Americanas (AMER3) pede suspensão de processo aberto pelo Bradesco (BBDC4)
Em petição protocolada na terça-feira (12), a Americanas (AMER3) manifestou a impossibilidade da Kroll, empresa especializada em investigações corporativas e gerenciamento de riscos, atuar como perita na ação de produção antecipada de provas movida pelo Bradesco (BBDC4) perante o Tribunal de Justiça de São Paulo.
Em comunicado à imprensa, a companhia disse que “constatou a existência de elementos que resultam em dúvidas concretas e objetivas no que diz respeito à imparcialidade e neutralidade que deveria marcar a atuação de um perito judicial”.
Entre os novos elementos apurados pela varejista, que foram descritos na petição citada acima, está a existência de uma parceria concomitante da Kroll e advogados contratados pelo Bradesco em outra demanda de relevância similar.
“A esse respeito, foi veiculada uma notícia pelo portal “Isto é Dinheiro”, datada de 29 de agosto de 2023, com indicação de que a Kroll foi a consultora técnica escolhida pelo Warde Advogados, que atuam para o Bradesco na ação contra a Americanas, para auxiliá-los no âmbito de controvérsia judicial entre os fundadores da Kabum, o Itaú BBA e a Magazine Luiza (MGLU3). Essa parceria concomitante, portanto, traz sérias dúvidas sobre a necessária imparcialidade da Kroll”, diz a Americanas.
Um outro elemento citado pela Americanas se refere à uma notícia veiculada pelo jornal ‘O Globo’, no dia 03 de setembro de 2023, sobre a contratação da Kroll por credores para atuar na recuperação judicial da varejista, concomitantemente à sua atuação como perito na ação judicial proposta pelo Bradesco. “A Americanas solicitou esclarecimentos à Kroll sobre essa contratação, uma vez que também traz dúvidas sobre a sua necessária imparcialidade para exercer a função de perita judicial”, diz a empresa.
O terceiro elemento faz referência ao tratamento parcial e não isonômico conferido pela Kroll ao representante do Bradesco, em reunião presencial realizada em 29 de agosto de 2023. Na reunião, diz a Americanas, “o assistente-técnico do Bradesco assinalou que havia “combinado” previamente com o perito que faria perguntas diretamente aos colaboradores da Americanas, sem que nada tivesse sido exposto ou avisado anteriormente à companhia. Tal situação, previamente acordada com apenas uma das partes do processo, além de incomum, também se mostra ilegal, uma vez que o perito deve conferir tratamento igualitário às partes”, pontuou a varejista.
Ainda no comunicado, a Americanas considera que é “imprescindível, sobretudo no âmbito de uma controvérsia dessa relevância, que poderá impactar, direta ou indiretamente, na vida de inúmeros funcionários, credores e acionistas, que não exista qualquer resquício de dúvida sobre a imparcialidade do perito judicial. Em razão disso, a Americanas requereu que o processo seja imediatamente suspenso até a adequada apreciação da petição”, finalizou.
‘Comando da empresa mentiu para mim’, diz ex-CEO da Americanas (AMER3)
Em depoimento à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o ex-CEO da Americanas, Miguel Gutierrez, declarou que o comando da empresa mentiu para ele sobre a sucessão do seu cargo em 2022 – posteriormente ocupado por Sérgio Rial, que revelou o rombo bilionário e a fraude na empresa e renunciou em seguida, em janeiro de 2023.
Segundo Miguel Gutierrez, a primeira sondagem de Rial se deu em um almoço em meados de março de 2022, quando o executivo era cotado para integrar o Conselho de Administração da Americanas.
Em seu depoimento, Gutierrez diz, de acordo com reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, que foi informado que Rial assumiria o posto enquanto ele ainda buscava um nome para sucedê-lo dentre os diretores estatutários.
Mais tarde, descobriu um contrato sobre Rial que garantia a ele pagamentos como consultor a partir de setembro de 2022. A rubrica da Americanas veio por parte de Eduardo Saggioro, presidente do Conselho, e Carlos Alberto Sicupira, um dos acionistas de referência – junto com Telles e Lemann – e também membro do Conselho da companhia.
“Olhei a data e era 23 de maio. Estava assinado entre o presidente do comitê de gente, o presidente do Conselho, que era o [Eduardo] Saggioro, e o Beto [Carlos Alberto Sicupira], juntamente com Rial. Ali, definia que, a partir de setembro, ele teria uma remuneração, que ele trabalharia como um consultor da companhia”, disse o ex-CEO da Americanas.
“O que me chocou é que em maio e em junho, nós estávamos num processo de seleção”, acrescentou.
Além disso, segundo Gutierrez, a partir de setembro a presença de Rial se tornou cada vez mais frequente. Rial também teria ‘desfeito negócios já engatilhados’, apesar de sempre com apoio do Conselho.
Além disso, grupos de WhatsApp teriam sido criados com presença de Rial e de diretores estatutários e sem a presença de Gutierrez.
“E é natural. Eu não reclamava disso. Aos poucos, já iam esquecendo de avisar que marcaram com ele alguma coisa”, disse.
“O Rial certamente deveria conhecer na parte de bancos que ele tinha. O Rial é uma pessoa centralizadora, então a parte contábil lá do Santander, certamente, ele conhecia”, também relatou o executivo.