Americanas (AMER3): ex-CEO acusa acionistas de referência de participarem de gestão, diz jornal

O ex-diretor-presidente da Americanas (AMER3), Miguel Gutierrez, enviou à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara que investiga a fraude contábil na varejista uma carta em que acusa os acionistas de referência, o trio Jorge Paulo Lemann, Alberto Sicupira e Marcel Telles, de participarem ativamente da gestão financeira da empresa, segundo informações do jornal Valor Econômico.

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“Me tornei conveniente ‘bode expiatório’ para ser sacrificado em nome da proteção de figuras notórias e poderosas do capitalismo brasileiro”, diz Gutierrez em uma carta enviada por seus advogados à CPI na última sexta-feira (31) e obtida pelo Valor.

O ex-executivo também acusa seu sucessor, Sérgio Rial, de mentir à CPI quando disse que o trio de acionistas da Americanas não tinha conhecimento do que acontecia na contabilidade da empresa.

Em junho, Leonardo Coelho Pereira, atual diretor-presidente da Americanas, acusou a antiga diretoria, liderada por Gutierrez, de fraude na contabilidade, afirmou o Valor. Na época, Pereira apresentou ao colegiado cópias de documentos internos e e-mails que, segundo ele, corroboram as irregularidades, incluindo a falsificação de números para gerar suposto lucro.

De acordo com o jornal, Gutierrez está na Espanha em um tratamento médico. O executivo pediu para ser ouvido por videoconferência, mas teve a solicitação negada pela cúpula da comissão.

Outros detalhes da carta

Em um outro trecho da carta, Gutierrez pontuou que após a fusão da Americanas com a B2W, controladora do Submarino, teve papel “mais estratégico” e não atuava em todas as áreas, que tinham departamentos autônomos. “Como é notório, e como consta inclusive do famoso livro que conta a sua trajetória empresarial, o 3G [acionistas de referência] participa ativamente da gestão das empresas de seu portfólio e controla rigorosamente suas finanças”.

Para Gutierrez, os controladores estavam no conselho de administração e no comitê financeiro, pessoalmente ou por meio de pessoas diretamente ligadas a eles, inclusive parentes, diz a carta. Além disso, também participavam das reuniões por meio da sua holding LTS, “cujos funcionários, ainda que não tivessem cargos oficiais na companhia, participavam de sua gestão e de seus acompanhamentos”.

Ainda na carta, Gutierrez acusa Rial de mentir que só teve conhecimento de problemas na varejista às vésperas de assumir o cargo – ele ficou apenas nove dias na empresa, em janeiro de 2023, e pediu demissão após afirmar ter encontrado uma grave inconsistência contábil, sustentando que os acionistas de referência não tinham conhecimento.

“Com os demais diretores, o sr. Rial também realizou uma série de reuniões, das quais eu, de saída da companhia, sequer era convidado e das quais às vezes nem tomava conhecimento. Naquele período, ele tinha carta branca e se comunicava diretamente com executivos e funcionários”, afirmou.

Entre outros pontos da carta divulgada pelo Valor, o ex-executivo acusou ainda o comitê independente de auditoria contratado pela empresa de estar a serviço dos acionistas de referência e que o problema financeiro “era plenamente conhecido” pelo conselho de administração, pelo comitê financeiro e pelos acionistas controladores.

Em resposta às afirmações, a companhia e os acionistas negaram as afirmações e acusam Gutierrez de fraude. Já Rial afirmou que não comentará a carta do ex-executivo e que aguardará o desfecho final das apurações.

“A Americanas refuta veementemente as argumentações apresentadas pelo senhor Miguel Gutierrez à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na véspera da apresentação do relatório final. A companhia reitera que o ex-dirigente da Americanas não contestou em nenhum momento os documentos e fatos apresentados à Comissão no dia 13 de junho, que demonstram a sua participação na fraude”, disse a varejista em nota.

Ainda segundo a nota, “a Americanas reitera que o relatório apresentado na CPI no dia 13 de junho Comissão Parlamentar de Inquérito em 13/06, baseado em documentos levantados pelo Comitê de Investigação Independente, além de documentos complementares identificados pela administração e seus assessores jurídicos, indica que as demonstrações financeiras da companhia vinham sendo fraudadas pela diretoria anterior da Americanas, capitaneada pelo senhor Miguel Gutierrez”.

“A Americanas confia na competência de todas as autoridades envolvidas nas apurações e investigações, reforça que é a maior interessada no esclarecimento dos fatos e irá responsabilizar judicialmente todos os envolvidos” finaliza.

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Americanas (AMER3) anuncia data para divulgar balanço – o do 4T22

A Americanas anunciou no fim do mês passado quando pretende divulgar o primeiro balanço trimestral após o escândalo contábil informado pela empresa em janeiro. A data marcada para a empresa detalhar seu desempenho operacional será o próximo dia 31 de outubro. O resultado a ser publicado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), informa a varejista, será referente ao quatro trimestre de 2022, o 4T22.

A divulgação do balanço da Americanas do ultimo trimestre de 2022 foi adiada ao menos três vezes (em março, maio e agosto) desde que empresa comunicou ao mercado, em janeiro deste ano, que descobriu um rombo contábil de mais de R$ 20 bilhões. Também em janeiro, a varejista entrou em recuperação judicial, com dívidas de mais que podem chegar a quase R$ 50 bi.

No comunicado ao mercado a Americanas informa que divulgará balanços de 2021 retificados: “A auditoria das demonstrações financeiras do exercício findo em 31 de dezembro de 2022, assim como a das demonstrações financeiras a serem reapresentadas do exercício social encerrado em 31 de dezembro de 2021 (“DFs 21”), estão em andamento”.

Já os resultados do 1T23 e 2T23 da Americanas, segundo a varejista, não têm data definida de publicação – assim como o do 3T23. A empresa assinala que há uma estimativa para anunciar os balanços de 2023: até o final deste ano. “A preparação e a revisão das informações trimestrais – ITR da companhia dos períodos findos em 31 de março de 2023 (1T23) e 30 de junho de 2023 (2T23) estão sujeitas à conclusão dos trabalhos relativos às DFs 22 e DFs 21. A melhor estimativa da companhia, neste momento, é de divulgar tais informações, assim como o trimestre encerrado em 30 de setembro de 2023 (“3º ITR/23”), até 29 de dezembro de 2023″, detalha a empresa.

A Americanas conclui no Fato Relevante desta quarta: “A companhia informa que segue trabalhando junto aos credores na construção da versão definitiva de seu plano de recuperação judicial, apresentado em 20 de março de 2023 e ainda sujeito a revisões e ajustes. Nesse sentido, a divulgação das DFs 22 e DFs 21 representa um dos passos essenciais para a conclusão desse processo.”

Ex-diretores e executivos da varejista vêm depondo na CPI das Americanas, que apura o rombo bilionário da empresa.

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Giovanni Porfírio Jacomino

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