Neoenergia (NEOE3) vende metade dos seus ativos no Brasil por R$ 1,2 bilhão

Em uma operação de venda que se reflete em um duplo ganho para a Neoenergia (NEOE3), a elétrica de origem espanhola anunciou a venda de 50% de seus ativos de transmissão operacionais para a Warrington Investment, controlada pelo fundo de investimentos GIC, de Cingapura, por um valor estimado em R$ 1,2 bilhão.

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Além de embolsar esses recursos que vão reforçar o caixa da empresa, pelo acordo, a Neoenergia lançou as bases para a entrada de novos recursos em um futuro próximo e garantiu fôlego novo para continuar a expansão de sua carteira de projetos de transmissão nos próximos leilões.

Adicionalmente à venda, o acordo firmado nesta terça, 25, também estabeleceu que o GIC terá direito de primeira oferta em relação à potencial venda futura de 50% de participação em ativos de transmissão atualmente em construção pela Neoenergia, que somam 6.089 quilômetros de linhas.

Além disso, a Neoenergia e o GIC assinaram um contrato de desenvolvimento para a participação conjunta nos próximos leilões de transmissão no Brasil, incluindo o certame marcado para 30 de junho.

O anúncio da venda ocorreu antes do prazo inicialmente indicado pela direção da Neoenergia – até o fim de junho. Além de GIC, Itaúsa, Caisse de Dépôt et Placement de Québec (CDPQ) e Ontario Teachers analisaram os ativos.

A aquisição ainda está sujeita à aprovação prévia pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A estimativa é de que a transação deverá ser concluída no segundo semestre deste ano.

Pelo acordo, será criada uma holding para abrigar os ativos de transmissão operacionais, na qual cada empresa terá metade do capital. A gestão física dos ativos, como operação e manutenção, continuará sob responsabilidade da Neoenergia.

“Continuaremos implementando as melhores práticas de mercado e alcançando patamares de qualidade para a operação”, disse o diretor-presidente da Neoenergia, Eduardo Capelastegui, em teleconferência com analistas e investidores na manhã de ontem.

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Ele destacou que, embora esteja prevista a atuação conjunta no leilão que acontecerá em junho, nada impedirá que as sócias entrem nos certames independentemente.

“A cada leilão eles vão avaliar o interesse de entrar conjuntamente nos leilões. Não temos obrigação de ir juntos aos leilões, mas temos interesse mútuo pensando em estrutura de capital para futuros sócios”, disse.

Leilões de transmissão

O próximo leilão de transmissão deve ofertar ao mercado nove lotes que somam 6.122 km de linhas de transmissão e 400 megavolt-amperes (MVA) em capacidade de transformação de subestações. O investimento previsto para a construção desses projetos é de R$ 15,8 bilhões.

Um segundo certame também já está marcado, para 31 de outubro, com expectativa de ofertar projetos que somam R$ 19,7 bilhões. Ainda está em gestação mais um leilão até o fim do ano. O governo tem dito que pretende leiloar mais de R$ 50 bilhões em projetos de transmissão somente em 2023.

Esses certames são uma boa oportunidade para os principais nomes do setor ampliarem o portfólio de ativos.

No caso da Neoenergia, a ambição é limitada pelos elevados compromissos. A companhia se comprometeu com investimentos de R$ 25 bilhões dentro dos próximos três anos, iniciativas de crescimento orgânico em todos os seus segmentos de atuação.

“Gostamos do acordo, uma vez que pode reduzir os requisitos de capital da empresa para novos projetos greenfield (ainda no papel) de transmissão, especialmente devido à relevância dos leilões programados”, disseram os analistas do BTG Pactual João Pimentel, Gisele Gushiken e Maria Resende.

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No entanto, eles ponderaram que, considerando o apertado balanço patrimonial da empresa, os investidores podem preferir ver a companhia usando o caixa adicional para desalavancar, em vez de entrar em novos leilões de transmissão.

Segundo cálculos do BTG, com a operação, a alavancagem financeira da empresa deve cair a 0,10 ponto, para 2,96 vezes. Os analistas do banco também salientaram que o valor do negócio foi mais elevado do que as estimativas da casa, que consideravam que 50% dos empreendimentos de transmissão operacionais da Neoenergia valiam R$ 979 milhões.

Para o Credit Suisse, o valor da operação também foi mais alto do que o considerado como “justo”. O analista Rafael Nagano destacou que, com a transação, a companhia pode reduzir sua alavancagem em cerca de 0,14 vez, com a desconsolidação dos ativos.

Próximos passos da Neoenergia

Profissionais de mercado destacaram que a operação com o GIC foi mais um marco importante no plano de desinvestimentos da Neoenergia, depois da troca de ativos hidrelétricos com a Eletrobras, anunciada em dezembro passado.

Seguem na fila a venda da usina termoelétrica Termope e os 10% de participação na Norte Energia, que administra a hidrelétrica Belo Monte. Esses movimentos potencialmente propiciam desalavancagem adicional.

Durante a teleconferência, Capelastegui afirmou que a companhia está confiante de que poderá avançar com o processo de venda da fatia em Belo Monte até o fim de 2023. Ele afirmou, porém, que ainda não há nada definido em relação a uma operação para se desfazer do ativo.

A venda desse ativo é um desejo antigo da companhia, mas ainda não avançou por ser uma operação complexa, uma vez que a usina de 11.233,1 megawatts (MW) é frequentemente alvo de questionamentos de ambientalistas e do Ministério Público Federal (MPF), que conseguiu na Justiça interferir no funcionamento da hidrelétrica.

Além disso, o empreendimento tem outros sócios, como a Eletrobras e a Cemig – esta também já manifestou interesse em se desfazer de sua participação.

Com Estadão Conteúdo

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Eduardo Vargas

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