É hoje: Copom deve reduzir taxa Selic. Como será o ritmo dos próximos cortes?
O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), que começou ontem (12), deve confirmar hoje (13) mais um corte de 0,5 ponto percentual da taxa de juros, a Selic. Como a Selic está em 12,25% ao ano, irá para 11,75%. Esse é o consenso do mercado. O que divide analistas e economistas é o ritmo de cortes do BC dos próximos encontros dos dirigentes do BC.
No último encontro, em 1º de novembro, o Copom anunciou o terceiro corte seguido da taxa Selic. Ela caiu para 12,25%, na sétima reunião do ano. A decisão era majoritariamente esperada pelo mercado e foi unânime, contando com voto do presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto.
A Warren Rena diz que o comitê do BC vai reduzir nesta quarta os juros em 0,50 ponto percentual, para 11,75%, em linha com o sinalizado na reunião anterior, além de declarações posteriores de diretores do Copom e a visão consensual do mercado.
“Consideramos ainda como mais provável que o comunicado repita a mensagem de que os membros do Comitê anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, aponta Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da casa.
Para Goldenstein, o Copom deve indicar a manutenção do ritmo de ajuste dos juros nas “próximas reuniões”. Para ele, a alteração dessa frase, neste momento, geraria ruídos e poderia levar o mercado a precificar uma forte probabilidade de aceleração do ritmo de ajuste.
“Levando em consideração as projeções de inflação acima da meta, as expectativas desancoradas e o hiato do produto estreito, faz mais sentido o Copom manter uma postura mais cautelosa, seguindo com o ritmo de 0,50 p.p., o que reduz o risco de uma desancoragem adicional das expectativas num ambiente de incertezas acima do usual, notadamente com relação à política fiscal em 2024”, completa.
Segundo Boletim Focus divulgado na segunda-feira (11) pelo Banco Central (BC), a estimativa para a taxa de juros, segue em 11,75% ao final deste ano.
O anúncio antecede a divulgação do IPCA de novembro, a última de 2023, que registrou uma aceleração de 0,28%. Historicamente, este foi o menor resultado do IPCA em um mês de novembro desde 2018 (0,21%). No ano, a inflação acumulada soma um crescimento de 4,04%.
De acordo com a pesquisa, para 2024, o mercado espera que a taxa de juros termine em 9,25%, mesma projeção da semana anterior. Já para 2025, a expetativa é de que a Selic chegue a 8,50% (ante 8,75% na semana anterior) e em 2026, 8,50%.
Paralelamente, ainda conforme o Focus desta semana, o mercado projeta o IPCA, principal indicador de inflação, termine 2023 em 4,51%, abaixo da projeção da semana passada (4,54%) e das últimas quatro semanas (4,59%).
“Copom seguirá cauteloso com cortes”
Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, também prevê que a autoridade monetária corte novamente a taxa de juros em 50 bps (0,50 p.p.). “A conjuntura econômica do Brasil segue benigna, como esperado pelo banco central (BC). E, diferentemente da época do último Comitê, o estresse no cenário externo diminuiu, trazendo certo alívio ao Copom”, lembra ele
Os últimos dados de inflação continuam mostrando uma trajetória baixista para a inflação brasileira. Não só o índice cheio, mas também os núcleos e os preços de serviços e de bens industriais. “E, a perspectiva é de que o IPCA termine dentro do intervalo da meta em 2023”, diz Sung.
“Nesta terça-feira, será divulgado o IPCA de novembro. A nossa expectativa é de uma alta mensal de 0,30% e, no acumulado de 12 meses, o índice deve registrar uma variação de +4,70%. Da mesma forma, a tendência é de desaceleração e uma composição benigna do índice”, explica.
Acrescenta: “Um ponto importante a ser ressaltado é que a primeira parte da desinflação parece ter passado com a dissipação dos choques vistos nos últimos anos. Agora, estamos na segunda fase, em que a queda dos preços é mais lenta, principalmente as relacionadas a serviços e as medidas de núcleo. Apesar de a inflação de serviços estar ainda elevada, a boa notícia é que eles vêm arrefecendo”
Sung projeta inflação de 4,58% e 3,90% em 2023 e 2024, respectivamente.
O segundo ponto monitorado pela autoridade monetária são as expectativas de inflação. O BC segue preocupado com essas estimativas do mercado, principalmente, para períodos mais longos. E, como não há uma ancoragem total, a autoridade monetária seguirá cautelosa no ritmo de queda e no patamar final da taxa Selic.
“Nas últimas semanas, alguns membros do Comitê reforçaram o discurso de que o objetivo da autoridade monetária é levar a inflação para a meta. Logo, para qualquer mudança no ritmo de cortes da Selic, as expectativas de inflação precisam estar mais próximas da meta de 3,0%”, pondera.
“Para uma ancoragem maior das expectativas é preciso reduzir o risco fiscal do país. A possibilidade de aumento de gastos públicos e uma redução dos esforços para zerar a meta de gasto primário no ano que vem geram incertezas”, complementa.
“A atividade econômica brasileira vem apresentando sinais de desaceleração, o que reduz pressões inflacionárias futuras. Além disso, o mercado de crédito segue perdendo tração, auxiliando o BC a esfriar a economia”, diz Sung.
E o cenário externo? “Os últimos dados da economia norte-americana mostram um arrefecimento da atividade econômica e do mercado de trabalho. E, com uma inflação em trajetória baixista, há maiores chances de fim do ciclo de alta de juros por lá – algo que já esperávamos. Esse cenário reduziu o estresse sobre os mercados e diminuiu os juros dos títulos dos EUA”, explica.
Com esse cenário de queda da inflação, desaceleração da atividade econômica e cenário externo menos volátil, o Copom tem espaço para continuar cortando a taxa Selic. “Em relação aos próximos passos, estaremos atentos ao comunicado. Durante algumas reuniões, o Comitê indicou a intenção de manter o ritmo de redução de 50 bps. Nossa expectativa é de que seja anunciado mais um corte de mesma magnitude para a reunião de janeiro de 2024”, projeta Sung.
“Para 2024, projetamos a taxa de juros terminal de 9,75% a.a. Esse patamar deverá ser suficiente para garantir que a inflação convirja para a meta, não desancore as expectativas e evite uma saída de capital do país”, conclui o economista-chefe da Suno.
“Cenário fiscal pode impedir que Copom acelere ritmo de cortes”
Yihao Lin, coordenador econômico da Genial Investimentos, avalia que o Comitê deve manter o atual ritmo de afrouxamento monetário nas próximas reuniões do Copom, o que ele acredita ser a estratégia mais adequada para promover o equilíbrio entre manter a política monetária em território suficientemente contracionista, ao mesmo tempo que permite o Banco Central obtenha mais informações sobre o processo de desinflação atual.
“Desde a 258ª reunião, os dados de inflação apontaram para o arrefecimento das medidas mais inerciais, sobretudo a inflação de serviços, sinalizando que o ciclo de aperto monetário se mostrou bastante assertivo em conseguir fazer com que a inflação caminhe em direção à meta a um baixo custo em termos de atividade econômica”, destaca.
Em contrapartida, Lin avalia que o cenário fiscal do país permanece bastante desafiador. Para ele, a lenta tramitação das propostas de aumento de arrecadação no Congresso e a não inclinação do Executivo em contingenciar despesas em um ano eleitoral elevam significativamente os riscos de mudança da meta de resultado primário no próximo ano, minando a credibilidade do novo arcabouço fiscal e impedindo que o Banco Central acelere o ritmo de corte de juros.
“No cenário externo, o período entre reuniões se mostrou mais positivo, sobretudo no que diz respeito aos EUA, diante de leituras mais positivas dos dados de inflação e mercado de trabalho, o que permitiu que os rendimentos da Treasuries recuassem sob a expectativa de antecipação de cortes na Fed Funds Rate já para o final do primeiro trimestre de 2024. Além disso, a despeito do conflito no Oriente Médio houve uma devolução da alta recente do preço do barril do petróleo”.
Para o Bank of America (BofA), o Copom também deve cortar a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, para 11,75%, por unanimidade. De acordo com o banco, a melhoria das condições financeiras no exterior e a evolução da orientação orçamental interna apoiam a continuação do ciclo de flexibilização.
“A atividade mais forte do que o esperado e a incerteza em torno do cumprimento das metas fiscais futuras impedem qualquer mudança no ritmo dos cortes nas taxas, na nossa opinião. A orientação deve se limitar apenas às próximas reuniões e o comitê deve destacar a incerteza do lado externo para manter o ritmo de flexibilização monetária, apesar das condições internas favoráveis”, acrescenta.
Corte de 0,5 ponto percentual também é consenso entre grandes bancos brasileiros
O Santander (SANB11) manteve a projeção para a taxa Selic no final de 2023 em 11,75% e, para o final de 2024, em 9,50%. O departamento econômico do banco lembra que desde o início do ciclo de flexibilização, em agosto, o Copom seguiu o ritmo comunicado de cortes de 50 pontos-base.
“A nosso ver, na medida em que a atividade continue desacelerando e a inflação atual siga sua recente trajetória benigna, ainda há espaço para os cortes no mesmo ritmo. Assim, nosso cenário base não considera mudança no ritmo de flexibilização do Copom até o último corte em julho de 2024, no qual projetamos um redução final de 25 pontos-base”, disse.
Já os economistas Caio Megale, Rodolfo Margato e Alexandre Maluf, da XP (XPBR31), pontuam que as notícias desde a última reunião do Copom reforçam o processo desinflacionário de curto prazo. Assim, o grupo acredita que o comitê irá ajustar levemente o comunicado pós-reunião para incorporar essa melhora e, como consequência, o mercado lerá a mensagem como mais suave (dovish, no jargão em inglês).
“Isto posto, entendemos que o colegiado optará por manter a orientação futura (forward guidance) que vem sendo dada nas últimas reuniões, repetindo que ‘os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões’, destacam.
A XP avalia, ainda, que a atividade econômica vem perdendo força, mas permanece relativamente sólida, com as expectativas de inflação acima da meta. Para a casa, as taxas de juros de longo prazo nos mercados desenvolvidos recuaram nas últimas semanas, mas ainda estão consideravelmente acima dos níveis observados no primeiro semestre do ano.
“Não vemos razão para o Copom antecipar a flexibilização monetária. A autoridade monetária deve seguir argumentando que o ritmo de corte de juros de 0,50 ponto percentual por reunião é o adequado”, completam os analistas.