Ibovespa cai com Powell e IPCA-15; índice sobe 0,37% na semana, com alta da Petrobras (PETR4) e tombo do Pão de Açúcar (PCAR3)

O Ibovespa terminou a sessão de hoje (25) em queda de 1,02%, aos 115.837,20 pontos, em dia de IPCA-15 acima do esperado e do discurso de Jerome Powell, presidente do Fed, reiterando que o banco central dos EUA pode aumentar mais os juros. Na máxima do dia, o índice chegou aos 117.252,11 pontos, mas encerrou próximo à mínima, que foi de 115.396,62 pontos. Na semana, porém, o índice teve ganhos de 0,37%, depois de registrar 4 semanas seguidas de baixa. O volume financeiro deste pregão foi de R$ 18,7 bilhões.

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Mesmo em baixa nas duas últimas sessões da semana, o Ibovespa conseguiu acumular leve ganho no período, o primeiro desde o trecho entre 17 e 21 de julho, quando havia avançado 2,13%. De lá para cá, foram quatro perdas semanais, sequência interrompida nesta sexta-feira por ganho de 0,37% desde a última segunda-feira.

Em agosto, mês em que esteve bem mais conectado ao cenário externo do que ao doméstico, o Ibovespa cede até aqui 5,01%. Do dia 18, sexta-feira passada, para cá, o índice tem mostrado estabilização, após a série histórica de 13 perdas diárias, entre 1º e 17 de agosto, a mais longa desde o começo de 1968. Apesar de extenso, o grau da correção foi discreto, com o Ibovespa tendo recuado 5,71% no mês até o dia 17. Desde o dia seguinte, 18, em seis sessões, mostrou três altas e três baixas, com a desta sexta – mas com ajustes negativos que vinham se mantendo inferiores a 1%, por sessão. No ano, o Ibovespa sobe 5,56%.

O Ibovespa hoje se descolou das Bolsas de Nova York, que fecharam o dia em alta.

  • Dow Jone: +0,73%, aos 34.346,96 pontos;
  • S&P500: +0,67%, aos 4.405,73 pontos;
  • Nasdaq: +0,94%, aos 13.590,65 pontos.

Já a cotação do dólar à vista encerrou em queda de 0,09%, a R$ 4,8756, chegando a registrar a mínima de R$ 4,8581. Na semana, a moeda dos EUA também caiu 1,86%.

Apenas 13 ações do Ibovespa fecharam a sessão em alta hoje, com destaque para São Martinho (SMTO3), que avançou 4,02%. SLC Agrícola (SLCE3) subiu 1,89% e a Raízen (RAIZ4), 1,61%.

Nas quedas, os 3 principais destaques foram GPA (PCAR3), que tombou 7,23%, CVC (CVCB3), que caiu 6,58%, e MRV (MRVE3), com uma desvalorização de 5,58%.

A queda do Ibovespa hoje também foi apoiada por um desempenho negativo de Vale (VALE3), com -0,21%, Petrobras ON (PETR3), com -0,79%, e Petrobras PN (PETR4), com -0,68%.

Os grandes bancos também tiveram queda generalizada no dia de hoje:

  • Bradesco PN (BBDC4): -1,27%
  • Bradesco ON (BBDC3): -0,53%
  • Banco do Brasil (BBAS3): -1,30%
  • Santander ON (SANB3): 0,00%
  • Santander PN (SANB4): -0,28%
  • Itaú PN (ITUB4): -1,58%
  • Itaú ON (ITUB3): -0,90%

Maiores altas e baixas do Ibovespa hoje

Na semana, São Martinho disparou 13,17%, Petrobras subiu mais de 5% e GPA foi o grande destaque de baixa, com tombo de 28%.

Maiores altas da semana

  1. São Martinho (SMTO3): +13,71%
  2. Alpargatas (ALPA4): +5,67%
  3. Raízen (RAIZ4): +5,57%
  4. Petrobras PN (PETR4): +5,29%
  5. Eletrobras (ELET3): +5,19%

Maiores quedas da semana

  • GPA (PCAR3): -27,99%
  • CVC (CVCB3): -11,67%
  • Marfrig (MRFG3): -11,56%
  • Carrefour (CRFB3): -11,05%
  • Grupo Soma (SOMA3): -8,12%

IPCA-15 e Powell

Na agenda doméstica desta sexta-feira, os investidores tomaram nota da prévia da inflação oficial de agosto, o IPCA-15, em leitura acima do esperado, e, em menor medida, do IDP, os investimentos diretos no País, que vieram em julho no menor nível para o mês desde 2018, a US$ 4,244 bilhões, apesar da melhora, na margem, em relação a junho. A fraca leitura em comparação a julho de 2022 (US$ 7,2 bilhões) vem no momento em que se monitora de perto os efeitos, sobre a conjuntura doméstica, de um cenário externo ainda desafiador, com juros elevados nos Estados Unidos e na zona do euro e grande incerteza quanto à performance da China.

“O mercado já abriu hoje em ‘risk off’ mostrando aversão a risco, com os dados do IPCA-15, acima do esperado para o mês. Os DIs em alta já na abertura descartam agora em parte a possibilidade de 0,75 ponto porcentual de corte na Selic em dezembro, que vinha sendo especulada mesmo com o Copom tendo sinalizado, como cenário-base, três cortes de meio ponto até o fim do ano”, diz Rafael Schmidt, sócio da One Investimentos.

Na agenda externa, a atenção esteve voltada, também desde a manhã, ao aguardado discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, no simpósio anual de Jackson Hole, nos Estados Unidos. “O discurso do Powell, a meu ver, foi um pouco mais ‘hawkish’, no sentido de combate à inflação, do que os outros, mas a primeira percepção do mercado não foi essa. A princípio, a reação foi muito boa, mas depois os juros voltaram um pouco. Ele bateu muito na tecla de que o PIB está acima do potencial, e que as evidências de algum relaxamento no mercado de trabalho ainda não são o suficiente para fazer com que a inflação convirja para a meta de 2% ao ano nos EUA”, diz Helena Veronese, economista-chefe da B. Side Investimentos.

Para Marcos De Marchi, economista-chefe da Oriz Partners, o discurso de Powell foi “bem equilibrado e teve um tom muito parecido com declarações recentes”. O economista destaca “o fato de ter sido dito que os juros reais da economia, de acordo com várias estimativas, estão bem acima do nível considerado neutro”. “É um sinal de que mais altas de juros, a partir daqui, terão que acontecer em cima de dados econômicos mais fortes, especialmente aqueles relacionados ao mercado de trabalho, que seguem mostrando aumentos reais de salários e demanda robusta por mão de obra”, acrescenta De Marchi.

Segundo ele, o discurso mostrou que ainda há “muita incerteza, nesse momento, na condução da política monetária”. “Nesse sentido, as declarações sugerem que a manutenção dos juros em patamar elevado por um período prolongado é preferível a subir ainda mais a taxa básica nos EUA”, observa o economista da Oriz.

Após a fala de Powell, no fim do dia veio o pronunciamento de outra autoridade monetária muito relevante, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, que apontou que “apesar dos progressos, a luta contra a inflação ainda não está vencida”, defendendo que os juros sejam mantidos em níveis restritivos pelo tempo necessário para que a inflação convirja para a meta.

O Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira não trouxe alterações ante a pesquisa da semana passada, com o mercado demonstrando otimismo sobre o desempenho das ações no curtíssimo prazo. Entre os participantes, a previsão de alta para o Ibovespa na próxima semana manteve a fatia de 62,50%, enquanto a expectativa de estabilidade repetiu o porcentual de 37,50% da semana passada. Nenhuma das respostas indica queda.

O que movimentou o Ibovespa hoje?

Segundo Elcio Cardozo, especialista em mercado de capitais e sócio da Matriz Capital, os mercados mundiais tiveram grande volatilidade no dia de hoje (25), com as falas do presidente do Fed, Jerome Powell, no Jackson Hole, que foram mal recepcionadas pelo mercado.

Ele explica que em relação aos índices americanos, nestes momentos de aperto monetário pelos EUA, normalmente os mercados emergentes como o Brasil acabam sofrendo mais, já que os investidores buscam maior segurança nos investimentos.

Powell disse que o Fed está preparado para aumentar mais os juros dos Estados Unidos, se for necessário, já que a inflação continua alta para os parâmetros “normais” do país e que o processo deflacionário pode ser mais longo que o esperado pelo mercado.

O discurso de Powell seguiu em linha com os últimos discursos de membros do Fed e do próprio Powell, ou seja, não trouxe grandes novidades. No entanto, em todo pronunciamento, o mercado fica bastante volátil e sensível a cada discurso.

“O consenso de mercado está mantido: o Fed continuará aumentando os juros americanos até a desaceleração econômica e o controle inflacionário nos Estados Unidos”, destacou Cardozo.

No Brasil, os dados do IPCA-15, prévia da inflação oficial, acabaram surpreendendo o mercado. Os investidores estão confiantes de que o ciclo de baixa da Selic deve continuar, conforme já iniciado na última reunião do Copom.

“Na minha visão, a Selic será reduzida em mais 50bps na próxima reunião, já que a subida dos treasuries americanos, atrelado à divulgação do IPCA-15 acima do consenso de mercado, trazem incertezas para a aceleração deste processo de redução da taxa de juros no país”, explica o especialista.

Além do cenário macroeconômico, há um movimento de baixas das ações de bancos, que pode ser explicado pelo Projeto de Lei em relação ao rotativo de cartão que, segundo o relator do Projeto de Lei, deve ter um limite na taxa de juros de 100%.

Durante a tarde desta sexta-feira (25), quase todas ações do Ibovespa operavam em queda, em meio a alta dos treasuries americanos e, por consequência, dos juros futuros do Brasil.

Entre as maiores quedas do Ibovespa estão as empresas do setor de varejo e construção, como MRV (MRVE3), GPA (PCAR3), Assaí (ASAI3) e Arezzo (ARZZ3), que são papéis afetados pela alta dos juros hoje.

Entre as principais altas do Ibovespa hoje estão Jalles Machado (JALL3), SLC Agrícola (SLCE3), São Martinho (SMTO3) e Raízen (RAIZ4).

São Martinho está em uma forte tendência de alta desde março de 2023. Nos últimos 3 pregões a ação disparou mais de 10%. “Isso pode ser explicado pela oferta de açúcar no mercado internacional, após as restrições de exportação pela Índia. Com isso, empresas do setor açucareiro são beneficiadas, incluindo São Martinho, Jalles Machado, SLC e também a Raízen”, conclui Cardozo.

Último fechamento do Ibovespa

O Ibovespa encerrou a sessão de ontem (24) em queda de 0,94%, aos 117.025,60 pontos.

Com Estadão Conteúdo

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João Vitor Jacintho

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