Gol (GOLL4) cria comitê independente e dá ‘primeiro passo’ em recuperação judicial

A Gol (GOLL4), logo após pedir recuperação judicial nos EUA, criou um Comitê Especial Independente. A decisão foi comunicada na noite desta quinta-feira (25), em documento arquivado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

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Conforme detalhado pela companhia, o Comitê da Gol é composto por três membros: Marcela de Paiva Bonfim Teixeira, Timothy Robert Coleman e Paul Stewart Aronzon, todos conselheiros independentes da empresa.

“O Comitê atuará como um órgão consultivo do Conselho de Administração, com poderes e autoridade para avaliar, revisar, planejar, supervisionar negociações e apresentar recomendações ao Conselho de Administração sobre quaisquer assuntos decorrentes ou relacionados aos procedimentos do Chapter 11“, diz o comunicado.

Além disso, a Gol nomeou Joseph Wilfred Bliley IV para o cargo de Diretor de Reestruturação (Chief Restructuring Officer).

CEO da Gol: Expectativa é de que reestruturação dure menos do que o de cias aéreas da AL

O CEO da Gol, Celso Ferrer, não deu prazo esperado pela companhia para concluir o processo do Chapter 11, mas disse acreditar que dure “significativamente menos” do que o de outras companhias aéreas da América Latina.

A Latam e Avianca, por exemplo, demoraram cerca de dois anos. Ferrer avaliou o processo de reestruturação das duas empresas como bem sucedido, mas avalia que o momento atual é mais favorável para a Gol. “Não estamos em uma pandemia, é um cenário de demanda consistente”, afirmou.

Para Ferrer, a operação da Gol é mais simples, com apenas um tipo de aeronave, o que deve também contribuir para agilizar a conclusão do Chapter 11. O executivo também avalia que o fato de a empresa ter feito dois rounds de negociação com lessores )arrendadores de aeronaves) em 2023 deve também garantir que essas conversas sejam concluídas com sucesso em pouco tempo.

O CEO da Gol não quis comentar os termos da negociação do Chapter 11. Ele apenas afirmou que o objetivo é melhorar a estrutura de caixa da companhia, diminuindo a alavancagem e mantendo as operações normalmente.

Negociação com ‘lessores’ está evoluindo

O executivo também disse que perto de metade da dívida da Gol, de R$ 20 bilhões ao final do terceiro trimestre de 2023, é detida por 25 lessores – os arrendadores de aeronaves. “A negociação com lessores está evoluindo, e em diferentes estágios, alguns estão nos apoiando muito”, disse em entrevista à imprensa no início da noite de hoje, citando que o processo de renovação de frota da companhia aérea continua e a Gol está recebendo um novo avião agora.

Normalmente, a negociação com os lessores é a que demora mais em processos de reestruturação de dívidas do setor aéreo, por conta dos altos valores envolvidos. A Gol iniciou a primeira rodada de negociação com lessores em junho de 2023 e outra rodada de reuniões ocorreu em outubro. “Os lessores conhecem a nossa pauta, eles sabem o que precisamos endereçar”, disse Ferrer.

“Acordos com lessores devem ser assinados de uma maneira acelerada”, disse o CEO da Gol, explicando que o contexto agora é de menor incerteza do que no passado recente. “Nossa previsão é de que o trabalho demore substancialmente menos do que outros processo mais recentes na América Latina.”

Como os lessores estão situados no exterior, principalmente nos Estados Unidos, a companhia aérea brasileira optou por pedir a proteção judicial para reestruturar a dívida na Corte de Nova York. “Vamos utilizar o sistema judicial dos Estados Unidos para facilitar a reestruturação.”

O executivo disse que a Gol analisou outros casos de empresas aéreas que pediram proteção judicial nos EUA e observou que todas saíram “bastante fortalecidas” desse processo. “O processo de Chapter 11 já foi muito testado no setor de aviação.” Ferrer citou exemplos de sucesso do processo, como a Avianca Colômbia, Latam e Aeromexico na América Latina, além de outras como a Delta e American Airlines nos Estados Unidos.

Ministério diz que acompanha reestruturação da Gol em busca manutenção de serviços

O Ministério de Portos e Aeroportos (MPor) divulgou nota nesta quinta, 25, em que afirma estar acompanhando o plano de reestruturação apresentado hoje pela companhia aérea Gol e que está trabalhando junto à empresa e à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para garantir a manutenção dos serviços prestados à população.

No nota, o MPor diz que a pandemia do Covid-19 impactou fortemente o setor aéreo em todo o mundo, o que exigiu a adoção de medidas de apoio, de governos de diversos países, para atenuar o prejuízo causado às empresas aéreas. “Infelizmente, no Brasil, estas medidas não foram adotadas na gestão anterior, mesmo com a existência de recursos no Fundo Nacional de Aviação Civil (Fnac)”, afirma.

A pasta diz que a expectativa é de que, assim como aconteceu com outras grandes empresas aéreas no mundo que entraram no Chapter 11 (Latam, Delta, United, Aeroméxico etc), espera que o Plano de reestruturação da Gol fortaleça a empresa, aumentando cada vez mais sua capacidade de investimentos para melhor atender a população.

Pacote de medidas

O governo federal promete, desde meados de novembro do ano passado, um pacote de medidas conjuntas com as aéreas para reduzir o preço das passagens. Por parte das companhias, foi anunciado em dezembro maior volume de promoções e disponibilidade de passagens. Já a contrapartida do governo ainda não é oficialmente conhecida.

A expectativa, contudo, a partir de declarações do ministro Silvio Costa Filho, é de que o governo atue em medidas para reduzir o preço do querosene de aviação (QAV) e nas mudanças sobre o uso do Fnac, além da criação de um fundo próprio para as companhias. Ele também fala sobre a necessidade de encarar a judicialização que afeta o setor, com alto volume de indenizações principalmente por atraso de voos.

À imprensa no início desta semana, Costa Filho optou por não comentar concretamente sobre possíveis medidas do governo para socorrer a Gol O ministro disse, contudo, que tem se reunido com representantes de todas as companhias aéreas e que o Estado irá auxiliá-las como for possível. “Companhias como a Azul e a Gol estão fazendo suas estruturações internas. E, onde o Estado brasileiro puder dar sua contribuição, iremos dar”, afirmou.

O ministro não confirmou uma reunião específica com a Gol para tratar da atual situação da companhia. No entanto, conforme apurado pelo Broadcast, representantes da empresa estiveram na sede do ministério, em Brasília, na terça-feira, 16, justamente em busca de ajuda.

Sobre o risco de a empresa quebrar, o ministro disse que, pelo que se observa com outras companhias ao redor do mundo, entrar em recuperação judicial não representa o fim. “Companhias como a American Airlines, que em algum momento entraram em recuperação, saíram maiores do que entraram”, afirmou.

Entenda a recuperação judicial da Gol

A companhia aérea pediu oficialmente recuperação judicial nos Estados Unidos, em procedimento chamado de Chapter 11.

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A informação foi divulgada pela companhia nesta quinta-feira (25), por meio de fato relevante.

As ações da companhia tiveram negociações interrompidas na B3 e entraram em leilão – ficaram 30 minutos suspensas.

Os papéis fecharam em queda de 3,16%, a R$ 6,44, sendo a maior queda do pregão.

No comunicado da Gol, a companhia ainda acrescenta que “assegurou US$ 950 milhões em financiamento para apoiar os negócios”.

O processo de recuperação judicial da Gol iniciado nos EUA inicia com um compromisso de financiamento de US$ 950 milhões, na modalidade debtor in possession (“DIP”) por membros do Grupo Ad Hoc de Bondholders da Abra – holding que controla a Gol – e outros detentores de bonds da Abra.

“A Companhia buscará acesso a esse financiamento como parte da audiência do Primeiro Dia com o Tribunal dos EUA, prevista para os próximos dias. O financiamento está sujeito à aprovação judicial e, juntamente com o caixa gerado pelas operações em curso, fornecerá liquidez substancial para apoiar as operações, que seguem normalmente, durante o processo de reestruturação financeira”, diz a companhia.

Em seu comunicado, a companhia ainda ressalta que apesar do pedido de recuperação judicial, os voos de passageiros da Gol, os voos de carga da GOLLOG, o programa de fidelidade Smiles e outras operações da companhia continuam normalmente.

Com Estadão Conteúdo

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Eduardo Vargas

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