EUA: Fed mantém a taxa de juros em 5,25% a 5,50%; estabilidade de preços deve ser a prioridade, diz Powell
O Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) manteve a taxa de juros dos Estados Unidos em 5,25% a 5,50% ao ano. A decisão do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, em inglês) nesta quarta-feira (20) informou que a decisão pela manutenção foi unânime no grupo e em linha com as projeções prévias do mercado.
Além disso, o Fed também manteve a taxa de juros paga sobre saldo de reserva em 5,4%, decisão que entra em vigor a partir da quinta-feira (21), e a taxa de desconto ficou inalterada em 5,50% ao ano.
“Já esperávamos essa manutenção pelos últimos discursos do presidente do Fed, Jerome Powell“, comentou André Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital. “Fica a dúvida agora quanto às duas últimas reuniões do ano, em novembro e dezembro, se irão manter ou se virá mais uma alta de +0,25%”, complementou.
Além disso, Fernandes também chama atenção para a elevação no gráfico “dot plot” do Fed, em que as projeções de juros para 2024 e 2025 estão em ascendência. “Para 2024 passou para 5,10% ante 4,60%, e para 2025 3,90% ante 3,40%, sugerindo que as taxas devem permanecer altas por um tempo maior”, disse.
Com a decisão do Fomc, houve queda no Ibovespa, enquanto que os juros futuros e o dólar reagiram em alta “refletindo o clima de aversão à risco no mercado com uma taxa de juros americana permanecendo alta por um período maior que o esperado”, de acordo com Fernandes.
Discurso de Jerome Powell após decisão do Fed
Após a divulgação da decisão do comitê monetário, o presidente do banco central americano fez seu discurso agendado sobre os novos resultados. Segundo Powell, a maior prioridade do Fed agora é restaurar a estabilidade de preços.
“Se a estabilidade de preços não for restaurada, a inflação retorna e haverá um período longo em que a economia será muito incerta, o que afeta o crescimento. Esse seria um momento muito infeliz, com a inflação constantemente voltando e o Fed precisando faz um aperto [econômico] de novo,” determinou Powell.
O presidente também comentou em seu discurso que o cenário ainda não está refletindo as restrições adotadas pelo Fed e assegurou que o consumo das famílias permanece robusto. Sendo assim, o Fed deverá “fazer de tudo para atingir a meta de inflação de 2% que atualmente está bem longe do objetivo.”
Para Fernandes, o discurso do presidente adotou um tom hawkish e deixa em aberto mais uma possível alta ainda esse ano de +0,25%. “Acredito que se vier uma nova alta de juros nos EUA, deverá ocorrer na última reunião do ano, a depender dos dados de inflação em novembro. Caso a economia ainda permaneça aquecida, o FED deve dar uma ‘última cartada’ para tentar baixar a inflação por lá, ficando em terreno ainda mais restritivo na economia americana”, analisou.
“O tom um pouco mais hawkish é um endurecimento do discurso em relação às últimas decisões, e pode ser justificado como uma forma do Fed sinalizar que a pausa de hoje não significa um fim no aperto monetário”, comenta a economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese.
A economista ainda ressalta que a postura de Powell apresenta mais conforto com a ancoragem dos dados de inflação, ao mesmo tempo que está desconfortável com a resiliência da atividade. “Se os próximos números apontarem para uma desaceleração mais consistente da atividade, podemos já ter chegado no fim do ciclo. Caso contrário, uma alta adicional ainda pode acontecer”, conclui Veronese.
Fed recua em 0,3 p.p. a mediana das projeções para taxa de desemprego
A mediana das projeções dos dirigentes do Fed para a taxa de desemprego dos Estados Unidos em 2022 caiu em 0,3 pontos percentuais (p.p.) de 4,1% para 3,8%, em comparação com a última previsão da entidade, divulgada em junho.
Tanto para 2024 quanto para 2025, as projeções para a taxa de desemprego recuaram de 4,5% para 4,1%. Para 2026, a mediana estava em 4,0%. No longo prazo, os dirigentes acreditam que a taxa de desemprego seja de 4,0%, mesmo porcentual estimado em junho.
De acordo com Powell, o mercado de trabalho segue forte, mas dá sinais de oferta e demanda se ajustando. “O presidente também afirmou que espera ver mais avanços, e que provavelmente o equilíbrio será atingido com uma taxa de desemprego não muito elevada”, ressaltou a análise da B.Side Investimentos.
Para o head de renda variável da A7, os novos números revisados indicam o Fed ainda tem muito trabalho pela frente para combater a inflação, “já que em um cenário de alto consumo das famílias e menor desemprego, a inflação deve continuar persistente,” analisou.
“Atividade econômica dos EUA está expandindo em ritmo sólido”, reforça Fomc
O Fomc do Fed, em reunião, avaliou que os indicadores mais recentes indicam positividade em ritmo sólido para a atividade econômica americana. Mesmo em um cenário de mercado de trabalho com menos fôlego nos últimos meses, a taxa de desemprego continua baixa e a inflação, elevada.
O Fomc também reforçou que o sistema bancário é sólido e resiliente, e que as condições “de crédito mais restritivas para famílias e empresas poderão pesar sobre a atividade econômica, as contratações e a inflação”.
O Comitê do Fed, em comunicado após a decisão da taxa de juros, ainda destaca que conta com o aperto cumulativo já adotado na política monetária, bem como com a defasagem de sua transmissão, para determinar a extensão do reforço aropriado para atingir a meta de médio prazo da inflação.
Com informações de Estadão Conteúdo.