EUA: apesar de nível recorde, analistas alertam para piora do mercado acionário

Nos Estados Unidos (EUA), Wall Street entrou em 2024 apostando que o ano seria perfeito, mas um início volátil para ações e títulos sugere que as coisas não serão fáceis. Apesar do recorde de fechamento do S&P 500 na sexta-feira (19), a recuperação dos principais índices estagnou nas últimas semanas – o índice de referência subiu menos de 2% em relação ao mês anterior – enquanto o mercado de trabalho e a economia mostram poucos sinais de desaceleração. Os rendimentos dos Treasuries também subiram neste começo de ano, após uma queda acentuada no final de 2023.

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Essa dinâmica está levando alguns analistas e gerentes de portfólio a alertar que ganhos adicionais do mercado acionário estão sendo limitados porque os cortes nos juros do Federal Reserve (Fed) podem não chegar tão rapidamente quanto os investidores otimistas haviam apostado. De acordo com o CME Group, o mercado adiou a previsão de redução nos juros em março e agora prevê 50% de probabilidade de manutenção das taxas.

Os traders estão apostando agora que a inflação ficará, em média, acima de 2,4% nos próximos cinco anos, o nível mais alto desde novembro, com base em contratos de swap vinculados ao índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês).

O índice Russell 2000 de ações de pequena capitalização – que ganhou 22% nos últimos dois meses de 2023 – caiu 4,1% em janeiro. As ações especulativas sofreram uma queda: tanto a Rivian quanto a Coinbase perderam mais de 25%, depois de terem subido durante a recuperação de apostas de um pivô do Fed. O índice KBW de bancos regionais americanos, que aumentou 31% em novembro e dezembro, já caiu mais de 3% em janeiro. As ações de empresas imobiliárias e de serviços públicos caíram ainda mais, depois de também terem subido nesses meses.

A compensação extra que os investidores recebem por comprar títulos corporativos de alta qualidade em vez de títulos dos Treasuries está em nível menor do que antes de o Fed começar a aumentar as taxas, agora em torno de um ponto porcentual. Os spreads de crédito dos títulos de baixa qualidade estão igualmente apertados, sinalizando pouca preocupação com a inadimplência das empresas. Os empréstimos alavancados – usados para financiar aquisições de capital privado ou financiar empresas com classificação ruim – estão com uma demanda tão alta que as empresas estão reduzindo seus custos de empréstimo.

“As pessoas tentaram se antecipar aos cortes nas taxas comprando ativos de longa duração, como ações e títulos de tecnologia”, afirmou a fundadora da empresa de gestão de ativos Quadratic Capital Management, Nancy Davis. “E se o Fed não cortar tanto ou tão rapidamente? Essas pessoas são deixadas para trás.”

Selic deve manter ritmo de queda mesmo com incerteza nos EUA, dizem analistas

A taxa Selic está em trajetória de queda desde agosto de 2023, quando o Copom reduziu os juros pela primeira vez em três anos. Já nos Estados Unidos, a expectativa quanto aos cortes na taxa Fed Funds foi ligeiramente abalada nesta semana, após as falas do diretor do Fed, Christopher Waller.

Durante evento, Waller afirmou que a redução dos juros nos Estados Unidos deve acontecer este ano, mas em um ritmo um pouco menor. As falas ocorrem uma semana depois de o relatório payroll ter indicado um mercado de trabalho ainda forte e o CPI, índice de preços ao consumidor nos Estados Unidos, ter vindo ligeiramente acima do consenso. Já no cenário doméstico, o IPCA, índice oficial da inflação no Brasil, subiu 0,56% em dezembro, ante consenso de 0,48%.

Com um cenário mais turvo quanto ao início e à velocidade dos cortes de juros nos Estados Unidos, o Brasil pode, de alguma forma, sentir também um reflexo negativo. No entanto, Thiago Lourenço minimiza esse risco, chamando a atenção para o atual juro real brasileiro, que corresponde a diferença entre a taxa de juros e a inflação de um país.

“Temos uma limitação na redução de juros quando a maior economia do mundo está com as taxas elevadas. Com a taxa Fed Funds permanecendo em patamares elevados, os juros brasileiros teriam também um piso mais alto. Mas o Brasil ainda tem um dos maiores juros reais do mundo e, com isso, há bastante espaço para cortes sem que se perca essa condição”, diz. 

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Dierson Richetti vai na mesma linha, afirmando que a questão dos juros americanos tem mais relação com o Ibovespa, uma vez que a redução da taxa tende a trazer mais investimento estrangeiro para a bolsa brasileira.

“Não vejo muita relação entre o corte nos juros dos EUA e a Selic. Há muito mais um impacto no retorno do investimento estrangeiro para o Brasil, para o Ibovespa ganhar força com essa entrada de capital. Isso sim tem uma relação direta”, afirma.

Com Estadão Conteúdo e Dow Jones Newswires

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Redação Suno Notícias

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