Americanas (AMER3): B3 abre processo contra conselho e comitê de auditoria, diz jornal
A B3 (B3SA3) decidiu abrir um processo para analisar possíveis sanções à Americanas (AMER3) e aos membros de seu conselho de administração, auditoria e ex-diretores por falhas no sistema de risco e controle da varejista, informa o Valor Econômico.
O processo tem como objetivo analisar o funcionamento interno do comitê de auditoria para identificar riscos financeiros e operacionais.
Dependendo do resultado da investigação da B3, a Americanas pode receber sanções como multa, suspensão ou até saída compulsória do Novo Mercado — listagem de empresas de capital aberto que possuem uma boa governança.
De acordo com fontes ouvidas pelo Valor, a investigação abrange o período de atuação do comitê de auditoria da B2W em 2021 e envolve integrantes do conselho da empresa.
Americanas e regulamento da B3
No regulamento do Novo Mercado, a Americanas precisava ter divulgado anualmente um relatório resumido do comitê de auditoria e informar suas atividades trimestralmente, com produção de atas. Isso teria motivado, segundo fontes, um dos questionamentos da B3 ao comitê. A Americanas pode ter passado anos sem lavrar atas de suas reuniões.
Segundo a Americanas, o procedimento foi instaurado pela B3 em 31 de março de 2023, ainda “num cenário fático incipiente”.
“Relevante notar que o procedimento foi instaurado num momento em que não se sabia o que exatamente tinha ocorrido e qual sua dimensão. O andamento das investigações permitiu à companhia publicar o Fato Relevante de 13 de junho de 2023, reconhecendo ter sido vítima de fraude e trazendo a público provas concretas de quem foram os seus respectivos responsáveis”, informou a companhia ao Valor Econômico.
Americanas: negociações de delação premiada estão em curso, diz procurador
Em agosto, o procurador do Ministério Público Federal (MPF) José Maria Panoeiro, responsável pela investigação da fraude contábil que levou ao rombo de mais de R$ 20 bilhões da Americanas, disse que existem negociações em curso para acordos de delação premiada na condução das investigações.
Em audiência pública da Comissão de Inquérito Parlamentar (CPI) da Câmara dos Deputados que investiga o caso, Panoeiro disse que, no caso da varejista, as apurações mostram possibilidade de delito de ação criminosa, associação criminosa, falsidade ideológica e insider trading.
“Costumo dizer que, em delitos de empresas, a cadeia decisória da companhia normalmente é envolvida”, disse ele aos parlamentares.
Para ele, cargos como os de CEO, diretor presidente, diretor financeiro, diretor de controladoria e de relações com o mercado são exemplos de executivos que, pela sua experiência, teriam conhecimento de uma fraude da magnitude da Americanas.
“Ficam perguntas sobre o conhecimento e participação a acionistas de referência da Americanas”, afirmou Panoeiro.
Ele disse que, no entanto, as investigações estão em curso e que ainda não houve indiciamentos. “Mais cedo ou mais tarde algumas medidas cautelares devem ser necessárias”, afirmou.
Acrescentou ainda que acredita que o acesso a mensagens que envolvem a diretoria da companhia e o conselho de administração e processos sobre bancos têm, até agora, período de tempo limitado. A seu ver, porém, é preciso haver investigações anteriores. “A união de B2W com Americanas precisa ser investigada”, disse.
O procurador entende que, quando o rombo da Americanas veio à tona, a companhia já se preparava para trazer as informações ao público. “Já havia um cálculo”, diz. A seu ver, é preciso saber se as práticas datam de antes da fusão das duas empresas.
Companhia demitiu mais de 9 mil funcionários em oito meses
A Americanas informou ao mercado que desligou 1.448 funcionários na semana entre os dias 14 e 20 de agosto, de acordo com um documento divulgado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Desde o escândalo de rombo contábil de R$ 20 bilhões e a recuperação judicial em janeiro, a varejista contabiliza mais de 9 mil demissões.
Na semana em questão, a varejista também informou 2 desligamentos na ST Importações, incluindo os desligamentos voluntários, isto é, por iniciativa do funcionário. Até o último domingo (20), a varejista tinha 33.948 colaboradores.
“O quadro de funcionários da Americanas é sazonal por natureza, variando conforme oscilações do mercado de varejo e com picos nas épocas de datas comemorativas, como Páscoa, Black Friday e Natal. O número absoluto de desligamentos permanece em linha com os períodos anteriores à decretação da recuperação judicial”, informou a Americanas.
Entre os dias 14 e 20 de agosto, a varejista efetuou R$ 370 milhões em pagamentos e somou R$ 432 milhões em recebimentos.
Além disso, a Americanas informou que o número total de lojas somava 1.806 até o último dia 20 de agosto, correspondente a 96% do período anterior ao deferimento da recuperação judicial. “Houve o encerramento de três lojas durante a semana base deste relatório, representando 0,16% do total de lojas ativas”, disse.
Em nota enviada ao Suno Notícias, a Americanas informou que realizou o desligamento de colaboradores da Americanas diante da reestruturação de algumas frentes de negócio em seu plano de transformação.
“A Americanas continua focada na manutenção de suas operações e no aumento de sua eficiência e reforça seu comprometimento com a transparência na relação com os sindicatos e o cumprimento integral e tempestivo de suas obrigações trabalhistas, na forma da legislação vigente”, destacou.