Ibovespa: perspectivas dos setores que mais valorizaram em 2019
Em 2019, o Ibovespa encerrou o ano com uma valorização de 31,58%, batendo recordes de pontuação a cada semana. Na última década, o resultado do ano passado ficou atrás apenas de 2016, quando o principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3) terminou o ano com uma alta de 38,94%.
Segundo um levantamento da “Economatica“, os subsetores que mais apresentaram valorização em seus ativos, em média, foram os de construção civil (105,8%), petróleo e gás (66%) e energia elétrica (51%).
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Esses setores (consumo cíclico, petróleo e gás, e utilidade pública, respectivamente), juntos, equivalem a 24,26% do Ibovespa. Portanto, em parte, o resultado do índice no ano passado se deu pela performance dos ativos dessas categorias da economia brasileira.
No entanto, alguns ativos se destacaram, elevando o desempenho dos setores. Confira quais foram os motivos pela qual esses setores apresentaram tal valorização e as perspectivas para 2020, de acordo com a análise do analista de renda variável da SUNO Research Rodrigo Wainberg.
Construção civil
Após o ano passado recheado de ofertas subsequentes de ações (follow-on), ao menos cinco construtoras residenciais estão preparando suas ofertas públicas iniciais de ações (IPOs) para 2020, atingindo R$ 5 bilhões. A última vez que uma construtora estreou na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) foi em 2009, quando a Direcional (DIRR3) abriu capital.
“A queda da taxa de juros certamente beneficia as empresas porque beneficia os consumidores, têm um financiamento mais barato, então a demanda potencial aumenta. Também afeta os custos de vida da empresa, que ficam mais barato. Mas somente isso não resolve”, disse Wainberg sobre a ascensão das empresas à bolsa após as mudanças macroeconômicas do Brasil.
“A Trisul (TRIS3), por exemplo, possui um endividamento controlado e um banco de terrenos, além de estarem avançando bastante entregando as obras, com uma postura comercial bastante assertiva, lançando o empreendimento e vendendo bem rápido”, disse.
Em 2019, os números do setor foram significativos. Com 81.218 unidades lançadas até outubro, o número de imóveis novos foi 6,8% maior ao apresentado no mesmo período de 2018.
Não obstante, as vendas de novas unidades aumentaram 9,8% em comparação com 2018, segundo dados da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc).
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“Apesar de o setor ser cíclico, nem todas as empresas surfam [o momento] da mesma forma. Isso depende do estágio da empresa. Empresa que não tem terreno hoje não adianta nada. As empresas que já estavam preparadas conseguem aproveitar melhor”, afirmou o analista.
Petróleo e gás
Segundo Décio Oddone, diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a partir de 2020, o Brasil passará a ter uma consolidada indústria do petróleo. De acordo com ele, “as grandes transformações” já foram realizadas e não haverá mais um monopólio que durou décadas.
“Este é o setor que está puxando a economia do Rio de Janeiro”, disse Wainberg. As empresas do subsetor de Petróleo e Gás, em média, apresentaram uma valorização de 66% em 2019, acima do Ibovespa, mesmo sendo uma área que demanda capital intensivo em investimento.
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“Mesmo com a necessidade de fazer investimentos volumosos, com o preço do barril a US$ 60, além de um custo de extração baixo, a lucratividade dos projetos é alta”, afirmou.
“As explorações no pré-sal atraem grandes empresas, as petroleiras, principalmente a Petrobras (PETR4), além de outras interessadas. Ao mesmo tempo, as grandes empresas estão passando pra frente os campos mais maduros, que já não produzem tanto. Aí que entram novos players especializados, como a PetroRio (PRIO3). Eles conseguem revitalizar o campo, conter o declínio e, inclusive, aumentar a produção, tornando a operação mais eficiente e menos custosa”, salientou o analista.
Waiberg afirmou que as perspectivas para 2020 são boas. Segundo ele, a retomada da indústria irá continuar caso o preço do petróleo permaneça no patamar atual.
“O intuito dessas empresas é extrair o petróleo o mais rápido possível, pois por bem ou mal, a tendência é o fim do consumo desta commodity por conta da poluição, mas este cenário ainda está bem longe”, disse.
Energia elétrica
Tradicionalmente boas pagadoras de dividendos, as empresas do setor de energia elétrica também não decepcionaram no ano passado. Por mais que as receitas das companhias sejam mais previsíveis, por conta dos longos contratos de concessão, em média, as companhias apresentaram uma valorização de 51% atribuídos aos seus acionistas.
“No caso da Eneva (ENEV3), por exemplo, a companhia está se dando bem porque existem muitas térmicas velhas a diesel, muito poluentes e muito caras”, cita Wainberg.
“A companhia chega com uma proposta de gás natural, muito mais barata, que interessa ao regulador, a população e até mesmo a companhia que está fazendo este desinvestimento”, disse.
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“Além disso, a energia de gás natural é uma matriz de transição entre a energia hídrica e as energias renováveis, solar e eólica. Portanto, ela faz a intermediação desse processo de mudança e estabilização da oferta de energia”, relatou.
O Ibovespa é o maior índice acionário da B3. Atualmente, possui 70 empresas de 10 setores diferentes.