Reservas caem para o patamar de 2016 após Banco Central vender US$ 28 bi
Com o objetivo de conter a alta da moeda norte-americana, o Banco Central (BC) já vendeu cerca de US$ 28 bilhões das reservas internacionais desde meados deste ano.
No final da primeira metade de 2019, as reservas internacionais do Banco Central estavam na sua máxima histórica, cerca de US$ 390,5 bilhões (aproximadamente R$ 1,59 bilhão na cotação atual). Na última semana, no entanto, as reservas atingiram US$ 362,5 bilhões (R$ 1,47 bilhão), o menor patamar desde maio de 2016.
A diferença de U$ 28 bilhões é proveniente das vendas de dólares pela instituição monetária central do Brasil no período de julho-dezembro e da variação dos valores dos ativos que compõem as reservas, sendo que a maior parte está alocada em títulos do Tesouro dos Estados Unidos.
Porém, o Banco Central avalia que o volume de transações não reduziu a segurança do País em relação a eventuais choques na economia de todo o mundo.
Por mais que as reservas internacionais brasileiras tenham sido consumidas nos leilões à vista de dólares realizados pelo BC desde agosto, a autoridade monetária também vendeu contratos futuros de compra da moeda estadunidense no mesmo montante (swaps cambiais).
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Ao passo que as reservas caíram US$ 28 bilhões, a posição cambial líquida, que também leva em consideração os swaps, passou de US$ 326,0 bilhões para US$ 327,3 bilhões. Dessa forma, o BC defende que esse indicador representa o verdadeiro “seguro” do Brasil contra eventuais crises.
“Existe uma interpretação equivocada de que o Brasil vendeu US$ 23 bilhões em reservas”, comentou Roberto Campos Neto, presidente do BC, em 20 de novembro durante audiência pública na Câmara dos Deputados. Na ocasião, ele voltou a colocar o conceito de posição cambial líquida como o mais importante para avaliar o tamanho do seguro.
Vendas do Banco Central divide opiniões
Alguns economistas e profissionais do mercado de câmbio entrevistados pelo jornal “O Estado de S.Paulo”, porém, fazem avaliações distintas. O economista Sidney Nehme, sócio-diretor da corretora NGO, avalia que o BC defende o conceito de posição líquida com o objetivo de evitar possíveis críticas contra a venda de reservas internacionais.
“Parece que existe certo constrangimento por parte do BC de assumir que está vendendo reservas, o que seria uma atitude natural em um momento em que você tem uma carência de moeda”, disse Nehme.
Já o economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria Integrada, disse que, ao se analisar o nível do “seguro” de um país, o mais correto é observar as reservas internacionais.
“Os swaps realmente entram neste conceito da posição líquida, mas eles em algum momento serão liquidados – e serão liquidados em reais, inclusive”, afirma o economista. “Não creio que o swap efetivamente substitua de forma precisa o papel que os dólares das reservas preenchem.”
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Silvio Campos Neto salientou que existe um debate sobre a necessidade de se manter reservas internacionais em níveis tão altos, atualmente acima dos US$ 360 bilhões. “Muitas análises e comparações convergem para a leitura de que o Brasil tinha uma posição realmente excessiva em reservas internacionais.”
“Nesse contexto, o Banco Central aproveitar o momento em que o dólar está muito volátil para reduzir as reservas me parece bastante razoável”, disse. “Não vejo problema nessa redução de reservas, até porque o nível é bastante confortável. Mas colocar os swaps como um substituto perfeito das reservas me parece algo questionável.”