O novo PAC e o notório déficit de infraestrutura brasileiro
Anunciado no último dia 11 de agosto, a terceira edição do PAC, Programa de Aceleração do Crescimento, prevê um total de R$ 1,7 trilhão em investimentos, sendo R$ 1,4 trilhão até 2026 e os R$ 300 bilhões restantes nos anos seguintes.
Esse valor deverá vir, predominantemente, de recursos privados (R$ 612 bilhões), mas também públicos (R$ 317 bilhões), de empresas estatais (R$ 343 bilhões, com predominância da Petrobras-PETR3,PETR4) e financiamentos – R$ 362 bilhões.
O programa é dividido em um total de nove eixos: (1) inclusão digital e conectividade, (2) saúde, (3) educação, (4) infraestrutura social e inclusiva, (5) cidades sustentáveis e resilientes, (6) água para todos, (7) transporte eficiente e sustentável, (8) transição e segurança energética, e (9) defesa, sendo que a maior quantidade de recursos irá para os eixos cidades sustentáveis e resilientes (R$ 610 bilhões), transição e segurança energética (R$ 540 bilhões) e transporte eficiente e sustentável (R$ 349 bilhões).
É justamente desses dois últimos (sobretudo a questão de transportes) que iremos tratar. O Brasil é, notoriamente, um país com enormes desafios do ponto de vista de infraestrutura, sobretudo logística e essa percepção possui aspectos financeiros que vão além do “achismo” ou da crítica sem embasamento; está visível nos prêmios pagos por ativos desses segmentos. Operações de portos, rodovias e até mesmo linhas de transmissão são verdadeiras “galinhas dos ovos de ouro”, com yelds ainda bastante elevados.
Bom para o investidor, mas um sinal claro de nossa carência por estradas, ferrovias, transmissão de energia, etc .
E aqui, voltamos ao “batido” tema do custo-Brasil no transporte. Há diversos levantamentos sobre a diferença de custo de transporte, por exemplo, da safra de grãos de Brasil e EUA – dois dos principais players globais. Mas fiquemos nos dados da CNA, que estima que esse valor seja cerca de 2,5 vezes superior. O gasto por tonelada de soja, para uma distância de 1,5 mil quilômetros, seria de US$ 48 no Brasil ante US$ 20 nos EUA. As estimativas desses valores podem variar, mas o fato é que o País sofre com um déficit de infraestrutura.
O eixo transporte, no PAC, contempla um total de R$ 185,8 bilhões para rodovias, R$ 94,2 bilhões para ferrovias, R$ 54,8 bilhões para portos, R$ 10,2 bilhões para aeroportos e R$ 4,1 bilhões para hidrovias, sendo parte desse investimento público e a outra parte, privada – é possível conferir, em detalhe, essas ações no site do próprio PAC.
O lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento carece, ainda, de informações mais detalhadas sobre a maioria das propostas. E os atores do setor privado que pretendem participar, por exemplo, via concessões, ainda terão de se debruçar sobre as perspectivas de cada projeto posto na mesa. Mas não deixa de ser positivo o fato de haver um olhar sistêmico sobre as notórias carências de infraestrutura de nosso País.