Campos Neto: ‘Voto de Minerva foi reunião de junho, e não na de agosto’
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, cujo voto desempatou o placar da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada em agosto, a favor de um início de corte de juros mais arrojado, contou nesta terça (22), que o “voto de Minerva” já havia sido dado no encontro anterior do colegiado, realizado em junho.
Ao participar da conferência do Santander, realizada na capital paulista, Campos Neto lembrou que havia, em junho, uma divisão entre os diretores da autarquia sobre sinalizar ou não a abertura do ciclo de flexibilização monetária.
Enquanto um grupo queria manter a porta fechada a um movimento de corte na reunião seguinte, outro desejava abri-la.
Assim, contou o presidente do Banco Central, o seu “voto de Minerva” foi determinar, na ocasião, que deveria constar da ata do Copom a informação de que a posição a favor da “porta aberta” foi a predominante.
Campos Neto sobre crescimento econômico
O presidente do Banco Central disse também que, apesar da melhora das expectativas ao desempenho da economia neste ano, a tendência ao crescimento de longo prazo é mais preocupante.
Ele apontou a baixa taxa de investimento e o envelhecimento da população, ao mesmo tempo que em a produtividade tem caído ao longo do tempo, entre os fatores que levaram o mercado a reduzir de 2% para 1,8% a estimativa ao crescimento potencial do País.
“No médio prazo, temos que entender por que a produtividade é menor apesar das reformas feitas nos últimos anos”, declarou o presidente do BC.
Ao fazer comentários sobre a atividade mais recente, ele salientou a resiliência do setor de serviços ao aperto monetário e reafirmou a intenção do BC de realizar um pouso suave, o que significa trazer a inflação para baixo com o menor custo possível no emprego e no crescimento econômico.
Direcionamento do crédito
O presidente do Banco Central afirmou também que o grau de direcionamento do crédito no Brasil reduz a eficácia da política monetária. Ele voltou a dizer que o crédito direcionado gera um “entupimento” dos canais de transmissão dos juros para a economia.
“Nenhum país tem o crédito direcionado tão alto quanto o Brasil“, disse Campos Neto, durante a participação no evento do Santander.
O presidente do BC afirmou que o grau de direcionamento dos recursos no crédito faz com que a alta dos juros tenha sua eficácia reduzida para desaquecer a demanda por crédito.
“É como se a tubulação estivesse entupida.” De acordo com Campos Neto, isso faz com que os juros sejam mais altos no País.
Campos Neto também afirmou que os gastos públicos e os patamares da dívida pública do País contribuem para que as taxas de juros sejam altas.
Com Estadão Conteúdo