PIB desacelera, mas mercado esperava número pior; agropecuária cai no trimestre

No terceiro trimestre de 2023, o Produto Interno Bruto (PIB) apresentou uma variação de 0,1% em relação ao segundo tri deste ano, considerando ajuste sazonal, e um crescimento de 2,0% em comparação ao terceiro tri de 2022. Os dados foram calculados pelo Sistema de Contas Nacionais Trimestrais e divulgados nesta terça-feira (5) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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No acumulado dos últimos quatro trimestres (encerrados em setembro de 2023), o crescimento do PIB foi de 3,1% em relação aos quatro trimestres imediatamente anteriores. No que diz respeito ao acumulado do ano, houve um aumento de 3,2% em comparação com o mesmo período de 2022.

“Apesar dessa leve alta, já começa a ficar mais evidente uma desaceleração da economia brasileira, diante da dissipação do forte crescimento do agro, os efeitos cumulativos dos juros elevados, o alto endividamento das famílias, o cenário externo turbulento e a base de comparação elevada do primeiro semestre”, menciona o economista da Suno Research, Rafael Perez.

O positivo de 0,1% no PIB do terceiro trimestre, contudo, refletiu o avanço do setor de Serviços e da Indústria, de 0,6% cada.

Serviços, segundo Perez, tem sido um dos pilares de sustentação da atividade este ano. “Essa dinâmica é refletida positivamente sobre o emprego, dado que o setor é intensivo em trabalho,” relaciona.

Agropecuária cai no PIB trimestral, mas segura crescimento ante ano

Em relação ao segundo trimestre de 2023, o segmento da agropecuária no PIB viu um recuo de 3,3%.

Já em relação ao mesmo período de 2022, o crescimento do setor foi de 8,8%, destacou o IBGE. Alguns produtos que impactaram a oscilação positiva no subsetor relativos à safra relevante no terceiro trimestre foram: milho (19,5%), cana-de-açúcar (13,1%), algodão herbáceo (12,5%) e café (6,9%). Além disso, a pecuária também teve uma contribuição positiva das estimativas no período.

PIB supera expectativas, com cenário econômico ainda resiliente

O resultado do PIB ainda surpreendeu o consenso Refinitiv, que estimava uma reversão de crescimento para uma queda de 0,2% na avaliação trimestral, além de uma alta de 1,9% na anual.

Com os novos dados, o PIB retorna ao maior patamar da série histórica, além de estar 7,2% acima do visto antes da pandemia, registrado no quarto trimestre de 2019.

“Os dados nesse terceiro trimestre, mostraram uma atividade ainda bastante resiliente em alguns setores, principalmente quando olhamos para os serviços, o consumo das famílias, a indústria e as exportações,” ressalta Perez.

O economista destaca os principais fatores que impactarem o resultado do PIB no 3T23:

  • (i) a queda na inflação;
  • (ii) o mercado de trabalho aquecido;
  • (iii) expansão da massa salarial;
  • (iv) aumento das transferências sociais;
  • (v) alta do salário-mínimo.

Segundo Perez, um setor que também merece destaque pelo bom desempenho no ano foi o de exportações brasileiras, com uma alta de 3,0% no 3T23, devido à safra recorde de grãos e outros insumos agrícolas, além do aumento da produção de petróleo e a recuperação chinesa.

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Bens, serviços e investimentos no PIB brasileiro

Ao todo, os bens e serviços finais produzidos no Brasil somaram R$ 2,741 trilhões em valores correntes no trimestre (até setembro), sendo R$ 2,387 trilhões referentes ao Valor Adicionado (VA) a preços básicos e R$ 353,8 bilhões aos Impostos sobre Produtos líquidos de Subsídios. 

No terceiro trimestre de 2023, a taxa de investimento foi de 16,6% do PIB toal, uma queda ante o mesmo período de 2022 (18,3%).

Já a taxa de poupança foi de 15,7%, inferior à do terceiro trimestre do ano passado (16,3%). 

Projeções do PIB para o último trimestre de 2023

Para o economista e sócio da Matriz Capital, Vinicius Moura, o consumo das famílias no quarto trimestre de 2023 pode desacelerar, refletindo em uma possível queda na atividade econômica entre outubro e dezembro.

“Além disso, as revisões que serão divulgadas podem ter um impacto significativo nas projeções para o ano, especialmente se mostrarem mudanças substanciais nos números”, ressaltou Moura. ” A economia parece ter alguns pontos fortes, como a performance da Agropecuária e de certos setores industriais, mas também enfrenta desafios, especialmente relacionados aos investimentos.”

Para o PIB do quarto trimestre, o economista da Suno Research reafirma que a atividade deve continuar apresentando um menor crescimento, porém em um contexto de mercado de trabalho aquecido, com crescimento da massa salarial e arrefecimento da inflação, que podem “ajudar a sustentar o consumo e amenizar um resultado mais fraco.”

“Em 2024, enxergamos uma expansão mais modesta da economia brasileira, mas que deverá ser mais homogêneo entre os setores. O agro e a indústria extrativa – motores de 2023 – devem apresentar um desempenho mais moderado”, afirmou Perez.

Por outro lado, o economista ainda chama atenção para os cortes na Selic, a taxa de juros, pelo Banco Central e a melhora do mercado de crédito, que deverão impulsionar o consumo, os investimentos e a indústria.

“Neste sentido, setores mais cíclicos devem se beneficiar dos cortes da taxa Selic, principalmente a partir do segundo semestre de 2024”, analisou o economista, com otimismo mantido para o próximo PIB e queda na inflação.

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Camila Paim

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