Dia de pesadelo no Ibovespa: Petrobras (PETR4) perde R$ 55,3 bi em valor de mercado e “aumenta incerteza por próximos dividendos”
A Petrobras (PETR4) registrou um lucro líquido de R$ 31,04 bilhões no 4T23, o que representou uma queda de 28,4% em comparação ao mesmo intervalo de 2022. Para analistas, o lucro não destoou tanto do esperado. A grande decepção foi o anúncio sobre dividendos: a empresa optou pela distribuição mínima – o que impactou as ações da petroleira estatal no Ibovespa hoje, abalou o índice e fez tremer o mercado.
Nesta sexta-feira (8), as ações da Petrobras desabaram no Ibovespa: PETR4 tombou 10,57%, a R$ 36,12, e PETR3 fechou em queda de 10,37%, a R$ 36,98. O Ibovespa encerrou o pregão de hoje recuando 0,99%, aos 127.070,79 pontos.
Com a forte baixa de hoje na Bolsa, a Petrobras perdeu R$ 55,3 bi em valor de mercado.
Segundo Luan Alves, analista chefe da VG Research, a surpresa negativa relacionada ao não pagamento de dividendos extraordinários torna o carry da Petrobras menos atraente nos preços atuais, aumentando a incerteza sobre pagamentos futuros e alocação de capital.
No 4T23, o conselho de administração decidiu manter os dividendos da Petrobras de acordo com a fórmula mínima (US$ 2,9 bilhões, 3% de yield), propondo direcionar o lucro restante do ano (US$ 8,9 bilhões) para ser totalmente alocado na recém-criada reserva de remuneração de capital.
“O lucro excedente vai para formar reserva de capital, que pode usar quando e se quiser, gerando uma incerteza na alocação de capital. A votação contra o extraordinário foi 6×4 com uma abstenção. Os quatro favoráveis foram conselhos ‘de mercado’ e 6 contras eram indicados pelo governo”, comenta Alves.
Para Flávio Conde, analista da Levante Investimentos, o anúncio sobre a distribuição de dividendos da Petrobras foi desanimador, pois era esperado uma distribuição extraordinária. “O trimestre, deu um lucro de R$ 31 bilhões e vai ser distribuído R$ 14 bilhões no 4T23, quando o esperado no extraordinário era entre 30 e 40 bilhões de reais”, afirma Conde.
O analista explica que grande parte dos dos detentores de papéis da Petrobras estavam posicionados acima de R$ 40 na expectativa de auferir um dividendo extraordinário que podia chegar a R$ 3,50.
Sobre o lucro líquido da Petrobras, Conde diz que houve um impacto de R$ 9,9 bilhões em despesas de impairment e abandono de áreas de extração de petróleo e outros gastos. Esse valor fez diminuir o lucro líquido e o Ebitda do período.
Quanto ao futuro, a política de dividendos da Petrobras deve continuar como ponto-chave, diz Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos. Para ele, mudanças nesta política podem influenciar a percepção do mercado e o apetite dos investidores.
“Além disso, o desempenho futuro da empresa está intrinsecamente ligado às flutuações no mercado de petróleo. Uma recuperação nos preços do petróleo pode ser benéfica para a Petrobras”, explica Lima
Apesar dos desafios enfrentados no último trimestre e das incertezas no mercado, Lima vê a Petrobras mostrar sinais de uma empresa robusta e adaptável.
Petrobras: Goldman Sachs vê espaço para dividend yield de 10% em 2024
Para 2024, considerando apenas a política de remuneração aos acionistas em vigor (sem assumir dividendos extraordinários), o Sachs espera um rendimento de dividendos de cerca de 10%, em linha com as principais empresas de petróleo globais.
“Nesse contexto, observamos que os investidores geralmente exigem um prêmio para investir em empresas de petróleo de mercados emergentes devido ao maior risco em relação aos pares de mercados desenvolvidos”, afirma o Sachs.
Sobre o 4T23 da Petrobras, segundo conversas do Goldman Sachs com recentes investidores, esperava-se que o anúncio dos resultados incluísse dividendos extraordinários de US$ 3 a US$ 4 bilhões, enquanto o banco estimava um espaço para até US$ 8 bilhões
O Sachs mantém recomendação de compra para as ações da Petrobras, com preço-alvo de R$ 44,40.
O que aconteceu com os dividendos da Petrobras?
Em relatório enviado a clientes sobre os dividendos da Petrobras, o Santander (SANB11) rebaixou a recomendação da ação da Petrobras de ‘outperform’ (equivalente a compra) para ‘neutra’, mencionando a falta de catalisadores em termos de fundamentos e que, sem dividendos extraordinários, a estatal negocia a um dividend yield (rendimento de dividendos) de cerca de 9%, majoritariamente em linha com pares latino-americanos e europeus.
“Acreditamos que a falta de dividendos extraordinários da Petrobras envia sinais confusos em relação à estratégia de alocação de capital de curto prazo, especialmente porque vemos a Petrobras detendo cerca de US$ 18 bilhões em dinheiro no final de 2023 (contra uma posição de caixa de referência de aproximadamente US$ 8 bilhões, que assumimos ser suficiente para cobrir planos de Opex/Capex). Isto sugere uma posição de caixa excedente de aproximadamente US$ 10 bilhões”, afirmam os analistas Rodrigo Almeida, e Eduardo Muniz.
A expectativa do Santander, após o balanço da Petrobras, é de que a Petrobras gere um fluxo de caixa operacional de aproximadamente US$ 40 bilhões em 2024, “o que é mais que suficiente para financiar investimentos”. Contudo, o banco não descarta que a estatal pode acelerar a atividade de fusões e aquisições em 2024, limitando o potencial de pagamento de dividendos extraordinários e aproximando o rendimento de proventos da Petrobras ao de seus pares.
“Reduzimos as nossas expectativas de dividendos para 2024 para US$ 9,5 bilhões (8,8% de dividend yield), dos US$ 16 bilhões anteriores, até termos mais clareza sobre o momento/magnitude dos pagamentos extraordinários de dividendos no futuro”, afirmam os analistas.
Lucro da estatal cai 28,4% no 4T23, a R$ 31 bilhões
A Petrobras (PETR4) anunciou na quinta (7) os resultados do quarto trimestre de 2023. A estatal informou que obteve lucro de R$ 31,04 bilhões no 4T23, o que representa uma queda de 28,4% em comparação ao mesmo intervalo de 2022.
O consenso Bloomberg apontava que o lucro da Petrobras chegaria a R$ 30,6 bilhões. Outras casas de análise estimavam que esse número poderia variar entre R$ 31 bilhões e R$ 35 bilhões.
“Esse resultado é explicado principalmente pelo aumento das margens de derivados e dos volumes de óleo”, diz a estatal no documento que acompanha o balanço do 4T23 da Petrobras. “Por outro lado, as despesas operacionais aumentaram, principalmente devido a maiores gastos com impairment e abandono de áreas. Observamos também um resultado financeiro mais favorável, principalmente devido à valorização do real frente ao dólar. Além disso, o imposto de renda apurado foi menor.”
No acumulado de 2023, o lucro líquido da Petrobras ficou em R$ 122,8 bilhões, em comparação com R$ 180,6 bilhões em 2022 – retração de 32%.
A receita líquida da Petrobras ficou em R$ 134,25 bilhões, baixa de 15,3% no ano. O Ebitda (Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) do 4T23 foi de R$ 66,8 bilhões, número 8,5% menor que a mesma etapa do ano anterior.
Desempenho anual das ações da Petrobras
Cotação PETR4