Peso de Inteligência Artificial, ESG e tributos deve crescer na rotina de conselhos e executivos em 2024
Consultorias especializadas em recrutamento de executivos e conselheiros têm visto tendência de intensificação de busca por profissionais com conhecimentos que começaram a ser mais requisitados sobretudo em 2023. Entre eles, especialistas em inteligência artificial generativa, ESG (sigla em inglês para melhores práticas ambientais, sociais e de governança) e financeiro/tributário que se especializem nas mudanças trazidas pela reforma. No mercado financeiro, a tendência de alta é na busca por profissionais que se dedicam à relação com investidores para tentar trazer de volta os ativos sob gestão perdidos ao longo de 2023.
O movimento, que abrange a questão da inteligência artificial, acontece após a estabilização no segundo semestre, num ano no qual várias mudanças deixaram o cenário mais desafiador para executivos e conselheiros. Entre eles, aperto monetário global, que tirou investimentos de empresas promissoras de tecnologia, intensificação dos conflitos geopolíticos, eventos climáticos extremos e um escândalo contábil bilionário no País, que resultou numa crise de crédito especialmente dura para o varejo.
Mesmo assim, 63% de cerca de 80% dos projetos feitos pela consultoria de contratação executiva Maio em 2023 foram provenientes de teses de crescimento das empresas. Somente 17% foram para companhias que buscavam alguma reestruturação. Os demais 20% foram para corporações que buscavam continuidade de seus planos associados à melhoria de desempenho. Os projetos foram todos para a contratação de CEOs, diretores e conselheiros.
“Notamos no segundo semestre aumento na busca de CEOs com maior orientação à estratégia de novos negócios e crescimento”, afirma Marcelo de Lucca, sócio fundador da Maio. “Também houve maior busca por diretores comerciais e de unidades de negócio, o que evidencia maior apetite para crescimento futuro.”
Já a consultoria Korn Ferry constatou, em pesquisa sobre governança e remuneração dos conselhos, a tendência de crescimento na busca por membros independentes, com maior equidade de gênero e modelos de pagamento mais variados. Ao comparar apenas as 84 empresas que responderam tanto à pesquisa de 2021 quanto a de 2022, todas aumentaram os honorários fixos de seus conselheiros. O maior incremento ficou por conta dos independentes. No pacote de remuneração total, porém, o presidente de conselho independente teve uma leve redução nos ganhos, de 1%.
“Uma revolução invisível vem acontecendo em relação à contratação de conselheiros”, diz de Lucca, da Maio. “Além das pouco mais de 400 empresas listadas na bolsa brasileira, que são obrigadas a manter seus conselhos de administração por aspectos regulatórios, muitas empresas privadas e sem capital aberto têm visto em sua constituição uma forma de facilitar o acesso a novas fontes de financiamento, seja na busca de sócios ou via instrumentos financeiros no mercado de capitais.”
Com isso, ele afirma que tem havido um aumento expressivo na formação de conselhos (consultivos ou de administração) e na busca por profissionais com capacidade de incorporar novos conhecimentos, principalmente em governança corporativa, finanças, novos negócios, tecnologia e pessoas — de forma a abranger a questão da inteligência artificial, por exemplo.
Eficiência
Na busca de executivos que cuidam da parte operacional, a palavra mais buscada no ano passado, segundo a Maio, foi “eficiência”, sendo que 66% dos projetos que eles conduziram foram consequência de algum redesenho estrutural. Somente 28% das contratações se deram por substituições por desempenho.
“Quando falamos do papel funcional, tivemos perto de 40% dos projetos em buscas de CFOs e COOs (diretores financeiros e operacionais), o que evidencia a prioridade na busca de eficiência”, afirma de Lucca. “As maiores demandas dos CFOs foram conectados à melhoria de controles e gestão de custos, além de revisão de estrutura de capital e renegociação de dívida.”
Já os COOs tiveram como desafio buscar eficiência operacional e em toda cadeia de suprimentos e logística. “Além de executivos para liderar finanças e operações, tivemos 20% de nossos projetos dedicados para contratação de CEOs”, afirma. Para ele, o tema eficiência permanecerá na pauta de 2024.
Segundo a Maio, apesar de 2023 terminar como um ano “morno” na contratação de executivos, a remuneração dos profissionais continua em crescimento. Em quase todos os projetos foi necessário oferecer remuneração total superior, na faixa de 15% a 30%. O incentivo de longo prazo em seus diferentes formatos (stock options, ações restritas, bônus de retenção) continua ganhando espaço nos pacotes de remuneração, segundo a consultoria.
Gerência
O PageGroup, que tem um leque mais aberto na busca de profissionais que vão de analistas a executivos, vê a procura por gerentes crescer no próximo ano. “A disputa por esse tipo de profissional pode provocar uma intensa batalha por talentos e uma eventual inflação salarial”, analisa Lucas Oggiam, diretor executivo do PageGroup no Brasil.
Entre eles, estão gerentes tributário, de planejamento e análise financeira, em parte por conta das mudanças iniciais trazidas pela Reforma Tributária. Também por profissionais especializados em energias renováveis e ESG. Pesquisa da Page Executive (uma das áreas do PageGroup) indica que, embora 61% dos conselhos monitorem questões de ESG, apenas 36% têm pelo menos um membro especialista em sustentabilidade. “Esta lacuna técnica torna este cargo crucial para atender às crescentes demandas de sustentabilidade e governança”, diz a empresa.
Inteligência artificial em processos de negócios
Também ganham destaque funções que exijam conhecimento de implantação de inteligência artificial em processos de negócios. No mercado financeiro, o destaque é por profissionais de relações com investidores. “Primeiro, as estruturas vão ter foco em se restabelecer, resgatando o AUM (ativos sob gestão) perdido, para depois potencializar ainda mais seus recursos”, diz o relatório do PageGroup. Também serão disputados especialistas em meios de pagamento em fintechs, que precisam desenvolver produtos mais rentáveis e inovadores.
Com Estadão Conteúdo