O presidente da Petrobras (PETR4), Jean Paul Prates, esclareceu mais uma vez aos analistas que participam de videoconferência para comentar os resultados do quarto trimestre do ano passado que os dividendos extraordinários 100% retidos em 2023 não serão utilizados para investimentos ou para pagar dívidas.
Houve pressão do governo contra os dividendos da Petrobras?
Questionado se o objetivo do Conselho de Administração atendeu uma pressão do governo pelos dividendos da Petrobras, Prates disse não ter visto esse movimento entre os conselheiros indicados pelo Ministério de Minas e Energia (MME), e que a questão é mais “de timing”.
“O Conselho, creio, que foi uma questão de timing, o dividendo é para distribuição de qualquer forma. Não pode pagar dívida ou investir, como falsas notícias que andam por aí. Isso é lucro, portanto dividendo. Clarificando isso, todo esse susto aí desaparece, porque sabe-se que essa reserva é dividendo e uma hora volta”, explicou Prates.
Decisão tem a ver com busca de balanço robusto e cuidado com alocação de capital, diz companhia
O diretor financeiro da Petrobras, Sergio Caetano Leite, disse nesta sexta-feira, 8, que a decisão do Conselho de Administração de não pagar dividendos extraordinários da Petrobras relativos à 2023 tem a ver com a busca por um balanço robusto e cuidado com alocação de capital. Ainda assim, Leite disse que os recursos travados só poderão servir ao pagamento de proventos no futuro e não para investimentos da companhia.
Leite falou a investidores em teleconferência sobre os resultados do quarto trimestre de 2023 da Petrobras.
Dividendo extraordinário ainda pode ser pago?
Esse dividendo extraordinário apurado em 2023, no entanto, não tem previsão de pagamento, segundo o executivo.
“Existia folga para pagamento de extraordinário, mas o CA decidiu mandar os recursos para a reserva (de remuneração). Isso se baseia na busca de balanço robusto e cuidado com alocação de capital em anos com esforço de investimento muito grande para a Petrobras. E os anos de 2024 e 2025 terão investimentos expressivos”, disse Leite.
Em seguida, emendou: “Mas essa resposta pode levar a mal entendido. Esse recurso da reserva não pode ser usado para investimento.”
Na sequência, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, reiterou a posição e revelou que os conselheiros indicados pela União votaram para o envio de 100% dos recursos (R$ 43,9 bilhões) para a reserva, enquanto os conselheiros privados, chamados “minoritários”, votaram todos pelo pagamento de 100% ao acionista.
Ele, por sua vez, se absteve de votar, mas, segundo disse, defendeu a proposta da diretoria de encaminhar 50% para reserva e pagar os 50% restantes aos acionistas.
O Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), que antecipou a negativa do CA da Petrobras ao pagamento extraordinário, apurou que o placar da votação foi 6 a 4 pela negativa, com uma abstenção que completou a posição dos 11 integrantes do colegiado.
Leite voltou a negar que a reserva de remuneração, incrementada com a retenção dos dividendos extraordinários de 2023 da Petrobras, possa ter outra finalidade que não o pagamento equânime de proventos a acionistas. Ele disse, porém, que não há prazo para a distribuição dos recursos, da ordem de R$ 43,9 bilhões, acontecer.
Minutos depois de dizer que decisão tem a ver com a busca de balanço robusto e cuidado com alocação de capital, destacou também que, entre as explicações, o CA está preocupado com a conjuntura global.
“A reserva não é para investimento, não é para acordo fiscal, não é para cobrir prejuízo, é para pagamento de dividendos à frente. O que não temos ainda é um tempo para isso acontecer. O CA, instância máxima da companhia, está fazendo análises sobre o assunto e se mostrou preocupado com o cenário mundial em 2024 e 2025. É assim mesmo, e quando se sentirem confortáveis, vão fazer” disse Leite.
Petrobras reservou R$ 3,8 bi em capex corrente para manutenção de refinarias, diz diretor
O diretor de Processos Industriais e Produtos da Petrobras, William França, disse nesta sexta-feira, 8, que a estatal reservou R$ 3,8 bilhões em capex corrente para manutenção de refinarias em 2024. Em 2023, os investimentos dessa natureza somaram R$ 3,1 bilhões.
Houve paradas programadas para manutenção ou melhorias de relevo em pelo menos quatro refinarias da Petrobras (RPBC, Refap, Reduc e Regap), segundo a apresentação de França na teleconferência a investidores sobre os resultados do quatro trimestre de 2023.
O aumento, segundo França, vem para manter a confiabilidade da operação do parque de refino da Petrobras e para fazer frente ao aumento planejado de produção. De fato, o fator de utilização total (FUT) alcançou 92% em 2023, o mais alto desde 2014.
Esse FUT, disse o diretor, saltou de 88% em 2022 para 92% em 2023. Também houve aumento da carga processada de óleo bruto do pré-sal, que saltou de 62% para 65%.
Retorno a fertilizantes
França reiterou, ainda, que a Petrobras está “trabalhando forte” para ser um player no negócio de fertilizantes e não apenas uma fábrica, o que seguiria diretriz estratégica aprovada pelo Conselho de Administração da estatal.
Na apresentação, ele cita a Unidade de Fertilizantes III, em processo de reavaliação; o estudo de alternativas para a retomada da produção da Ansa; e estudos de parcerias no segmento, em plantas atuais ou novas e para a descarbonização da produção.
O mesmo valeria para Petroquímica, ramo em que a Petrobras já tem participação na Braskem (BRKM5), passível de aumento, e avalia novas oportunidades. Neste caso, cita a ambição de integração com o refino e de encontrar alternativas para investimento na produção de químicos básicos e resinas.
Com Estadão Conteúdo