Investir em dólar: é melhor comprar BDR ou ações nos EUA?
Com o dólar ficando abaixo dos R$ 5 pela primeira vez em meses, investidores passaram a olhar com mais atenção para a viabilidade de investir uma fatia do patrimônio no exterior – ou aumentar o que já existe.
Segundo levantamento da Travelex Confidence, o dólar seguiu como a moeda mais negociada do mundo no acumulado de março, com alta de 8% no volume ante fevereiro – em parte, devido à sazonalidade do mês, que conta com recebimento de bônus/stock options.
Em um cenário em que o investidor queira dolarizar a carteira com diferentes classes de ativos, nas opções existentes na prateleira não estão somente produtos que se resumem à moeda americana ou derivados.
Ou seja, investir em dólar pode (e eventualmente deve) ser feito por meio de classes de ativo que somem a oscilação do câmbio com o seu desempenho.
Assim, um dos meios de investir no exterior pode ser comprando ações que são listadas em bolsa de valores nos EUA – o que inclui desde gigantes americanas como a Apple (AAPL34) até empresas latinas, como o Mercado Livre (MELI34), e brasileiras, a exemplo da XP (XPBR31).
Contudo, existem dois modos “principais” que o investidor pessoa física pode explorar para atrelar seu patrimônio a uma companhia listada em Wall Street.
Uma delas são os BDRs – recibos de empresas negociadas no exterior, mas que são detidas por instituições financeiras brasileiras e compradas em reais.
Desde 2020 os investidores podem adquiri-las e, apesar de fazerem isso em corretoras e bancos brasileiros e usando o real para a compra, estarão atrelando indiretamente seu patrimônio ao dólar.
Neste caso, isso ocorre porque a oscilação do dólar impacta na cotação do BDR.
Assim, o investidor pode ver cenários de grandes ganhos, com valorização do dólar ante o real e alta da ação, e eventualmente de grandes perdas, com depreciação do dólar ante o real e queda das ações – tal como com as ações nos EUA e outros ativos atrelados direta ou indiretamente ao dólar.
Vale lembrar que um risco atrelado a esse tipo de investimento é que se trata de um recibo, e não uma fatia societária de uma empresa. Nesse caso, a instituição financeira que distribui o BDR pode retirá-lo de circulação e pagar o preço de mercado pelo ativo – embora não seja algo usual.
Outro meio de se investir no exterior é comprando as ações diretamente em uma corretora americana. Nesse caso, o investidor pode ter algumas poucas complexidades a mais na hora de pagar o Imposto de Renda, mas tem vantagens ao acessar ativos.
Isso porque corretoras estrangeiras dão um acesso mais amplo a produtos financeiros, e o investidor pode acessar outros produtos além de ações – como renda fixa e fundos.
Além disso, especificamente no nicho de ações, é possível comprar ações que não possuem BDRs listados.
Ainda assim, é consenso dentre os especialistas que realizar esse tipo de movimento com a sua carteira de investimentos exige mais responsabilidade e mais comprometimento em acompanhar fatores externos, conforme explicou o professor de Finanças da FIA Business School da USP e Educador Financeiro, André Massaro, ao Suno Notícias.
“[Investir no exterior] sempre vai ser mais complexo. Apesar da facilidade e das corretoras especializadas, não é algo trivial. Tem a questão do entendimento dos mercados. O investidor passa a estar sujeito às idiossincrasias do mercado específico, sendo afetado por fatores às vezes incompreensíveis. Além disso tem questões fiscais de investimentos no exterior aqui no Brasil, dado que é algo bem nebuloso mesmo para os mais experientes”, lembra ele.
‘Investir em dólar é algo estratégico, e não especulativo’
Em se tratando de uma decisão de mandar uma parte do patrimônio líquido para o exterior, especialistas destacam que é importante deixar a cotação do dólar como um fator secundário.
“A decisão de dolarizar o patrimônio, ou parte dele, é algo estratégico. Se você fizer isso por causa do preço, está especulando. Você acha que ele está barato, e então está especulando”, comenta Sérgio Machado, gestor da NCH Capital.
Machado, aliás, reitera que é importante ter em vista ativos que são conhecidos do investidor.
“Lá [EUA] é outro mundo, é juro mais baixo, outro tipo de risco. Você pode inclusive comprar empresa brasileira lá fora; pode colocar um bond da Petrobras (PETR4) ou do Bradesco (BBDC4) na carteira. É importante, aliás, comprar o que você conhece”, explica.
Além disso, levando em consideração que a variação do dólar irá afetar parte da carteira, é importante manter a atenção na economia dos EUA e nas variáveis que afetam amoeda.
Bruno Perottoni, gerente de tesouraria do Braza Bank, destaca que nesta semana os indicadores influentes envolveram os patamares de emprego, e o dólar perdeu força não só ante o real mas também ante as demais moedas.
“Os números de seguro desemprego nos EUA vieram um pouco acima do esperado. O Fed da Filadélfia apresentou dados levemente abaixo do que imaginávamos e ainda vimos um número de vendas de casas americanas com uma redução de 2,4%, enquanto esperava-se algo em torno de 1,5%. Tudo isso fez o dólar perder valor frente a outras moedas e temos uma recuperação do euro em comparação à moeda americana. Esse movimento, com consequente valorização das commodities e das bolsas, fez com que, no Brasil, o dólar recuasse das máximas”, explica.